Empowered Startups traz negócios com ligação ao mundo para o Algarve e Alentejo

Incubadora de empresas internacional trabalha com empresários que querem expandir-se para novos mercados

O princípio é o mesmo das outras jovens empresas: há uma ideia de negócio, oportunidades no mercado para que prospere e alguém disposto a arregaçar as mangas para a tornar uma realidade. A diferença é que os empresários que a Empowered Startups está a trazer para o Algarve, Alentejo e outras zonas do país não são jovens dependentes de capital alheio, mas sim investidores experimentados, com recursos e ligações internacionais.

Laura Blumes, a diretora-geral para a Europa desta incubadora de empresas digital de âmbito internacional, esteve à conversa com o Sul Informação e contou-nos como é que esta organização, que nasceu há alguns anos no Canadá, chegou a Portugal e aquilo que está a fazer.

E são já quase duas dezenas as empresas que estão a arrancar, em Portugal, ligadas a este projeto, a larga maioria no Algarve.

«Temos cerca de 50 empreendedores [interessados em investir em Portugal]. Penso que temos atualmente 46 no sistema. Mas, no que toca aos que já têm os negócios lançados e bem encaminhados, temos 12 aqui no Algarve e um no Norte. Em Janeiro, são lançados dois em Aveiro e outros dois em Évora», enumerou.

Estes empresários, como todos os fundadores com quem a Empowered Startups trabalha, «têm empresas existentes no país de onde são originários».

«O objetivo deles é estabelecer um negócio em Portugal, que pode ser no setor dos serviços digitais ou pode ser uma plataforma, que é automaticamente conectado a uma empresa no exterior e a todos os seus ecossistemas. Ou seja, é uma empresa portuguesa que tem imediatamente ligações a todos esses ecossistemas. É como se fossem estabelecidas pontes instantaneamente», exemplificou.

Todos os empreendedores «passam por uma uma fase de teste e validação, para confirmar se todos estes links se tornam realidade».

A Empowered Startups foi fundada por Paul Girodo, que, desde novo, formou com a mulher um casal de «verdadeiros empreendedores», habituados a lançar negócios, «um após o outro».

«Paul e o pai dele, que é professor numa universidade do Canadá, participaram num projeto com a Interpol, relacionado com o combate à lavagem de dinheiro, que foi um sucesso. O projeto chamou a atenção do governo canadiano, devido aos avanços que conseguiu», enquadrou Laura Blumes.

Mais tarde, quando o Governo do Canadá decidiu criar um programa de vistos para startups, «como um projeto piloto, foi escolhido um pequeno grupo de entidades para fazer parte da experiência».

«Convidaram incubadoras públicas, investidores “anjo” e perguntaram a Paul se ele também se queria juntar, porque tinha experiência tanto como empresário, como no combate à lavagem de dinheiro», o que acabou por acontecer.

Foi desta forma que nasceu a Empowered Startups, «uma incubadora cujo foco é receber empreendedores transnacionais, com um perfil diferente do que a maioria das pessoas associa a quem cria uma startup».

«Normalmente, pensamos em alguém que esteja na casa dos 20 anos e que talvez não tenha dinheiro. Têm uma ótima ideia, mas não têm recursos, nem conexões, mas vão “abanar” a indústria», ilustrou Laura Blumes.

«No entanto, nos Estados Unidos e na França, os empreendedores são pessoas que estão mais adiantadas nas suas carreiras. Hoje em dia, há estudos que nos dizem que a idade ideal para ser um empresário é 45, mas nós já apostamos nisto há algum tempo», acrescentou.

 

Hugo Barros, do CRIA, com Laura Blumes

 

A chegada desta incubadora a Portugal deu-se no final de 2019, na sequência de uma prospeção feita por Laura Blumes, que supervisionou a criação dos escritórios europeus da empresa, em Grenoble, na França.

«Enquanto estive em França, ouvi falar de Portugal e que este era um país muito dinâmico. Disseram-me que havia cá pessoas que estavam a ir mais além, a procurar conexões que não eram assim tão óbvias e a criar programas muito inovadores, não só em Lisboa, mas também fora dos grandes centros», contou.

A partir daqui, Laura começou «a fazer contactos e a perguntar às pessoas como é que estava a decorrer o programa de vistos [Startup Visa] em Portugal», iniciativa do Governo português que a Empowered Startups ajudou a pôr de pé.

Um dos primeiros contactos foi com um parceiro que estava em Bragança, que falou «sobre o que estava a funcionar e o que não estava a resultar» nesta região.

«Uma das coisas que ele me disse é que o programa de vistos atrai, de facto, pessoas, mas que são pessoas sem dinheiro, apesar de terem boas ideias. O que acontece é que, quando eles cá chegam, acabam por não lançar a empresa, optando por arranjar um emprego», descreveu.

Apesar de «ser bom ter pessoas talentosas a querer trabalhar cá», o ideal é que venham para Portugal «empreendedores que iniciem negócios ligados a atividades internacionais», algo que a Empowered Startups se propõe a fazer, também, no nosso país.

«Uma boa parte do que fazemos é trabalhar com universidades e centros de investigação. Procuramos saber o que se passa nos centros de investigação e como podemos tornar a inovação num negócio com potencial para se expandir internacionalmente», revelou Laura Blumes.

E é precisamente isso que está a acontecer agora, em Portugal.

«Encetámos uma parceria com o Brigantia-EcoPark, que está ligado ao Instituto Politécnico de Bragança (IPB), e, mais tarde, fizemos uma parceria semelhante no Algarve, com o CRIA, e outras em Évora, Leiria e Aveiro. A coisa progrediu e começam a surgir negócios nestes ecossistemas, que são fora de Lisboa ou do Porto, que decorrem da atividade que tem lugar nas universidades», explicou a diretora da Empowered Startups na Europa.

As novas empresas que estão a nascer no Algarve, no Alentejo e nos outros locais onde a incubadora tem parcerias «estão ligadas a outras que o seu fundador já tem no seu país de origem, que pode ser o Canadá, os Estados Unidos ou o Vietname».

«Há muita gente espalhada pelo mundo que vê o mesmo que nós vemos: que Portugal tem um tremendo… hesito em dizer potencial, porque Portugal já provou repetidas vezes o quão capaz é como país e como povo. Penso que Portugal está a provar, mais uma vez, o quanto consegue fazer e o quanto consegue ser», elogiou.

 

 

E que tipo de empresas é que a Empowered Startups está a trazer para o nosso país?

«Há negócios em diferentes áreas, mas eu diria que há um tema: são, principalmente, em Fintech e em cuidados de saúde digitais».

«Por exemplo, um dos projetos que será lançado em Évora tem a ver com cuidados de saúde primários, nomeadamente o tipo de atendimento que é dado a alguém para evitar que fique doente. É um tipo de serviço pensado para pessoas mais velhas ou muito jovens, que assegura que estes se mantêm saudáveis ​​e os monitoriza», disse.

«Isto é particularmente útil em zonas fora dos grandes centros, como o Alentejo, que tem locais onde as pessoas estão muito distantes e não é fácil ir ter com elas, para verificar se a sua pressão arterial está boa e ou ajudar a controlar a diabetes», considerou.

No Algarve, por outro lado, «tem havido bastante interesse em Fintech. Alguns projetos focam-se mais nas criptomoedas, outros em investimento estrangeiro. A grande oportunidade que os empresários estão a ver é que a região está a atrair pessoas abastadas, que vêm para desfrutar do Algarve, mas que também gostam de se envolver em negócios».

O conhecimento criado na Universidade do Algarve permite  que esses investidores, «que já vivem ou que já têm ligações ao Algarve, possam usar os seus recursos para investir ainda mais, na região e em Portugal».

Isto é possível, até porque a investigação que é feita em Portugal «é muito respeitada e reconhecida fora de portas».

Outra vantagem são «as políticas públicas relativas a coisas como as criptomoedas. Há um pensamento de futuro que permite aos investigadores fazer trabalho importante ao nível de blockchain e de cripto, que atrai investidores, porque sabem que o ambiente de negócios lhes vai permitir crescer».

Por outro lado, os alunos que vão trabalhar com esses investigadores «são muito promissores e talentosos», o que significa que os empreendedores «têm uma base de talentos para trabalhar».

«O objetivo de ambas as partes é que estes alunos comecem trabalhar na empresa, não apenas como parte do projeto de pesquisa, mas a longo prazo. E, como podem imaginar, isto também é interessante para as universidades, que podem dizer aos jovens: venham para cá, porque podem ter acesso a uma carreira em empresas que estão sediadas em Portugal, mas que estão ligadas ao mundo», ilustrou.

«O que é certo é que há dinheiro a entrar em Portugal e que pode ficar no país e ser redirecionado para ajudar no crescimento do país, ao mesmo tempo que, obviamente, beneficia os próprios investidores», assegurou Laura Blumes.

Todos os investidores que aderem ao programa Startup Visa tencionam «tornar-se cidadãos de Portugal. Todos eles estão a construir uma base em Portugal, para que passem a ter cá uma casa».

«Há o exemplo de um investidor americano, que vive no lado ocidental dos EUA. Ele tem mulher e dois filhos, que estão em idade escolar, e quer mudar-se para Portugal. No entanto, não pode ir embora assim de repente. Ele tem toda uma vida, que é o que paga o novo negócio que está a lançar aqui», contou.

Desta forma,  «ele está a lançar-se, a crescer e, lentamente, vem cada vez mais e mais frequentemente a Portugal. No final, ele completará a transição e, mesmo mantendo o negócio que tem nos Estados Unidos, vai passar a viver em Portugal».

Segundo Laura Blumes, os fundadores associados à Empowered Startups têm outra coisa em comum: «todos querem criar algo maior, são todos empresários por vocação. São pessoas que estão sempre com vontade de entrar em algo novo e interessante».

E Portugal tem, não só, oportunidades para explorar, mas também uma tradição de valorizar «as coisas importantes da vida, como boa comida, beleza natural e convivência pacífica, num local onde as pessoas são educadas e amáveis ​​umas com as outras».

Os portugueses, considera a diretora para a Europa da incubadora, «perseguem sempre algo maior, mas sem esquecer de apreciar as coisas que são boas para a nossa alma».

«E acho que há cada vez mais pessoas a considerarem que essa é a chave para uma vida boa», rematou.

 

 

 



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