Encontro com a Memória (I)

Primeira crónica no Sul Informação de Manuel Dias

A vida é um modo contínuo de encontros, que nos marcam como sinalizadores de caminhos, que nos levam a decidir sobre os que percorremos e os que rejeitamos, mas todos eles são componentes presentes na construção da nossa Memória.

Avisado por amáveis palavras para os tempos actuais, tão confusos, e do que isso me daria de matéria para crónicas, neste retomar à palavra escrita, não me deixa espaço para os meus apetites de linhas “fora da caixa” – da enorme quantidade de “caixas” – em que estamos envolvidos (ou nos envolveram?).

Por um ou outro caminho também sei que nunca seria de grande utilidade.

Paciência.

Depois de me ter sido aberta esta porta amiga, não posso dar nega e, por isso, vou pegar só numas pequenas franjas do que mais se fala – alterações climáticas e seus derivados – atrevendo-me então a evocar a Memória.

Foi numa data algures que sinalizava o aniversário da aprovação da Declaração do Rio, que o José da Luz me falou na possibilidade de a CÍVIS editar um folheto alusivo ao conteúdo e significado desse documento.

A Declaração do Rio, aprovada na Conferência das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro de 3 a 14 de Junho de 1992, é um documento sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

Já passaram 30 anos sobre a assunção deste compromisso internacional mas…

Já passaram 50 desde que são ouvidas vozes sobre a saúde da nossa casa mãe.

Podia ficar por aqui e passar às “alegações finais” porque – a quem possa interessar e não souber ainda – tudo o que é a memória do que aqui é dito, está à distância de um clique, como eu fiz.

Mas não resisto a tentar acordar apetites distraídos e convidar-vos a viajar no tempo.

Primeira etapa

A partir do momento em que o Homem pôde verificar que a Natureza deixou de repor alguns dos recursos por ele explorados, – deixou de haver a sua regeneração – ganhou o saber das escolhas mas não o inscreveu.

Segunda etapa

O aumento da população e a consequente concentração humana, com a Revolução Industrial a dotar o homem com capacidade tecnológica para uma mais acelerada extração/apropriação de bens da Natureza, iria aprofundar o desequilíbrio do meio ambiente secando lagos e rios, contaminando solos e mares, fazendo o caminho para o esgotamento de muitos dos recursos indispensáveis à vida humana.

Terceira etapa

Ano de 1972.

Face às avaliações que vinham sendo desenvolvidas por serviços da ONU, da pressão da comunidade científica, de ONGs e movimentos sociais atentos a cenários previsíveis de agudização das condições da vida no planeta, as questões ambientais passaram a integrar a agenda política internacional, levando a Organização das Nações Unidas a promover uma conferência internacional sobre o Ambiente.

Realizada na capital da Suécia, de 5 a 12 de Julho, estando presentes mais de uma centena de chefes de Estado, ficou conhecida como a Conferência Mundial de Estocolmo, sendo, ainda hoje, considerado como um dos mais importantes marcos na história da tomada de consciência ambiental.

Quarta etapa

Ano de 2022.

No passado mês de Junho, o Governo da Suécia sediou a Estocolmo +50 para celebrar as cinco décadas da primeira grande reunião multilateral sobre o meio ambiente e fazer o balanço sobre o trabalho realizado nesse período.

No sítio da net que informa sobre esta realização, podemos ler: «O Secretário-Geral da ONU António Guterres descreveu a tripla crise planetária como “ameaça nº 1 a nossa existência” que precisa de “um esforço urgente e pleno para ser revertida”».

Quinta etapa e alegações finais

Temos que reconhecer que o trabalho realizado pelas Nações Unidas nesta matéria, essencialmente na produção de recomendações e directrizes, são dirigidas a um mundo de muito diferenciados estados de desenvolvimento versos poder económico.

Tragicamente, são os países mais ricos aqueles que mais têm contribuído para a tripla crise planetária referida por António Guterres.

Em Portugal, não tem sido por falta de projectos com suporte científico que vamos ouvindo anualmente, dos fogos à falta de água, serem os mais graves de sempre.

Voltaremos para um novo Encontro.

 

Autor: Manuel Dias comeu o pão do racionamento da II Guerra Mundial.
Fez-se operário aos dezoito anos, viveu o Maio de 62, apaixonou-se pelo Tejo, pelas varinas de Stuart de Carvalhais, pelo pregão e sabor da fava-rica da Madragoa e piqueniques na Baixa da Banheira.
Com republicanos cresceu político e no associativismo partilhou saberes.
Em Abril, sonhou o movimento popular, arquitectou espaços de dignidade humana, viveu intensamente o crescer do movimento cooperativo e, com raiva, assistiu à sua agonia e assassinato.

Nota: O autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico e é inseguro a utilizar o antigo.

 

 

 



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