Investigadores alertam para impacto das alterações climáticas na sobrevivência de cavalos-marinhos

Estudo foi realizado por investigadores do MARE-Ispa

«A exposição a temperaturas elevadas poderão implicar elevados custos energéticos e uma diminuição» da condição corporal dos cavalos-marinhos, revelam os resultados preliminares de um estudo realizado por investigadores do MARE-Ispa sobre o efeito do aquecimento do oceano no comportamento e fisiologia do cavalo-marinho-de-focinho-comprido, Hippocampus guttulatus. 

Depois de uma estadia temporária no Biotério de Organismos Aquáticos do Ispa para o estudo, os cavalos-marinhos serão agora devolvidos ao seu meio natural no dia 20 de Julho, às 14h00, em Sol-Tróia.

«Apesar dos cavalos-marinhos terem resiliência térmica e capacidade de adaptação a curto prazo, o gasto de energia que a exposição a temperaturas mais elevadas pode acarretar, a médio-longo prazo, poderá trazer consequências ao nível do crescimento e sobrevivência da espécie», explica Ana Margarida Faria, coordenadora do estudo e investigadora do MARE-Ispa.

«Os indivíduos expostos às temperaturas mais elevadas revelaram maior atividade e maior ingestão de alimento, no entanto, este aporte energético extra não foi suficiente para suprir as necessidades provocadas pelo stress térmico, tendo-se observado a perda de peso nestes casais», refere Miguel Correia, também investigador do MARE-Ispa e da União Internacional para a Conservação da Natureza.

De acordo com os investigadores, os casais desta espécie foram expostos, em condições laboratoriais controladas, a temperaturas mais elevadas que simulam o efeito provocado pelas alterações climáticas previstas para o final deste século.

Estes cavalos-marinhos são provenientes do estuário do Sado, onde foi detetada uma comunidade populacional de cavalos-marinhos de duas espécies, o cavalo-marinho-de-focinho-comprido Hippocampus guttulatus e o cavalo-marinho-comum H. hippocampus.

Em Portugal, as populações da Ria Formosa são as mais estudadas, e na última década sofreram uma redução na ordem dos 90%.

«Estas espécies, assim como o seu habitat preferencial (pradarias de ervas-marinhas), estão ameaçadas e protegidas por leis nacionais e internacionais, pelo que é de crítica importância aumentar o conhecimento científico sobre estas espécies prioritárias para a conservação», frisam ainda os responsáveis do estudo.

Gonçalo Silva, do MARE-Ispa reforça que «é absolutamente urgente e fundamental recolher dados científicos sobre os cavalos marinhos no estuário do Sado, para que se possam tomar decisões e aplicar medidas de mitigação e de conservação, com base científica».

«Para além da necessidade de conservação destas espécies que estão em perigo, o seu carisma perante a sociedade faz delas espécies-bandeira, usadas em ações de sensibilização e de conservação da biodiversidade marinha, gerando um efeito positivo como um todo», remata.



Comentários

pub