Falta de professores nas escolas do Sul do país agravou-se «visivelmente»

Algarve é a região onde o cenário é mais grave

O problema da falta de professores, na zona sul do país, agravou-se «visivelmente», alertou o Sindicato dos Professores da Zona Sul – SPZS, que fez um levantamento dos horários em falta na sua área sindical, os distritos de Portalegre, Évora, Beja e Faro.

O distrito de Faro «é o que apresenta o cenário mais grave, com cerca de 118 horários por preencher, o que equivale a 1760 horas, e afetando 8800 alunos, como são os casos dos agrupamentos de escolas Pinheiro e Rosa, com 15 horários por preencher e Silves Sul com 8 horários a concurso».

«O arranque deste ano letivo, para além de variados problemas por resolver, fica marcado pela preocupante falta de professores, em praticamente, todas as escolas e pela inércia do Governo em encontrar caminhos e soluções», acusa o sindicato.

«A indisfarçável falta de professores tem tendência a agravar-se, pois este ano letivo acompanhou a evolução negativa dos últimos três anos», acrescentou.

Segundo o SPZS, o «número de professores em falta nesta semana está a afetar mais de 90 mil alunos a nível nacional, superando o máximo semanal registado no ano anterior, precisamente na semana de 12 a 16 de Setembro de 2022, quando foram submetidos 1.147 horários, com 16.497 horas, afetando mais de 80 mil alunos».

«Do levantamento realizado, podemos concluir que, nos 89% dos agrupamentos de escolas da nossa área sindical que responderam, existem horários por preencher, sendo a sua maioria, cerca de 50%, no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário, tal como a tendência a nível nacional», revelou.

«Na passada semana (de 11 a 15 de Setembro), só na nossa área sindical, cerca de 16.455 alunos não têm professores a todas as disciplinas», referiu.

No que diz respeito ao Algarve, os sindicalistas chama a atenção para o facto do mercado de arrendamento de habitações ser «cada vez mais incomportável ou inacessível ao corpo docente», a que se junta «a sazonalidade, que obriga à saída das habitações no decorrer do mês de Junho, impedindo muitos professores de concorrerem a estes horários, dados os condicionalismos a que a profissão e a carreira docente estão sujeitas».

«Bastante preocupante é também a situação no distrito de Beja, onde há cerca de 47 horários por preencher, correspondentes a 826 horas, com 4130 alunos afetados, sendo este o distrito do país onde a média de horas por horário é maior», continua a SPZS.

Dos vários agrupamentos com professores em falta, o sindicato destaca o de São Teotónio c«om 14 horários sem professor», o AE N.º2 de Serpa, «com 7 horários», o AE de Ourique, «com 6 horários» e o AE de Alvito, «com 4 horários sem professor (num concelho com pouco mais de dois mil habitantes)».

«Tendo em conta a realidade do Alentejo e do distrito de Beja, as grandes distâncias entre escolas, a tipologia dos acessos e vias de comunicação, a dificuldade em arrendar casa, a dimensão dos próprios agrupamentos, estamos perante um avolumar de problemas que estão a condicionar a qualidade das respostas educativas», acreditam.

De salientar ainda, os distritos de Évora, com 26 horários por preencher, o que estará a afetar 1.955 alunos e, o distrito de Portalegre com 21 horários por preencher, o que equivale a 314 horas e cerca de 1.600 alunos afetados.

A falta de professores «é mais notória» nos grupos de recrutamento que abrangem o 3º CEB e Secundário, nomeadamente nas disciplinas de Informática- 550, Português-300, Matemática – 500, Inglês – 330, História-400, Geografia-420, Biologia-520, Física e Química-510. Existem ainda muitos horários por ocupar no grupo de recrutamento 220 – Português Inglês do 2º CEB, assim como é bastante preocupante a falta de recursos humanos na Educação Especial.

No passado dia 1 de Setembro, o SPZS/FENPROF «entregou mais uma vez no Ministério da Educação uma proposta fundamentada sobre esta e outras questões, com contributos para a tão necessária atratividade da profissão docente, algo que, apesar do discurso dos governantes, aparenta ter caído, mais uma vez, em “saco roto”».

«A complexificação dos processos de trabalho, com uma enorme burocratização do trabalho docente, falta de condições de trabalho, degradação de edifícios e dos equipamentos, insuficiente investimento na sua modernização, manutenção de uma elevada precariedade laboral, baixos salários e baixas perspetivas de valorização das pensões de aposentação, destruição da carreira, incluindo, bloqueamento no acesso aos escalões de topo, elevado desgaste físico e psíquico, inexistência de um regime de gestão promotor da participação dos professores nos níveis de decisão e uma crescente dependência de “vontades” conjunturais das autarquias, entre outros aspetos, somam razões para que o número de jovens que querem ingressar na profissão docente seja muito reduzido, o que é uma ameaça para o futuro que tem de ser encarada com seriedade», concluiu o sindicato.

 

 



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