Algarve quer Plano Ferroviário com mais certezas e com ligação à Andaluzia

O facto de haver duas alternativas para a reformulação futura da Linha do Sul é caminho «para não se fazer nenhuma».

Foto: Fabiana Saboya | Sul Informação

O Conselho Regional do Algarve quer ver algumas das promessas que constam do Plano Ferroviário Nacional, em relação aos investimentos na rede a sul do Tejo, tornar-se em certeza e já está a preparar o seu contributo para a consulta pública do documento, que acaba no dia 28 de Fevereiro.

O anúncio foi feito na quarta-feira, dia 22, durante uma reunião deste órgão consultivo da Comissão de Coordenação Desenvolvimento Regional do Algarve, que contou com quatro membros do Governo: Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, e os secretários de Estado Isabel Ferreira (Desenvolvimento Regional), Carlos Miguel (Administração Local e Ordenamento do Território) e Frederico Francisco (infraestruturas).

Foi a este último que coube a apresentação do Plano Ferroviário Nacional, com enfoque nas intervenções abaixo do rio Tejo que estão previstas no documento.

Entre estas, saltam à vista a criação de uma linha ligeira litoral no Algarve que vai ao Aeroporto, mas também uma terceira travessia do Tejo e uma reformulação profunda da linha, havendo mesmo a possibilidade de se criar um novo traçado, que permita servir Faro, Beja e Évora no mesmo eixo.

Um dos problemas, como ilustrou António Pina, presidente da AMAL, é precisamente o facto de o Sul do país ser a única onde o plano não é taxativo e coloca em cima da mesa duas alternativas para a redução do tempo de viagem.

O autarca algarvio teme mesmo que, desta forma, acabe por não «avançar nenhuma das duas alternativas».

 

Frederico Francisco – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«Aquilo que está no programa nacional de investimentos para 2030 é a reabilitação da linha do Sul entre a Torre Vã e Tunes, ou seja, o último segmento antes de terminar no Algarve, que é o que está atualmente em piores condições. Essa reabilitação deverá permitir ganhar alguns minutos de viagem [10 a 15, segundo o que consta no plano]», explicou aos jornalistas Frederico Francisco, à margem da sessão.

Em conjunto com uma eventual nova travessia do Tejo perto de Lisboa, outros dos assuntos em cima da mesa, que se prevê que reduza em meia hora as viagens para o Sul de Portugal, «isso permitiria colocar a ligação entre o Algarve e Lisboa no patamar das duas horas e 15 minutos».

«Isto são as coisas que não estão em dúvida. O que está em dúvida é o que se faz além disso. Quando nós pensamos no horizonte de 2030, duas horas e 15 minutos será uma boa melhoria para o Algarve. Mas se olharmos para 2050 e para a ideia de eliminar os voos em Portugal Continental, significaria que a viagem entre Porto e Faro teria de andar na ordem das três horas. E para isso é necessário que Faro-Lisboa se faça em menos de duas horas», acrescentou o membro do Governo.

Ou seja, a questão é o que se faz depois desta primeira intervenção na linha do Sul, já prevista no Plano Nacional de Investimentos 2030: «se a solução passa por continuarmos a investir em reduzir tempo sobre a linha atual ou se passa por investir numa linha nova – que, na verdade, nunca será inteiramente nova, porque podem ser aproveitados troços já existentes -, que colocasse Faro, Beja e Évora no mesmo eixo de ligação a Lisboa», diz.

É aqui que entra a ligação ferroviária a Sevilha em alta velocidade, através da ligação de Faro a Huelva, uma obra que os membros do Conselho Regional, que junta autarcas e representantes de entidades públicas e privadas do Algarve, consideram prioritária.

No entanto, segundo admite o plano, esta ligação só justifica se se conseguir baixar o tempo de viagem entre Faro e Lisboa para menos de duas horas. Com estas condições asseguradas, e havendo linha de alta velocidade entre Faro e Sevilha, o tempo de viagem entre as capitais portuguesa e da Andaluzia seria inferior a 4 horas.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Outra questão que foi levantada foi a incerteza em torno da nova travessia do Tejo, que acaba por estar ligada e dependente, em certa medida, da localização do novo Aeroporto de Lisboa.

«Nós não devemos amarrar a discussão da 3ª travessia do Tejo em Lisboa à questão do novo aeroporto. A construção de uma nova ponte entre Lisboa e Barreiro tem uma importância que vai muito para lá dessa obra. Tem uma importância local, ao nível da área metropolitana de Lisboa, e uma importância nacional, ao nível da ligação dos territórios que estão a Norte do Tejo e dos que estão a Sul», defendeu o secretário de Estado das Infraestruturas.

«Neste momento, não há ainda uma decisão tomada ao nível do Governo, para avançar com essa ligação. Vindo ela a figurar no Plano Ferroviário Nacional, ficará para futuros planos de investimento decidir quando é que ela é incluída», acrescentou.

Quanto às reivindicações dos membros do Conselho Regional, Frederico Francisco lembra que «o plano é uma proposta que está em discussão. Daquilo que consta no documento, tudo ainda pode ser alterado em função dos contributos e das discussões que estamos a ter nas várias regiões».

E ainda há margem para mudar o que consta da proposta de plano, inclusive determinar qual das alternativas para a futura reformulação da Linha do Sul ficará inscrita.

«Em função dos contributos que venhamos a receber, que incluem os Conselhos Regionais, o público em geral, a discussão interna no Governo e a reunião com especialistas e técnicos, podemos vir a convergir numa das duas alternativas», concluiu o secretário de Estado das Infraestruturas.

 

 

 



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