Olhão já tirou uma pessoa da rua e, mais importante, «tirou a rua» dessa pessoa. Faltam 61. O Núcleo de Planeamento e Intervenção dos Sem-Abrigo (NPISA) de Olhão, uma nova resposta social, já está em funcionamento e até começou a dar frutos mesmo antes de ser formalmente criado.
O protocolo de constituição do NPISA de Olhão foi assinado no início de Junho, numa cerimónia que juntou os muitos parceiros desta estrutura, desde logo a Câmara Municipal, mas também a Segurança Social, o Instituto do Emprego e Formação Profissional, a ARS Algarve, o MAPS, a ACASO, as forças de segurança e o Ministério Público, entre outras entidades.
Mas, na prática, a missão do núcleo já antes tinha começado a ser cumprida, revelou ao Sul Informação Elsa Parreira, vice-presidente da autarquia e vereadora com o pelouro da Ação Social.
«Temos um caso de sucesso, que está neste momento a trabalhar na Câmara. Um dos sem-abrigo que referenciámos concorreu a uma vaga, integrámo-lo nos nossos serviços, está nos nossos quadros e também já tem uma casa», revelou.
«Portanto, está 100% integrado na sociedade. Já o tirámos da rua e já tirámos a rua dele, ao dar-lhe uma oportunidade», disse.

António Pina, presidente da Câmara de Olhão, por seu lado, disse ao nosso jornal que a primeira preocupação foi saber qual é, exatamente, a dimensão do problema..
«Foi feito um levantamento, no ano passado, antes de avançarmos para esta proposta. Há 62 pessoas em situação de sem abrigo no concelho de Olhão», revelou.
«Isto é o início, o primeiro passo. Primeiro, quisemos identificar as pessoas e fazer alguma caracterização. A partir daqui, queremos trabalhar em conjunto no sentido de as recuperar», acrescentou.
O caso de sucesso que já se registou é uma vitória, mas é preciso «tentar fazer o mesmo com os outros. Mas, lá está, é preciso que eles queiram sair da rua».

A resposta a ser dada pelo NPISA às pessoas sem abrigo que foram identificadas em Olhão é transversal e multidisciplinar.
As questões de saúde, física e mental, a ajuda a criar projetos de vida e as soluções de acolhimento e alojamento são algumas das que serão contempladas.
«Os apartamentos partilhados são um objetivo. Mas esta é uma oferta social que poderá servir para alguns, mas não para todos. Esse é já um segundo passo. Primeiro, as pessoas têm de estar disponíveis para sair da situação de sem abrigo. Porque a maioria das pessoas que vivem na rua, fá-lo por opção», salientou António Pina.
«Estas pessoas estão desajustadas da sociedade, não querem ter regras. Muitos querem ser invisíveis. Mas também há muitos que só precisam que lhes estendam a mão, para ajudar», considerou Elsa Parreira.
«Se nós salvarmos um já estamos a ter sucesso. Mas é um trabalho que vamos fazendo, digamos assim, na escuridão, sem mostrar aquilo que se faz. Porque não temos de estar a expor estas pessoas perante a sociedade, até porque, muitas vezes, foi a sociedade que os rejeitou», concluiu a vice-presidente da Câmara de Olhão.

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