Culatra terá fundeadouro a pensar na biodiversidade e na sustentabilidade

Projeto tem financiamento de meio milhão de euros garantido pelo Fundo Ambiental

Foto: Mariana Carriço|Sul Informação

O sonho tem 20 anos e parece só ter vantagens, tanto para o ambiente e sustentabilidade, como para a segurança na Ria Formosa, mas só agora foram criadas as condições para construir um fundeadouro frente ao núcleo piscatório da Culatra, cuja instalação deverá estar concluída, se tudo correr bem, até final de 2024.

O protocolo para o financiamento dos estudos e implementação da estrutura, uma verba de cerca de 500 mil euros proveniente do Fundo Ambiental, foi assinado no dia 21 de Dezembro, numa cerimónia que teve lugar na Ilha da Culatra e contou com a presença de João Paulo Catarino, secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, de responsáveis do ICNF, de elementos da Associação de Moradores da Ilha da Culatra e dos investigadores cujo trabalho enquadrará a realização desta obra.

No âmbito deste projeto, serão criados 57 postos de amarração, 46 das quais até 12 metros e as restantes até 18 metros, numa área situada frente ao núcleo da Culatra, que investigadores do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve e o Centro de Ciências do Mar (CCMAR) estiveram a assinalar no últimos anos.

A gestão deste fundeadouro ficará a cargo da Associação de Moradores da Ilha da Culatra e as receitas que gerar reverterão a favor de projeto de sustentabilidade neste núcleo piscatório, onde está a ser desenvolvido o projeto Culatra 2030, que pretende criar uma comunidade energética sustentável nesta ilha até final da década.

Acima de tudo, este fundeadouro permitirá ordenar a ancoragem de embarcações frente ao núcleo da Culatra, onde chegavam a estar ancorados cerca de 200 barcos, durante o Verão, sem qualquer regulação, com fortes impactos no ambiente e na segurança da navegação na Ria Formosa.

 

André Pacheco e Jorge Gonçalves – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«Basicamente, vamos fazer com que centenas de embarcações que estavam numa desorganização completa sejam reduzidas para 57 e, agora, de uma forma ordenada. Mas, muito melhor que isso, são as amarrações gravíticas. Eu vou-lhe chamar boias amigas do ambiente, para simplificar», revelou, à margem da sessão de assinatura do protocolo Jorge Gonçalves, investigador do CCMAR.

«Há uma poita, um peso no fundo, que vai ser um recife artificial. Vai ser feito de forma a ter orifícios e criar um novo habitat para os organismos da Ria Formosa. Depois, há uma corrente que tem uma boia intermédia dentro de água e que a mantém suspensa. Ou seja, essa corrente não vai arrastar no fundo», acrescentou.

O sistema conta «com uma outra boia, esta à superfície, onde os barcos se ligam», tendo, para isso, de pagar uma taxa, a tal que reverterá a favor da sustentabilidade da Culatra.

O que acontece é que «agora lança-se a âncora e a corrente vai também para o fundo», o que promove a degradação dos fundos e a destruição das pradarias marinhas existentes frente à ilha, um elemento fundamental no ecossistema da Ria Formosa.

«Nós já sabemos que dentro daquela área existem zonas que estão mais degradadas que outras. O objetivo no futuro é, não havendo âncoras e estando os barcos limitados a ancorar naquela área, todo o sistema à volta da Ria Formosa possa regenerar-se», revelou, por seu lado, André Pacheco, investigador do CIMA e um dos principais mentores do Culatra 2030.

Outro objetivo é que mesmo as próprias amarrações gravíticas «possam contribuir para o aumento da biodiversidade».

«Os barcos movimentam-se com a maré. Há corrente de maré e também ao vento. E, quando rodam, as correntes rodam também. Visto de cima, numa fotografia aérea, são só bolas que se veem nas ervas marinhas, devido a essas correntes. Aqui vai deixar de existir isso e, portanto, as ervas marinhas que ainda existem podem colonizar este sistema e melhorar a qualidade geral da rio», resumiu, por seu lado Jorge Gonçalves.

 

Sílvia Padinha – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«As nossas preocupações têm a ver com as questões ambientais. A receita que será gerada pelo fundeadouro reverte para um fundo ambiental e social, que ajuda as famílias a seguir o caminho da sustentabilidade, no âmbito do Culatra 20230», disse ao Sul Informação Sílvia Padinha, presidente da AMIC.

«Todas as iniciativas que possam ser canalizadas para este desafio que a Culatra abraçou de ter, até 2030, um conjunto de ações orientadas para a sustentabilidade, fazem sentido. A gestão deste fundeadouro, também tem essa consequência indireta positiva», disse, por seu lado, Nuno Banza, presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

«Quanto maior for o sucesso no caminho de tornar a Culatra numa comunidade sustentável, maior a capacidade que nós temos de contágio positivo para outras comunidades semelhantes, como há em vários pontos do país», concluiu.

O fundeadouro que será instalado frente à Culatra será seguido por outros sete com as mesmas caraterísticas, em diferentes pontos da Ria Formosa.

«Ainda serão feitos os estudos de batimetria, biológicos e dos impactos em mais sete locais, que abrangem as zonas da Armona, Farol e Faro», revelou ao Sul Informação Castelão Rodrigues, diretor regional do Algarve do ICNF.

Ou seja, ainda é necessário fazer aquilo que o CIMA e o CCMAR estiveram a fazer nos últimos três anos – que servirá de base para o que se fizer no futuro.

«A ideia foi tentar concretizar aquilo que está no regulamento do Parque Natural da Ria Formosa, que são áreas concessionadas para fundear, sendo que essas áreas seriam exploradas pelas associações locais e pelas comunidades locais«, explicou André Pacheco.

«Fizemos, durante os últimos três anos os planos de execução, um projeto de assinalamento marítimo, que foi um processo bastante longo, que passou por várias etapas e obteve a aprovação do ICNF, da CCDR, da APA», explicou.

Foi este trabalho que permitiu a assinatura do protocolo do Fundo Ambiental, para execução do fundeadouro da Culatra.

«Para iniciarmos essa obra, temos que fazer um levantamento da situação de referência, que é o que estamos aqui a fazer hoje. O CCMAR tem estado a trabalhar na parte biológica, o CIMA tem estado a trabalhar na parte física. Aquilo que vamos fazer depois é toda a folha da obra para podermos executar e fazermos a implementação do fundeadouro», concluiu.

 

 

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