Aldeia Velha dá vida ao Museu Regional do Algarve

Aldeia Velha é um trabalho da Companhia DoisMaisUm, produzido pela Associação Cultural Música XXI, em parceria com o Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa

As figuras estáticas do museu ganharam vida e ensinaram aos visitantes deste espaço de relíquias algarvias um segredo bem guardado: quando ao património se junta a imaginação, estamos a construir cidadania.

Quem, ao visitar o genuíno Museu Regional do Algarve, no último fim de semana, tivesse entrado na ala da reconstituição da casa algarvia de Olhão pela noitinha, teria visto as figuras estáticas que por lá dominam, encherem-se de vida e de palavras, saudando os visitantes com um tocante texto da autoria de António Gambóias.

Aldeia Velha é um trabalho da Companhia DoisMaisUm, produzido pela Associação Cultural Música XXI, em parceria com o Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa.

Este espetáculo é apoiado pela Direção Regional da Cultura do Algarve e pela Câmara Municipal de Faro. Voltará a estar em cena esta segunda-feira, 31 de Outubro, e ainda nos dias 3 e 5 de Novembro, às 21h00, bem como no dia 6, às 18h00.

Trata-se de um espetáculo de teatro que pretende cumprir um duplo objetivo: «conceber uma apresentação teatral para um espaço museológico, mas também atender e honrar todo o enquadramento inerente ao acervo histórico e ao espaço arquitetónico», explica a associação Música XXI.

Este projeto «experiencia-se em torno da ideia de museu vivo, posto que apresenta um espetáculo no qual são retratados modos de vida, afetos, medos e questionamentos políticos a partir de um enquadramento sociológico da região algarvia em plena ditadura. Neste sentido, prevê-se não só a apresentação deste espectáculo em Faro, mas também em Tavira, localidade diretamente envolvida num dos episódios políticos compreendidos na narrativa», acrescenta.

 

 

É igualmente um desafio a escrita de um texto para teatro a partir de um conto muito significativo de Manuel da Fonseca, O Largo, «imbuído de um arguto espírito neorrealista».

Para o autor e encenador, o professor de teatro e ator António Gambóias, «o teatro não pode deixar de ser uma arte interventiva, quis problematizar nos dias de hoje, numa região envelhecida e empobrecida, temas que afinal são de sempre e nos confrontam com a própria pergunta de Manuel da Fonseca: não estaremos em presença de um mundo vivo de gente já morta?»

O Museu Regional do Algarve tem uma sala dedicada aos modos de viver e de fazer das populações rurais do Algarve, a partir da recriação pormenorizada da casa tradicional de Olhão.

O Museu construiu cinco divisórias em alvenaria que apresentam o quarto tradicional, a sala comum com a grande lareira onde se cozinhava, a taberna, com inúmeros objetos de meados do século XX, uma casa do forno e a casa das alfaias agrícolas.

É no interior dessas divisões que decorre o espetáculo Aldeia Velha, a partir da peça de teatro homónima. As personagens recriaram diálogos da época a partir de uma tradição oral registada nas memórias afetivas do autor.

A narrativa desenvolve-se em torno da venda do taberneiro, que fica no largo, verdadeiro centro de encontro de todas as personagens: o contrabandista, as raparigas que ainda lavam a roupa no rio, a mulher que se mudou para um arraial da pesca do atum em busca de melhores condições, a mulher do taberneiro que lê as cartas a quem não sabe ler, a velha senhora, que acompanha, sempre com palavras sábias, a vida e as mutações da aldeia.

O final devolve uma nota de esperança às aldeias abandonadas, através do seu resgate como aldeias ecológicas e pedagógicas. Para o espectador ficará viva a memória de um texto duro sem deixar de ser cativante, que enuncia a vida das populações do interior antes de terem sido votadas ao abandono.

Aldeia Velha tem a interpretação de Ana Cristina Oliveira, Ana Isabel Baptista, Bruno Filipe, Catarina Silva, Joana Coelho, Vasco Coelho e Tatiana Cabral. A assistência de encenação foi de Luna Ruivo.

 

 



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