As secas prolongadas e a falta de água a curto prazo

Porque é que não há, desde há meses, campanhas de sensibilização e um plano com medidas de economia da água, quer para o meio rural, quer para o meio urbano?

Seca no Sul de Portugal – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

Estamos a assistir, um pouco por todo o mundo, aos sinais inequívocos da ameaça da falta de água e às consequências das secas prolongadas que afligem hoje milhões de pessoas.

Já em 2019 uma reportagem de vários jornais ingleses e americanos chegada até nós pelo Courrier Internacional, descrevia os cenários de dezasseis países que viviam em stress hídrico, afectando milhões de pessoas.

Grandes cidades sofrem desde há muito com episódios de escassez de água, no Brasil, na Índia e na África do Sul, mas também no México – e os infelizes habitantes de algumas regiões do Corno de África e da Etiópia continuam a ver morrer o seu gado à sede e à fome.

Há uns 7000 anos, o povo que habitava no Tassili (planalto) N’Ager, região do Sahara oriental elevada cerca de 800 metros acima da cota média do deserto, teve que abandonar a região, deslocando-se para o vale do Nilo, deixando testemunhos impressionantes da sua miséria.

Mas essa calamidade foi provocada por transformações climáticas naturais, como sempre ocorreram ao longo de milhões de anos; agora estamos num tempo de alterações climáticas, devidas sobretudo às acções do homem, que empurram o clima para um aquecimento global quando, na opinião de alguns investigadores, a Terra deveria estar a entrar num pequeno período glaciar.

 

In Courrier Internacional

 

O mapa do World Resources Institute (WRI), aqui publicado com a devida vénia, é bem esclarecedor sobre as regiões mais afectadas pela escassez de água e vê-se facilmente como nós, Portugal, estamos incluídos nessas regiões com as cores mais escuras.

Esta informação conjuga-se com outras que nos chegam há vários anos de cientistas como os do Internacional Pannel on Climate Change (IPCC), da ONU, e que fez publicar outro mapa aqui reproduzido, de novo com a devida vénia, e que dispensa palavras.

 

In Público

 

Parece que os Governos em Portugal governam um país de outro planeta, porque não dão conta da dramática situação a que estão a chegar os recursos hídricos no nosso país. Para os Ministros da Agricultura (será que existem mesmo?…) e para o iluminado do Ambiente tudo continua impávido e sereno no que concerne a medidas de fundo – atiram é sempre com milhões para a frente!

No Ministério da agricultura apoia-se a extensão dos pomares de regadio intensivo, em vez de se apostar em culturas agroalimentares de que temos tanta carência. E no do Ambiente a palavra é sempre a mesma: está tudo controlado.

Vão perguntar aos pequenos agricultores da Costa Vicentina, que deixaram de ter água para a rega das hortas e dos pomares, se acham que está tudo controlado.

Perguntem aos produtores do norte do país se estão confortáveis com a falta de água para os seus regadios; e aos pastores da Serra da Estrela se acham que está tudo controlado, quando não tem pastos para o gado na altura que é a de fazer o famoso queijo da Serra – e se lhes dão alguma alternativa.

Tudo controlado?

Como é que um governo pode ser tão imprevidente no que respeita ao sector primário, fundamental para a sustentabilidade do país? Porque é que não há, desde há meses, quando se começou a desenhar este panorama já dramático, campanhas de sensibilização e um plano com medidas de economia da água, quer para o meio rural, quer para o meio urbano, quando de sabe, desde muitos anos a esta parte, das enormes perdas anuais nas redes de distribuição?

Porque se atrasou no empreendimento de um programa de dessalinização da água do mar para uso doméstico, como sucede na maioria dos países mediterrânicos, para abastecimento urbano das concentrações populacionais do litoral? Tem estado à espera de quê? – que surja um negócio chinês e uns tachos para alguns notáveis?

Ainda vamos assistir a danças da chuva ou a romarias à Senhora de Fátima…

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista…e escreve com a ortografia que aprendeu na escola

 

 

 



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