Oásis de nidificação ajudaram a aumentar sucesso reprodutivo de aves na Ria Formosa

Vita Nativa apresentou os resultados do projeto

Projeto Bio-Ilhas – Foto: Associação Vita Nativa

Uma taxa de sucesso reprodutivo de 90%, quando, nos locais à volta, «não passou dos 30%, nos melhores casos», a anilhagem de centenas de aves e muita educação ambiental, incluindo a edição de um livro com esse fim, são algumas das conquistas do projeto Bio-ilhas, cujos resultados foram apresentados em Olhão.

Este projeto, promovido pela associação algarvia Vita Nativa, com financiamento da Associação Viridia – Conservation in action, visou criar locais de nidificação seguros para as muitas espécies de aves que escolhem a Ria Formosa para se reproduzir.

Em causa, estão espécies de aves que «normalmente nidificariam em praias, nas dunas», mas que acabam por «procurar zonas mais interiores», devido à grande pressão humana que se faz sentir junto ao litoral, que tem início «precisamente na altura em que começa também a nidificação destas ave», explicou ao Sul Informação Ricardo Correia, um dos elementos da equipa técnica do Bio-ilhas.

Entre Faro e Olhão, as aves «procuram zonas adjacentes à Ria Formosa», porque esta «acaba por encher demasiado nas marés muito altas e também não é o sítio mais apropriado, salvo algumas exceções. Mas a grande maioria não é, porque fica ocasionalmente submersa».

Dessa forma, a escolha para nidificar recai «nas salinas e suas imediações, bem como zonas de sapal, mas sapal mais alto».

«O que acontece é que as pessoas também começam a pressionar cada vez mais esses sítios, quer através dos passeios, quer porque vão passear os cães e os soltam. Temos também grupos de gatos assilvestrados que andam livremente pelas salinas e acabam por danificar os ninhos e os ovos e até apanhar as crias», resumiu Ricardo.

 

Ricardo Correia – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Com o Bio-ilhas, a equipa da Vita Nativa criou oásis para a nidificação.

«Criámos zonas limitadas, não acessíveis nem pelas pessoas, nem pelos gatos, nem por qualquer animal terrestre. Falo de ilhas ou combros – que, na realidade, acabam por ser ilhas também -, com o aproveitamento de alguns muros que separam os tanques das salinas. Fazemos isto em salinas tradicionais, porque é muito importante que os níveis de água sejam mantidos e, portanto, que a salina esteja em funcionamento», de modo a replicar as condições ideais de nidificação.

«E as aves consideram aquilo um paraíso, porque não têm predação, a não ser por via aérea, que é a predação natural. Deixam de ter esta pressão artificial», acrescentou Ricardo Correia.

Ao todo, foram criadas nove estruturas, nomeadamente quatro ilhas-combro, uma ilha em paliçada e quatro ilhas flutuantes, em salinas e na antiga lagoa de uma ETAR entre Faro e Olhão.

Mais do que criar as ilhas e combros, isolando-os de pressões não naturais, a equipa da Vita Nativa fez um extenso trabalho de monitorização.

«Tínhamos uma lista de espécies-alvo prioritárias e uma lista de espécies-alvo secundárias. Nós fizemos contagens antes e depois da implementação das ilhas, em locais de controlo e em locais onde foram colocadas as ilhas», explicou.

E, quer no caso do grupo das principais, quer no caso do grupo das aves secundárias, houve «um acréscimo nos números».

Isso, «só por si, já seria positivo, porque é sinal de que as aves encontraram ali um local de refúgio», mas o sucesso não se ficou por aqui, uma vez que foram «encontrados muitos ninhos», mais precisamente 109.

«E o principal resultado é que o sucesso destes ninhos, em termos de saírem de lá crias, foi maior do que 90%, enquanto, nos outros sítios à volta, onde também fizemos a contagem e seguimos os ninhos, não chegou nunca aos 30%, nos locais melhores».

 

Projeto Bio-Ilhas – Foto: Associação Vita Nativa

 

Estes resultados são ainda mais importantes tendo em conta que há algumas espécies que têm um estatuto vulnerável e em «declínio acentuado». Um exemplo é o do borrelho-de-coleira-interrompida, «que está a sofrer uma pressão muito grande na Península Ibérica toda» e passou a ter o estatuto de vulnerável.

Nas observações, feitas em 83 dias distintos, foram registadas 64 espécies diferentes e cerca de 380 mil indivíduos. A equipa da Vita Nativa fez ainda o seguimento de 245 ninhos, durante a época de reprodução de 2022.

Igualmente no âmbito deste projeto, foram realizadas nove sessões de anilhagem, onde foram anilhadas 465 aves de 20 espécies distintas.

Nos ninhos, foram colocadas anilhas em 65 crias e registaram-se, posteriormente, 15 avistamentos destas aves.

O Bio-ilhas também teve uma componente de educação ambiental, cujo resultado mais visível é o livro infantil “Pompons com pernas e crianças curiosas”, lançado no mesmo dia em que os resultados do projeto foram apresentados.

Foram realizadas 28 ações com escolas e abrangidos 676 alunos, colocados quatro painéis informativos permanentes e registados 6000 visitantes no percurso marcado nas salinas do Grelha, um dos locais onde foram criadas ilhas.

 

 

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