Investidor para o Convento de Monchique, procura-se!

Edifício classificado como Imóvel de Interesse Público passou a integrar o Programa Revive

Foto: Bextrel – CC BY-SA 4.0

O Convento de Nossa Senhora do Desterro, em Monchique, é um dos 15 imóveis em todo o país que integram, desde Junho, a III fase do Programa Revive, que se destina a promover a «salvaguarda e valorização do património público com valor patrimonial» e o seu «aproveitamento económico e turístico».

A reabilitação e reaproveitamento deste antigo convento é um dos mais antigos projetos da Câmara de Monchique, mas só agora foi possível procurar um investidor que promova as obras necessários, graças ao Programa Revive.

O edifício, bastante arruinado e alvo de furtos, ao longo dos anos, de alguns dos seus elementos mais característicos, como os azulejos que decoravam o antigo refeitório, já é quase todo propriedade do Município de Monchique.

 

O que resta do painel de azulejos do refeitório – Foto: Bextrel – CC BY-SA 4.0

 

«Falta-nos apenas uma pequena parcela, para a qual temos já assinado o Contrato Promessa de Compra e Venda, mas ainda não conseguimos fazer a escritura. Mas pode considerar-se que a totalidade do Convento já é nossa propriedade», disse Paulo Alves, presidente da Câmara de Monchique, ao Sul Informação.

O imóvel, que se ergue na encosta sobranceira à vila de Monchique, foi visitado na quarta-feira pelo secretário de Estado do Turismo, durante a deslocação que o governante fez a vários investimentos no concelho, no âmbito das sessões informativas do «Roteiro + Interior Turismo».

O que se pretende com a integração do Convento da Nossa Senhora do Desterro no Programa Revive é, segundo o autarca Paulo Alves, «encontrar uma solução para as valências turísticas e culturais» que o edifício histórico poderá ter.

«Esperemos que apareçam investidores privados que consigam reabilitar o edifício, adaptando-o a novas funções, mas mantendo na mesma uma parte de uso público, alocando ali fundos que a Câmara, só por si, não consegue reunir», explicou o presidente da autarquia.

«Este é um processo que se arrasta há muitas décadas, mas agora há, finalmente, a perspetiva de uma solução, já que é a primeira vez que o edifício está inscrito neste Programa Revive», acrescentou.

Quanto ao que poderá ser feito no antigo Convento, Paulo Alves diz que, «quando houver um investidor privado interessado, aí sim será definido o que vai ser feito». Será, o autarca não tem dúvidas, «um investimento para muitos milhões de euros».

«Neste momento, estamos a trabalhar só na inclusão do Convento no programa Revive», concluiu.

 

Interior arruinado da igreja – Foto: Muffin

 

O Revive é um programa conjunto das áreas governativas da Economia, da Cultura, das Finanças e da Defesa, desenvolvido em estreita articulação com as autarquias locais.

Tem por principal objetivo recuperar e valorizar património público devoluto e reforçar a atratividade dos destinos regionais.

Para o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, «o lançamento da III Fase do Programa Revive é sinal da vitalidade e importância deste programa na requalificação e aproveitamento económico do património imobiliário público com valor arquitetónico, patrimonial, histórico e cultural, concedendo uma nova oportunidade a imóveis em adiantado estado de degradação».

Na sessão de apresentação das novas linhas de financiamento e iniciativas para valorização turística do interior, que decorreu no Parque da Mina, em Monchique, o secretário de Estado Nuno Fazenda disse que, em conjunto com o presidente do Turismo de Portugal, «temos estado a percorrer o interior do país, para dar conta dos instrumentos para concretizar os projetos».

Um dos instrumentos apresentados em Monchique foi uma nova linha de apoio para o turismo no interior que conta com 15 milhões de euros.

Quanto à Agenda do Turismo para o Interior, Nuno Fazenda sublinhou que o objetivo é «mobilizar medidas e apoios concretos para o interior, onde o Algarve também se insere».

Por seu lado, José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, salientou que «o Algarve interior e as áreas de baixa densidade representam um Algarve natural a explorar», que, em algumas zonas do território, «ainda tem fraca cobertura de internet, sendo o concurso 5.G uma resposta que se aguarda com expetativa. Monchique é um bom exemplo desse Algarve natural, de um turismo de natureza, de experiências e paisagens únicas».

 

 

 

O Convento de Nossa Senhora do Desterro, em Monchique, foi fundado no ano de 1631 por Pero da Silva, que foi Vice-Rei da Índia. O Convento pertencia à Ordem Terceira de São Francisco, sendo barroca a sua arquitetura religiosa.

No frontispício do que resta da igreja, existe ainda um brasão d’armas da família do fundador.

O edifício foi destruído pelo terramoto de 1755, tendo sido depois reconstruído.

O Convento acabou por ser encerrado em 1834, no âmbito da extinção das ordens religiosas em Portugal, tendo sido vendido em hasta pública em 1842, a vários proprietários.

A imagem de Nossa Senhora do Desterro, de origem seiscentista, bem como outros elementos da igreja, foram levados para a Ermida de São Sebastião, em Monchique, onde ainda se encontram.

Mas o Convento continuou a degradar-se, acentuando o estado de ruína de grande parte dos edifícios que o compõem.

Está, desde 1981, em vias de classificação como Imóvel de Interesse Público.

Em 1983, quando era presidente da Câmara o socialista Carlos Tuta, a autarquia começou um longo processo para aquisição dos terrenos do convento, que ainda hoje não está concluído.

O projeto de compra foi continuado depois, a partir de 2009, pelo autarca social-democrata Rui André, mas sempre dificultado pelo elevado número de proprietários, alguns deles desconhecidos, das várias parcelas em que o imóvel e os terrenos envolventes foram sendo divididos.

Em 2003, tinha sido aberto um concurso público internacional para a realização de obras de recuperação no edifício do convento, tendo, no ano seguinte, sido aprovado um projeto no valor de cinco milhões de euros, pelo então Instituto Português do Património Arquitectónico.

Esse projeto previa a instalação de uma unidade hoteleira, talvez uma pousada, com 28 camas em 24 quartos.

Os terrenos em redor do convento também seriam recuperados, incluindo os tanques e a emblemática Fonte dos Passarinhos, prevendo-se a instalação de uma piscina.

Mas o projeto nunca chegou a concretizar-se, uma vez que vastas parcelas do Convento continuavam a não ser propriedade da Câmara Municipal.

Durante o incêndio de Monchique, em 2018, o edifício esteve ameaçado pelas chamas, que consumiram grande parte do arvoredo envolvente, mas deixaram o arruinado convento incólume.

 

Fontes: Monumentos.Gov.pt e Wikipédia

 

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