Infeções Respiratórias Virais no Outono/Inverno de 2022-2023. Conseguirá o SNS dar resposta?

Uma região como o Algarve não pode aceitar que não possua pediatras nas urgências do SNS!!!

As infeções respiratórias estão a ser notícia neste outono-inverno de 2022-2023. Muitos especialistas chamaram a atenção para a possibilidade de um incremento das infeções respiratórias pelos vírus da gripe sazonal, pelo vírus sincicial respiratório e também pelo coronavírus que causa a COVID 19.

Será esta preocupação com as infeções respiratórias legítima?

A prevenção e os cuidados para a COVID 19 diminuíram em muito a exposição aos restantes vírus respiratórios, diminuindo a imunidade e sendo previsível um aumento das infeções este Outono/Inverno.

Os sintomas das 3 doenças são muito parecidos, com sintomas respiratórios, dores musculares e articulares, cefaleias e febre, entre outros. No caso da COVID 19, a gravidade da doença foi muito reduzida pela vacinação da população e pelas doses de reforço. No caso da gripe, a vacinação também pode ser eficaz. No caso do vírus sincicial respiratório, não há vacina.

Podemos ainda dizer que:

• A grande maioria dos casos terá sintomas respiratórios e outros “gripais” ligeiros, apenas necessitando de medidas simples como hidratação, paracetamol e anti-inflamatório para a febre ou outros sintomas;

• Apenas uma pequena percentagem de casos poderá necessitar de cuidados de saúde médicos.

 

Está o SNS preparado para responder?

A opinião que dou de seguida refere-se à região do Algarve, sendo de referir que, no SNS desta região, existem atualmente muitas particularidades.

No Algarve, o componente de cuidados de saúde primários encontra-se em funcionamento e aparentemente com capacidade para responder às solicitações deste Inverno, sendo para tal de salientar a enorme entrega dos seus profissionais (médicos, enfermeiros, assistentes operacionais ou administrativos).

A nível hospitalar, temos problemas acentuados, nomeadamente a ausência muito frequente de pediatras a responder às necessidades da população da região, tendo-se infelizmente, nos últimos dois anos, passado a mensagem errónea que é normal o inaceitável.

Uma região como o Algarve não pode aceitar que não possua pediatras nas urgências do SNS!!!

É notório que, estando no Algarve há quase 20 anos, nunca tinha assistido a esta situação. Até há dois anos, os profissionais de pediatria estavam sempre disponíveis a dar um pouco mais e garantir a resposta do SNS. Sendo estes profissionais os mesmos que sempre deram tudo e um pouco mais, o que se passa para agora não estarem disponíveis? Certamente a culpa não será dos profissionais, nem dos doentes.

Em termos hospitalares, será possível a elaboração de um plano de atuação para o atual Outono/Inverno, que deveria ter sido realizado durante o Verão de 2022, com o envolvimento de todos os profissionais, estar a ser apresentado à população em Setembro, com implementação a partir de Outubro.

Estamos em Dezembro e, em termos internos hospitalares, desconheço se terá sido realizado ou implementado ou não, no entanto, devidamente comunicado à população, não consigo encontrar evidências de tal plano.

Planear, implementar, avaliar e melhorar é algo que se faz nas instituições com uma política de qualidade implementada, com benefícios e foco nos utentes. A competência neste caso não tem custos incrementais!

Apesar desta situação, devo dizer que, no Algarve, temos profissionais de saúde nos hospitais que possuem grande capacidade técnica e uma capacidade de entrega que os levará a encontrar as soluções para as pessoas. Os Algarvios e quem nos visita podem sem dúvida confiar nos profissionais e na sua capacidade.

 

O que devem fazer as pessoas?

A mensagem para a população deve ser de tranquilidade, uma vez que se trata de patologias há muito conhecidas, como a vulgar gripe. A COVID 19, nos vacinados, também possui na maioria dos casos sintomas ligeiros.

As pessoas podem ajudar o sistema na obtenção da resposta mais adequada, se adotarem as seguintes medidas preventivas:

• Possuírem vacinação para a COVID 19 com todas as dosagens recomendadas pela DGS;

• Possuírem a vacinação para a gripe nas situações indicadas pela DGS;

• Os doentes crónicos que agravam as suas doenças com facilidade no caso de infeção viral, como são os casos das patologias respiratórias crónicas e da insuficiência cardiaca, deverão agendar uma consulta programada com o seu médico assistente habitual, obtendo aconselhamento para a sua situação específica.

Desta forma e sistematizando as pessoas com sintomas (crianças ou adultos) devem:

• Manter as medidas de afastamento social e utilizar máscara, pois em qualquer das infeções existe grande contagiosidade;

• Manter os cuidados de hidratação e controlo de sintomas com paracetamol e anti-inflamatórios;

• Em caso de dúvida, deverão contactar o SNS 24 (808 24 24 24), que orientará de forma adequada a situação;

• Nos casos com maior dificuldade respiratória (com muito esforço para respirar, com aparecimento de depressões na região acima das clavículas ou entre as costelas, com aparecimento de uma coloração azulada nos lábios), deverão ligar para o 112;

• Não recorrer diretamente às urgências, exceto se não conseguirem outro tipo de resposta.

O SNS do Algarve deve procurar sempre fornecer os melhores cuidados para os utentes, com organização, qualidade e competência. Os Algarvios merecem sempre mais e melhor, não podem aceitar ser cidadãos de segunda, pois não o são!!

Aos Algarvios e visitantes, ajudem o SNS a ajudar-vos. Bom Natal e Feliz Ano de 2023.

 

 

Autor: Nuno Marques é médico cardiologista e Professor Associado da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve

 

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