Ministra da Cultura lembra Gastão Cruz como «figura indiscutível da poesia portuguesa»

Poeta morreu hoje aos 80 anos

A ministra da Cultura lamentou este domingo, 20 de Março, a morte do algarvio Gastão Cruz, lembrando-o como uma «figura indiscutível da poesia portuguesa contemporânea e um dos seus grandes renovadores, tanto enquanto autor, como enquanto crítico literário». 

Numa nota de pesar, Graça Fonseca diz que «a cultura portuguesa perdeu hoje um autor que, acima de tudo, tinha uma profundamente paixão pela expressão literária, criando, trabalhando e divulgando a nossa literatura com um inestimável empenho».

Natural da Faro e formado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Gastão Cruz, que morreu este domingo, começou, ainda muito novo, o seu percurso pela poesia portuguesa, colaborando com diversos jornais e revistas.

«Merece destaque, nesta fase, a sua colaboração com os “Cadernos do Meio-Dia” (1958-1960), a emblemática publicação de poesia, crítica e ensaio dirigida por António Ramos Rosa e Casimiro de Brito, que antecipou as novas tendências que marcariam a poesia portuguesa na década seguinte», relembra Graça Fonseca.

Mais tarde, em conjunto com Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta, participou no volume “Poesia 61”, uma obra coletiva que lançou estes autores como as novas vozes da poesia portuguesa na década de setenta.

A ministra da Cultura lembra como o «trabalho poético de Gastão Cruz nesta época, tal como os seus textos de crítica e ensaio, foram fundamentais para um animado e fértil momento de clivagem na poesia portuguesa, que marcou esta geração e que influenciou profundamente o debate sobre a poesia, tanto entre os que o seguiram, como entre aqueles que, por oposição, procuraram percorrer outros caminhos».

Nos seus poemas, tal como nos ensaios e textos de crítica, Gastão Cruz «defendia uma poesia depurada, menos discursiva e mais centrada na carga emocional das palavras e na densidade expressiva da linguagem, mas nem por isso alheia as condições do tempo da sua escrita».

«Se é verdade que, ao longo da sua obra poética, estas características tão vincadamente suas nos primeiros trabalhos se foram atenuando, a poesia de Gastão Cruz revelou, sempre, um trabalho formal rigoroso, depurado e atento a história da poesia portuguesa, que conhecia como poucos. Exemplo da sua visão única e complexa da poesia portuguesa é a sua reunião textos de ensaio intitulada “A Poesia Portuguesa Hoje” (1973), livro que permanece ainda hoje como um marco para compreender a produção poética nacional entre os anos 60 e 70», diz Graça Fonseca.

A obra de Gastão Cruz foi amplamente reconhecida e premiada, tendo recebido alguns dos mais importantes prémios nacionais, como o Prémio D. Dinis o Grande, Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores ou Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia (este último por três ocasiões). Foi também agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e com a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

Para além do seu trabalho como autor, foi um dos fundadores do Grupo Teatro Hoje (posteriormente fixado no Teatro da Graça), que dirigiu e para o qual encenou diversas peças. Foi também diretor da Fundação Luís Miguel Nava e da sua revista de poesia “Relâmpago”.

 



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