Especialista diz que literacia em saúde do sono melhorou, mas ainda há muita ignorância

Hoje é Dia Mundial do Sono

Miguel Meira e Cruz, diretor do Centro Europeu do Sono, considerou esta quarta-feira, 13 de Março, que a literacia em saúde do sono melhorou nos últimos anos, mas disse que ainda existe muita ignorância e falta de formação nesta área.

O responsável, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial do Sono, que se assinala na sexta-feira, disse que a resposta dos serviços públicos de saúde portugueses nesta área está «aquém do desejável» e defendeu uma maior aposta nos cuidados de saúde primários, onde a formação dos profissionais é escassa e a falta de tempo para o doente tem implicações terapêuticas.

«A formação destes profissionais ainda é escassa nesta matéria. Por outro lado, o tempo que têm por consulta, muitas vezes, mal chega para o doente abrir a boca e falar», afirmou o especialista, sublinhando que isto tem implicações terapêuticas, especificamente na insónia.

Segundo explicou, de acordo com as guidelines, deve preferir-se a terapia cognitivo-comportamental relativamente ao uso de medicamentos. No entanto, «dá menos trabalho e é mais rápido passar uma receita do que ocupar algum tempo com recomendações sistematizadas».

«A formação de especialistas na terapia cognitivo-comportamental para o sono e para a insónia (1.ª linha de tratamento na insónia primária) é muito escassa e os profissionais quase inexistentes no país», insistiu.

A terapia cognitivo-comportamental é a primeira escolha de intervenção usada no tratamento da insónia crónica e engloba uma abordagem psicoterapêutica específica focada nas causas e sintomas do problema.

Sobre o aumento de casos de perturbações do sono, disse que hoje estas questões são encaradas «como algo inequívoco», quando antigamente havia muito a tendência para as associar à idade, por exemplo, e recorda que as «horas normativas» de sono variam ao longo da vida, mas «menos do que supõem os que ignoram a ciência do sono».

«Por exemplo, aqueles velhotes que acham que é natural dormir menos porque envelheceram, podem assumir que esse facilitismo e aceitação errada pode ser bem a causa de um envelhecimento precoce ou de maiores atribulações de saúde», acrescentou, insistindo: «é certo que se dorme de forma diferente, mas o pressuposto do sono é o mesmo em qualquer idade – recuperar e sentir-se melhor depois de o fazer».

Citando um estudo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, que concluiu que cerca de metade dos portugueses tem um sono insatisfatório ou insuficiente, com 75% a dormir menos de sete horas/noite, Miguel Meira e Cruz lembra que os motivos para não se dormir podem ser diversos e não se tratam todos da mesma maneira.

«O custo [de não dormir] é alto, mesmo o de uma única noite», alertou.

A este respeito, recorda que a medicina do sono «envolve praticamente todos os órgãos e sistemas» e que, quando não dormimos, algumas funções «entram em falência».

«Algumas das disfunções associadas à restrição do sono são as cardiometabólicas», exemplificou, sublinhando o facto de serem a primeira causa de morte em grande parte do globo, «evitável e com custos diretos e indiretos, individuais e coletivos».

Disse ainda que a restrição do sono está também relacionada com a memória, a atenção, a aprendizagem, alterações imunitárias e inclusivamente com o cancro.

O especialista defende igualmente que, nos problemas do sono, «um mal raramente vem só», pois a comorbilidade (ter várias doenças) «é altamente prevalente», seja de outras doenças do sono (insónia + apneia), seja a coexistência de doenças do sono com doenças psiquiátricas como a ansiedade ou a depressão.

 



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