Em Faro, Loulé e São Brás de Alportel ajuda-se quem está em final de vida ComPaixão

Primeira Comunidade Compassiva do Algarve já nasceu

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Surge para garantir que há sempre alguém «perto de quem mais precisa» e para que nenhum doente que esteja a receber cuidados paliativos faça a sua difícil caminhada sozinho e sem ter acesso «à verdadeira compaixão», o acto de «dar um pouco de nós em prol do outro».

A primeira Comunidade Compassiva do Algarve, no âmbito da qual será criada uma rede de voluntários para apoiar doente crónicos ou em final de vida e os seus cuidadores, nos concelhos de Faro, Loulé e São Brás de Alportel, nasceu oficialmente na quarta-feira, dia 5.

Cerca de três dezenas de parceiros do projeto “Viver ComPaixão”, dinamizado pela unidade de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e pela delegação de Faro/Loulé da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), juntaram-se no Teatro Lethes, em Faro, para formalizar a rede e conhecer mais sobre o que é, afinal, uma Comunidade Compassiva.

«A compaixão é, realmente, perceber que podemos fazer algo de simples para o outro, para quem está ao nosso lado. E que podemos ajudar a que as pessoas vivam melhor. Pessoas com doenças graves, que estão no final da vida. Colaboramos para que essa vida seja vivida bem até ao último instante», enquadrou Giovanni Cerullo, o médico que coordena a equipa de Cuidados Paliativos do Hospital de Faro.

Assim, é importante, desde logo, que a sociedade em geral perceba «o que é, realmente, a compaixão. Não é dizer: “coitadinha daquela pessoa, que está a falecer”. Não! É estar, efetivamente, ao lado do outro, dar um pouco de nós em prol do outro».

 

Giovanni Cerullo – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

A sensibilização é, desta forma, o primeiro dos três pilares desta Comunidade Compassiva.

O segundo, é a ação, a «parte prática, porque não basta apenas sensibilizar, também temos de capacitar as pessoas».

«Vamos criar uma bolsa de voluntários, que serão, antes de tudo o mais, formados, pois não é qualquer pessoa que pode cuidar ou estar junto de uma pessoa que está com uma doença grave», segundo Giovanni Cerullo.

No fundo, trata-se de «dar formação aos voluntários sobre como estar, como devem relacionar-se [com os doentes e suas famílias], dar-lhes ferramentas de comunicação e mostrar-lhes o que é, realmente, a compaixão».

Esta componente de formação é importante porque «muitas pessoas dizem que gostavam de ajudar um colega ou um vizinho que sabem que está doente. Mas, não sabem como e também não têm formação. É por isso que a comunidade compassiva surge: para formar as pessoas, para poder realmente ser uma comunidade e estar ao pé de quem mais precisa».

Esta formação, que durará 80 horas, focar-se-á em «prestar ajuda no autocuidado, quer seja da pessoa doente, do seu cuidador formal ou informal ou da pessoa significativa, do familiar», segundo Vítor Alua, coordenador da Comunidade Compassiva.

«É uma formação no âmbito de um modelo de relação de ajuda centrado na pessoa, permitindo um acompanhamento através da escuta ativa e da presença, da gestão de silêncios e da dedicação ativa centrada na pessoa, mas também com formação sobre o que são estes contextos complexos [de cuidados paliativos], as necessidades mais importantes das pessoas nestas situações», acrescentou o mesmo responsável, que é coordenador da área de formação e projetos da delegação de Faro/Loulé da CVP.

 

A partir do momento em que estejam capacitados para ajudar, os voluntários poderão fazê-lo de diversas formas.

«Há pessoas que vivem a doença sozinhas, sem ninguém. Notamos que, por vezes, há pessoas que vêm às nossas consultas sozinhas. Nestes casos, os voluntários podem ser aquela pessoa que está ao lado do doente, algo que nós, os prestadores de saúde, infelizmente, não podemos fazer. Temos outras obrigações», enquadrou o médico Giovanni Cerullo.

Nestes casos, o voluntário «pode, por exemplo, acompanhar o paciente à consulta, pode ajudar a gerir a medicação ou ir à farmácia».

«Também há os cuidadores, que têm um grande peso, porque estão 24 sobre 24 horas com o doente, que muitas vezes está muito dependente. O voluntário pode ir à casa do doente, ler-lhe um livro, conversar com ele, com a família», acrescenta.

Outra forma de ajudar é «ficar em casa durante duas ou três horas, de modo a que o cuidador possa sair de casa e fazer algo como ir às compras ou tirar tempo para cuidar de si, algo que para nós é simples, mas que um cuidador não consegue fazer normalmente, porque não pode deixar a pessoa doente sozinha».

O envolvimento da comunidade no processo de prestação de cuidados paliativos «ajuda imenso» os profissionais de saúde, que se poderão concentrar mais «nas necessidades físicas, sintomas ou na parte psicológica do doente».

Outras duas componentes da comunidade compassiva passam pela sensibilização, comunicação e divulgação e pela criação de um grupo de advocacy (advogar em favor de uma causa) com os parceiros do projeto.

Giovanni Cerullo explicou, ainda, que este projeto estava «há muito tempo a ser pensado pela equipa de Cuidados Paliativos do CHUA».

A sua execução é possível graças a uma parceria entre a CVP e o CHUA, que se candidataram  “Portugal Compassivo – Laços Que Cuidam”, promovido pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos e pela Fundação “la Caixa”, garantindo financiamento desta última instituição.

 

 

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