Inteligência Artificial: em vez de inovar, a Europa prefere regular

“Os Estados Unidos vão continuar a inovar, a China vai continuar a copiar e a Europa vai continuar a regular”

O investigador António Branco, docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, criticou hoje a falta de empenho da União Europeia nas novas tecnologias de Inteligência Artificial (IA), preferindo optar apenas por soluções de regulação.

“Nós precisamos de ser agentes destas tecnologias, deste movimento civilizacional de transformação” e “não apenas os fulanos que dizem ‘nós somos muito ricos, temos muito dinheiro para gastar e portanto, agora vocês vendem-nos aquilo que nós determinamos’”, afirmou, em entrevista à Lusa, António Branco, comentando a falta de investimento nesta área.

“Os Estados Unidos vão continuar a inovar, a China vai continuar a copiar e a Europa vai continuar a regular”, disse o coordenador do primeiro grande modelo de Inteligência Artificial generativa para a língua portuguesa.

“Neste momento, já não há maneira de tapar o sol com a peneira, a Europa está para trás completamente. Sem nenhuma dúvida, está na segunda divisão da investigação avançada sobre a inteligência artificial”, afirmou o investigador, que aponta a divisão dos países e dos núcleos de investigação como a grande razão.

Assiste-se a “uma indecisão por parte dos governos” e “ainda não vemos medidas assertivas e substanciais que eu acho que deveriam estar a acontecer”, preferindo apenas “esperar que apareçam uma espécie de pequenas OpenAI cá na Europa”, numa referência à empresa norte-americana que gere o ChatGPT.

Mas, “como em tudo na vida, não basta despejar dinheiro, o dinheiro tem de ser bem organizado”, e, “neste momento, a Europa nem sequer a tentar organizar está”. A “minha sensação é que a Europa está espartilhada por imensas associações e a Comissão Europeia está tolhida por esse jogo entre as diferentes associações”, explicou.

Por outro lado, “culturalmente também está feliz com o seu papel de aparecer como o anjo vingador” que irá fazer “uma legislação e uma regulação” do setor, para que possam aceder ao mercado de consumidores europeus.

Ora “regular o que os outros fazem no nosso quintal? Está bem, mas o mundo é tão grande”, comentou António Branco, que critica a falta de vontade política da UE.

Sobre o futuro próximo, António Branco espera que a IA reforce a sua integração “em produtos de grande consumo”, seja no trabalho ou nas ferramentas de produtividade.

“Do ponto de vista do avanço tecnológico, vamos continuar a ser surpreendidos é na multimodalidade, no processamento combinado, de linguagem, de imagem e de sons”, sublinhou o especialista em IA.

“Hoje em dia nós já conseguimos gerar uma imagem através de uma descrição e isso vai começar a acontecer também nos vídeos: a gente dá uma descrição e ele gera um vídeo, que corresponde a essa descrição e vice-versa”, exemplificou.

Será também possível “editar imagens e vídeos só de conversa”, reduzindo ou resumindo conteúdo em texto mas também noutras plataformas, acrescentou.

 



Comentários

pub