Para que não se diga: «A Serra de Monchique está a arder!!!»

O Cronista Acidental foi voluntário e conta aqui a experiência

«A Serra de Monchique está a arder!!!» Quantos vezes ouvi e disse esta frase… sem poder fazer nada. Não sou bombeiro, não pertenço à proteção civil, sou um simples cidadão, mas dói-me a alma sempre que vejo a serra em chamas.

Sem poder fazer nada… até ler uma notícia, aqui no Sul Informação, dizendo que a Câmara de Monchique procurava voluntários para uma ação de plantação de árvores. Ora aqui estava uma coisa que um reformado “sem nada para fazer” pode fazer… se quiser (e puder).

Inscrevi-me e, este sábado, dia 27, lá estava eu às 10 da manhã, uma hora perfeitamente tolerável, na Cruz da Fóia, no lado norte da serra, devidamente equipado conforme solicitado: roupa velha (mas aceitável), chapéu, luvas e uma enxada* que tinha pertencido ao meu sogro.

E assim, cerca de vinte pessoas, desde miúdos a velhos (eu!) devidamente enquadrados por Sapadores Florestais e pessoal da Câmara, lá nos reunimos no terreno onde nos explicaram ao que íamos: tentar recriar a floresta laurissilva que existia antes de cortarem as árvores para fazer caravelas, antes do pastoreio intensivo e da desgraça dos fogos.

A história foi interessante e ficámos com um pafleto que ajudava a perceber a coisa.

 

 

A propósito dos fogos, toda aquela área tinha ardido no incêndio de 2018 e a replantação era para ser no final do ano, mas não chovia. Agora choveu alguma coisa, mas não sabemos como vai ser o futuro – ou sabemos: vai haver cada vez menos chuva, vamos ter cada vez menos água, mas isso são contas doutro rosário.

Na prática, íamos plantar medronheiros, carvalhos, sobreiros e outras árvores que eu não conhecia, mas que me pareceram umas boas árvores.

Para os mais esquecidos, havia uma reserva de enxadas, luvas e águas, coisas que dão sempre jeito neste tipo de atividades.

O terreno a replantar pertence à Câmara, está devidamente vedado e já tinha sido objeto de uma plantação anterior – só que a malta dos bois e das vacas arranjou maneira de furar o esquema e conseguir pôr lá os animais a pastar, que pisaram as pequenas árvores e estragaram muito do trabalho feito. Como é óbvio, os bois e as vacas não têm culpa, mas os mesmo não se pode dizer dos… coisos.

Os voluntários eram um grupo muito heterogéneo, composto por algarvios, portugueses, estrangeiros, homens, mulheres, crianças, novos, velhos, famílias, gente que se via que não percebia nada daquilo (como eu), gente batida no trabalho da terra, todos equipados com sachos, enxadas, ancinhos, alguns com sinais de uso, outros com ferramentas novinhas ainda com as etiquetas, mas todos, todos, com vontade de cavar, i.e. abrir um buraco com mais ou menos 20 cm, colocar a árvore, a proteção (aqueles tubos verdes que servem para proteger e amparar a planta) repor terra, calcar q.b. à roda fazendo uma caldeira (como veem, aprendi uns termos técnicos) – e vamos à seguinte.

Não sei quantas árvores plantei, mas isso não interessa. O que interessa é que, mal ou bem (espero que bem), fiz a minha parte. Daqui a uns cinquenta anos ficarei feliz se as “minhas árvores” tiverem vingado e eu ter dado o meu pequeno contributo para que a serra de Monchique esteja mais feliz. E que alguém que passe por lá diga “está-se bem aqui, nesta mata”.

Voltando ao princípio deste texto, afinal sempre podemos fazer alguma coisa!!!

 

Autor: O (feliz voluntário) Cronista Acidental

 

*Agora falo eu, a enxada! Estava eu abandonada à minha triste sorte num canto da garagem, quando vejo um senhor chegar ao pé de mim, olhar com ar suspeito, pegar em mim e levar-me.
Viu que eu não estava bem agarrada ao cabo, foi buscar um martelo e enfiou umas escápulas de modo a que eu ficasse bem firme e meteu-me num veículo.
Uns dias depois apanhou-me e, de repente, estava na minha querida Serra de Monchique.
Vocês não fazem ideia da minha alegria pois havia muitos anos que eu não a via.
Já tinha sido muito usada para plantar batatas, abrir regos, amanhar a terra, mas isso tinha sido há muito tempo e, agora já mais velha, com o cabo meio torto e um bocado enferrujada, lá estava novamente a cavar.
Fiquei orgulhosa quando o senhor que me estava a usar ouviu outro a dizer: “Essa enxada não é boa, temos aqui umas melhores” e ele respondeu: “Desculpe lá mas eu vou usar esta. Era do meu sogro, que também era de Monchique e trabalhou muito com ela aqui na serra”.
Fiquei feliz.

 

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub