Saul Rosa/PAN : «é urgente quebrarmos o ciclo ininterrupto de políticas irresponsáveis» sobre alterações climáticas

As mesmas questões foram enviadas, atempadamente, a todos os 15 primeiros candidatos, abrangendo os principais temas em foco no Algarve.

Saúl Rosa, cabeça-de-lista do PAN no Algarve – Foto: Cátia Rodrigues | Sul Informação

Saul Rosa, 34 anos, nascido e residente em Vila Real de Santo António, é CEO numa empresa hoteleira no Algarve, mas mantém viva a chama da sua paixão pela música, que também estudou, em especial pelo trompete. É membro da comissão política nacional do partido Pessoas Animais Natureza (PAN) e cabeça-de-lista deste partido às Eleições Legislativas de 10 de Março, pelo círculo do Algarve.

Agora que já está a decorrer a campanha eleitoral, o Sul Informação começa hoje a publicação de entrevistas com os cabeças-de-lista dos 15 partidos ou coligações que se candidatam às Eleições Legislativas do próximo mês.

As entrevistas serão publicadas à medida que as respostas forem chegando à nossa redação.

 

Sul Informação – Quais são as prioridades da sua força política na próxima legislatura para o Algarve?

Saúl Rosa – As nossas prioridades passam, em primeiro lugar, por pugnar por medidas de conservação do nosso património natural e da sua biodiversidade, implementar políticas de mitigação às consequências adversas das alterações climáticas e procurar alternativas económicas à massificação do turismo e das monoculturas super intensivas, como o turismo de valorização ambiental, incentivos aos agricultores de produção biológica e regenerativa na região, assim como fomentar a criação de empregos digitais e no setor das energias renováveis.
Defendemos ainda como prioridades criar uma linha de cooperação direta entre profissionais de saúde e utentes, para que se possam implementar melhorias graduais no SNS na região e no país, como a criação de mais oferta formativa, e a criação de formas de retenção dos profissionais de saúde nas zonas onde mais falta fazem.
Outra prioridade é a criação do chamado “pacto da água”, para que todas as medidas sustentáveis estudadas para melhoria da gestão hídrica na região sejam aplicadas, salvaguardando famílias, pequenas e médias empresas, e o ambiente.
Finalmente, é nossa prioridade incentivar e proteger o trabalho das associações zoófilas para que as medidas legislativas de bem-estar animal sejam aplicadas localmente, e pugnar por CROAs e programas CED em todos os concelhos do distrito, através do financiamento do Orçamento de Estado.

SI – O que o levou a aceitar ser cabeça de lista pelo PAN?

SR – Sou Algarvio, nascido e criado em Vila Real de Santo António, e já há anos que me deixa triste e um pouco revoltado a forma como os sucessivos governos têm olhado para a nossa região.
Somos um distrito que, por vezes, parece que apenas serve para se passar férias, para se investir na massificação do turismo, e somos campeões na criação de campos de golfe e de monoculturas super intensivas, grandes consumidoras de água.
Ao nível de habitação, não temos oferta que acompanhe as necessidades da região, os transportes públicos e a sua intermodalidade são uma ilusão, as ofertas laborais são, na maior parte, para emprego precário.
Os nossos profissionais de saúde batalham para que os utentes do Algarve tenham acesso à saúde de uma forma digna, mas são esquecidos pelo governo e ainda são considerados vilões por reivindicarem melhores salários e estratégias que envolvam habitação e transporte para poderem executar o seu trabalho e poderem ser retidos por cá.
Temos que pressionar o governo e os decisores políticos para impedirmos a destruição sucessiva de fauna e flora.
Quero um futuro condigno para mim, para os meus conterrâneos e conterrâneas e para a futuras gerações, e foram as soluções que o PAN sempre defendeu para todos estes problemas, bem como a forma pragmática como o nosso partido defende as pessoas, os animais e a natureza, que me fizeram ser candidato pelo PAN.
Acredito profundamente que, se vivêssemos pelos modelos que o PAN preconiza para a sociedade, a nossa nação não estaria no estado em que está.

SI – Quais são as expetativas e objetivos da sua força política em relação a estas Eleições Legislativas?

SR – Queremos eleger um deputado, É importante termos um representante do PAN pelo círculo do Algarve na Assembleia da República, para defender a nossa região.
Somos uma das zonas mais fustigadas pelas alterações climáticas e é urgente quebrarmos o ciclo ininterrupto de políticas irresponsáveis nessa e noutras matérias para a nossa região.

SI – O que falta fazer no Algarve?

SR – Criar uma rede de transportes eficaz, que não esqueça nenhuma parte do Algarve, ampliando o traçado da ferrovia, desde Espanha até Vila do Bispo, e com uma conexão assertiva para o Alentejo e Lisboa, assegurando a coesão territorial com intermodalidade rodoviária no barrocal algarvio.
Faz falta aumentarmos o número de profissionais de saúde, termos um hospital central e termos medidas eficazes para a retenção de profissionais de saúde na região.
Faz falta aumentarmos o parque da habitação pública e aumentar a oferta da habitação, através de medidas concisas (que o PAN tem no seu programa eleitoral).
Faz falta proteger mais o nosso ambiente e ecossistemas.
Faz falta tomar medidas eficazes para evitar o uso dos nossos recursos de forma desenfreada, sem se ser responsabilizado por isso.
Faz falta ouvir a nossa sociedade académica, os nossos movimentos cívicos, as nossas associações.
Faz falta ampliar a nossa oferta formativa na região.
Enfim, seria mais fácil dizer o que não falta fazer no Algarve…

SI – A seca e a falta de água são temas prementes no Algarve. Que soluções defende, no curto prazo, sabendo-se que a água atualmente disponível só chega até Agosto? E no médio e longo prazo?

SR – Não há uma bala de prata para mudar a situação hídrica da região, amanhã.
As medidas serão a médio e longo prazo, devido à duração de tempo durante o qual os decisores políticos ignoraram este problema. Quem disser o contrário segue uma narrativa de demagogia pura.
O PAN e as associações ambientalistas, bem como a nossa sociedade académica na região, têm tentado sensibilizar os nossos decisores políticos para as medidas que podem colmatar a má gestão hídrica na região.
O PAN, no seu programa, tem medidas que preveem soluções para mitigar este flagelo.
No entanto, continua a ampliar-se zonas de rega para as monoculturas intensivas, campos de golfe, como se pode encontrar em consultas públicas.
É uma questão de bom senso, nem sequer é política.
As soluções megalómanas, como o modelo de dessalinização previsto na região, além de não resolverem os problemas da falta de água, terão impactos nefastos para a biodiversidade local.
A barragem da Foupana, de cerca de 75 milhões de euros, se for contruída ficará tão vazia como as restantes, e servirá apenas aos interesses das monoculturas intensivas, enquanto os agricultores de pequena e média produção são esquecidos.
É urgente aplicar medidas coesas, como o uso de águas residuais para os campos de golfe e para a agricultura.
É imperativo criar coletores de pluviosidade nos edifícios, bem como reduzir as perdas de 30% nos sistemas de consumo urbano.
Estas soluções já deveriam estar em andamento.

SI – A Saúde é um setor muito deficitário no Algarve e no país. Que medidas preconiza para resolver os problemas da Saúde no Algarve?

SR – As medidas para resolver os problemas da saúde partem pela seguinte perspetiva: é necessário garantir bolsas habitacionais aos nossos profissionais de saúde, de forma a retê-los por cá.
O acesso a transportes condignos também é uma medida que irá ajudar no setor da saúde, porque tudo está interligado. A falta de recursos humanos na saúde é um problema do foro social e não apenas da gestão das unidades de saúde.
Existem também medidas a nível nacional, como o aumento de salários e o regime de exclusividade voluntário, que certamente, se forem implementadas, irão ajudar a resolver o problema.
A nível depois da gestão, também é preciso arranjar medidas para antecipar a sobrelotação das nossas unidades em períodos altos de sazonalidade.
Já temos oferta formativa também, então os nossos estudantes têm que ter garantias para que se mantenham por cá e se tornem nos nossos futuros profissionais de saúde.

SI – E quanto ao Hospital Central do Algarve? O que deve ser feito?

SR – É necessário construí-lo de uma vez por todas, pois entendemos que as instalações das nossas unidades devem ser modernizadas e isso é difícil acontecer se não tivermos mais unidades operacionais.
É preciso facilitar o trabalho da nova Unidade Local de Saúde. Já temos duas pedras de iniciação dos trabalhos de construção do Hospital. Isto demonstra um total desprezo pela saúde dos algarvios e algarvias.

SI – O Centro Hospitalar Universitário do Algarve e a Administração Regional de Saúde juntaram-se, a partir de 1 de Janeiro, num único organismo, a Unidade Local de Saúde do Algarve. O que pensa desta alteração e que expetativas tem para o seu futuro?

SR – Quando me reuni com esta nova administração, juntamente com a nossa porta-voz Inês de Sousa Real, no dia 31 de Janeiro, deparei-me com um conjunto de pessoas que têm uma vontade genuína de dar respostas aos problemas dos nossos utentes.
Tenho a certeza de que servirão a saúde na região de uma forma exemplar.
É preciso dar-lhes os recursos e as ferramentas necessárias para que o seu trabalho se reflita em melhores cuidados primários, em menores listas de espera, melhores triagens e diagnósticos, assim como os tratamentos e cirurgias a realizar na região.
Acredito que, no futuro, exista um maior trabalho na saúde preventiva também.

 

Saúl Rosa, cabeça-de-lista do PAN no Algarve

 

SI – O anterior Governo, agora apenas em gestão, transformou as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional em Institutos Públicos, agregando novas funções (como a Agricultura e Pescas, bem como a Cultura). O que pensa desta alteração e que expetativas tem para o seu futuro? Trata-se de um primeiro passo para a Regionalização?

SR – Acredito que sim, que se trate de um passo para a regionalização, mas, na minha perspetiva, seria mais importante abordar o tema da regionalização com a sociedade civil algarvia e com os restantes distritos onde o tema é debatido, para que soubéssemos qual o caminho a seguir e os seus moldes, ao invés de delegar gradualmente a gestão de setores à CCDR.

SI – É a favor ou contra a Regionalização? Porquê?

SR – Acredito que os moldes do processo inerente à regionalização devem ser bem analisados antes de se ter uma perspetiva definitiva.
Pessoalmente, sou favorável a que o Algarve tenha mais autonomia, naturalmente, e acho que a opinião dos cidadãos e cidadãs sobre este assunto deveria ser ouvida, através de um referendo.
No entanto, não gostaria que a regionalização se traduzisse apenas numa carta-branca administrativa para que a CCDR, ou entidade semelhante, gerissem a região por decreto, e sem ouvir os seus cidadãos e cidadãs, como, infelizmente, acredito que tem acontecido nos últimos anos.
Sou, portanto, cauteloso quanto à regionalização, porque, para ter uma perspetiva sobre o assunto, é preciso que nos seja apresentado um plano, e quais os custos também desses planos.
Pois, se existir uma regionalização no continente, temos que antever que, no mínimo, existirão oito processos de regionalização, isto baseando-me nos planos do referendo de 1998.

SI – A integração das antigas Direções Regionais de Cultura e de Agricultura e Pescas na CCDR terá ou não efeitos benéficos para estes setores?

SR – Acredito que a integração dos setores na CCDR pode descomplicar a gestão pública, mas a CCDR precisa de se aproximar dos cidadãos e cidadãs para que as decisões reflitam as suas necessidades.
Uma coordenação multinível com a AMAL, na gestão dos setores agregados, pode trazer benefícios, como maior participação dos municípios e um maior conhecimento das necessidades locais.

SI – Que soluções preconiza para as portagens na Via do Infante?

SR – Numa franca ausência de respostas a nível dos transportes na região, é natural que as pessoas usem os seus veículos.
Além disso, as portagens não são impulsionadoras do povoamento no interior, como é o caso do Barrocal Algarvio.
A solução é simples: abolir de uma vez por todas as portagens da Via do Infante.
Neste início de campanha, as pessoas não podem esquecer-se de algo: o Partido Socialista anda a propagandear o fim das portagens na Via do Infante, mas é o próprio Partido Socialista que as têm mantido.
Não se iludam! O PS e o PSD (em formato agora de AD) já têm um histórico de mil e uma promessas que fazem nas campanhas e não cumprem depois na sua maior parte, se é que cumprem alguma.

SI – E para a conclusão das obras na EN125, de Olhão a Vila Real de Santo António?

SR – Como utente frequente deste troço, por residir no Sotavento, sei bem o que é ter que conduzir nesta estrada.
Muitas famílias já perderam demasiados entes queridos na EN 125!
Preconizamos a conclusão da requalificação de forma urgente, sejam quais forem os obstáculos.
Por esta razão, é também importante termos um deputado PAN da região a defender os interesses do Algarve na Assembleia da República, caso contrário continuaremos sem requalificar uma das estradas mais mortíferas do país.

SI – Um dos grandes problemas do Algarve é o da mobilidade. Estão a ser feitas obras para a eletrificação da Linha do Algarve, prevê-se a criação do Metrobus e fala-se de uma eventual ligação por TGV entre Faro e Huelva/Sevilha. Qual a sua opinião sobre estas questões e que soluções defende?

SR – É importante ter um sistema eficiente de transportes na região. Além disso, urge apostar na mobilidade suave. Os nossos alunos e alunas pagam por passes todos os meses e, por vezes, nem sequer têm forma de apanhar transportes perto das suas áreas de residência.
Acho vergonhoso que os nossos adolescentes tenham que pagar para ter acesso a transportes, que, ainda por cima, não correspondem às suas necessidades, principalmente os que estão longe das suas escolas e faculdades. O mesmo para os nossos trabalhadores.
No barrocal, então, nem sequer está prevista coesão territorial a nível da mobilidade.
Nos centros urbanos, não há ciclovias para a mobilidade suave.
Estou de acordo quanto à alta velocidade Espanha/Portugal, e talvez ainda viva o suficiente para ver um TGV Faro-Madrid, mas, para isso, seria necessário acabar com o bipartidarismo em Portugal.
É preciso aumentar os troços da nossa ferrovia, assegurar a intermodalidade rodoviária onde o comboio não chega, e ter um passe intermodal único, pugnando pela sua eventual gratuitidade às gerações mais novas, obtendo a receita, para isso, das taxas aos maiores poluidores e de quem mais lucra.

SI – O presidente da Região de Turismo do Algarve queixou-se de que o orçamento deste organismo é curto e não é aumentado há largos anos. O que preconiza para este setor, na região algarvia?

SR – É importante transitarmos para um modelo de turismo sustentável que não passe pela sua massificação.
É preciso ter assente modelos de turismo baseados na valorização ambiental e em qualidade, ao invés de quantidade.
Acho que os orçamentos e os investimentos devem passar por aí.
Alguns problemas relacionados com a gestão hídrica e a especulação imobiliária advêm do forte investimento no turismo.
Em 2023, o Algarve provou que o investimento em turismo não se resume apenas a verbas. Mesmo sem alterações orçamentais, a região registou um aumento de 6,4% nas dormidas e atingiu a incrível marca de 1,5 mil milhões de euros em receitas.
Oxalá que, no futuro, isto se reverta em melhores condições laborais para quem trabalha neste setor.

SI – No atual Governo, o Turismo partilha uma secretaria de Estado com o Comércio e Serviços? Considera que é suficiente? Ou um futuro Governo deveria dar mais importância ao Turismo? De que forma?

SR – O foco no turismo tem desviado a atenção para as causas sociais no país, tendo sido, algumas delas, criadas pela própria atividade turística, portanto acredito que o gabinete ministerial que engloba o turismo estará a dar a sua devida atenção a este setor.

SI – No caso de questões mais fraturantes, votará na AR de acordo com a sua convicção, mesmo que vá contra as orientações do seu partido?

SR – As minhas convicções são convicções PAN e defenderei sempre a opinião do coletivo.
É um trabalho de equipa que engloba causas maiores do que opiniões e convicções pessoais.
Faço parte de um grupo de pessoas com um genuíno interesse em melhorar o país e o meu trabalho deverá refletir-se num enorme respeito por essas pessoas, porque sei que elas pensam nos nossos cidadãos e cidadãs, no bem-estar animal, na proteção da natureza, e é isso que interessa: as nossas causas, e a nossa dedicação aos nossos cidadãos e cidadãs.

SI – Considera que seria útil alterar a lei eleitoral, para criar círculos uninominais e parciais e um círculo nacional de compensação, e assim aproximar mais os deputados dos cidadãos? Porquê ou porque não?

SR – Na minha perspetiva, que converge com a do partido, penso que deveríamos manter o ciclo plurinominal, mas com um círculo nacional de compensação.
Vimos essa realidade recentemente nos Açores, por exemplo, e é um sistema muito mais justo para os votos das pessoas que não se sentem representadas pelos maiores partidos.
Por uma questão de justiça eleitoral, deveríamos ter um círculo plurinominal, com um círculo de compensação nacional inerente, que permitisse diminuir as desigualdades dos distritos no que toca à eleição dos seus deputados.
O essencial aqui, independentemente de se mais tarde decidimos optar por um sistema uninominal ou manter o atual, é o círculo de compensação nacional.

SI – Quer acrescentar mais algum tema ou questão?

SR – Sim, gostaria de deixar aqui um apelo aos nossos jovens: esta geração de jovens é a mais qualificada de sempre, e, não tenho a menor dúvida, de que os jovens interessados na política votarão de uma forma bastante consciente.
Aos jovens que não se têm sentido representados na rotina política, devo deixar-vos a seguinte mensagem: foi por estar afastado da política nos meus tempos de juventude inicial (por não me sentir devidamente representado), que decidi agora reverter essa minha atitude, para que, da minha parte, possa contribuir com alguma coisa, e deixo-vos o apelo a que façam o mesmo.
Envolvam-se na política, como é vosso direito, informem-se e questionem os decisores políticos.
Revertam as abstenções dos últimos anos eleitorais e defendam o vosso futuro.
Estarei perto de todos e todas vós que desejarem conhecer-me ou quiserem envolver-se no nosso trabalho.
Dêem-nos força no dia 10 de Março para mudarmos o paradigma político atual.

 

 

 

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