Não há futuro sem turismo – nem sem sustentabilidade

Futuro do turismo esteve em foco no último dia do 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo da AHP, que decorreu em Albufeira

O Presidente da República no Congresso – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

«Sem turismo não há futuro», mas o futuro do turismo no Algarve passa, obrigatoriamente, por uma preocupação com a sustentabilidade e por um olhar sério para o território, para quem lá vive e para a valorização dos recursos humanos.

Estas foram algumas das ideias fortes que resultaram do último dia do 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, em que, além do painel “Algarve: onde estão as ameaças e as oportunidades?”, discursaram o Presidente da República e Rita Marques, secretária de Estado do Turismo.

E a mensagem deixada pelos diversos intervenientes nesta reta final do congresso da Associação de Hotelaria de Portugal, que decorreu entre os dias 10 e 12 no hotel NAU Salgados Palace, em Albufeira, foi de que o turismo tem futuro, mas que é preciso trabalhá-lo, para que ele seja risonho.

«Já estamos em pleno renascimento do turismo em Portugal. E o importante é reconstruir, não retomar. O que estamos a construir é diferente, num contexto e com desafios distintos», avisou Marcelo Rebelo de Sousa, que encerrou o congresso.

«O turismo é fundamental para o Algarve, mas não é o suficiente. Há as questões do território, sociais e ligadas às outras atividades. O turismo é muito importante, mas não é o único importante», acrescentou o Presidente da República.

«Quem mais progride são aqueles que valorizam o capital humano», avisou ainda, referindo-se a um dos temas quentes do congresso,  o da falta de mão-de-obra.

 

Presidente da República no Congresso – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Antes, o Chefe de Estado já tinha afirmado que «o turismo é o futuro e o futuro, largamente, é o turismo», uma ideia em linha com a que Rita Marques havia deixado momentos antes, no seu discurso.

«O turismo tinha, tem e terá futuro. Diria mais: sem turismo não há futuro», afirmou a governante, que defende que este setor deve ser o «motor e farol da economia».

Antes, durante a sessão dedicada à região anfitriã do congresso, Marta Cabral, diretora executiva da Rota Vicentina, foi, como se esperava, uma voz de alerta para as questões das sustentabilidade e do território.

«O turismo só será sustentável quando a prioridade for o território e as pessoas que cá vivem», acredita.

A solução passa por apostar na cultura e na identidade, das quais o turismo «precisa».

 

Marta Cabral – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Mas, para as atividades ligadas ao território e à tradição serem realmente atrativas, «tem de haver investimento longo e sustentado», assente num trabalho de rede e em que não se esperem resultados económicos no curto prazo, acredita Marta Cabral.

Também João Soares, representante da AHP no Algarve e que moderou, com o também hoteleiro Rodrigo Machaz, o painel “Algarve: onde estão as ameaças e as oportunidades?”, faz a mesma relação entre turismo e território. «É o futuro, não há volta a dar», disse.

Além de Marta Cabral, participaram neste painel João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, e Mário Azevedo Ferreira, CEO do Grupo NAU Hotels & Resorts. O enquadramento foi garantido por Eduardo Abreu, sócio da Neoturis, o keynote speaker do painel.

A base da conversa que se seguiria foi lançada por este especialista, que chamou, desde logo, a atenção para as mudanças que se têm vindo a verificar no setor, no Algarve, nos últimos anos.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«O Portugal e o Reino Unido representaram cerca de 50% do mercado, este Verão. Mas o peso destes dois mercados já foi de 60%», ilustrou.

Ao mesmo tempo, mercados que antes não eram tão expressivos, «como o Brasil, a França, os Estados Unidos da América ou a Itália, tiveram um crescimento na ordem dos 30%».

«Pode-se dizer que a base de comparação  é baixa, mas já começam a ser números expressivos. Com os franceses que vêm para o Algarve, conseguiríamos encher este hotel 12 vezes, durante todo o ano», exemplificou Eduardo Abreu.

«Isto indica que a dependência do Reino Unido está a esbater-se, o que é bom», acrescentou.

Por outro lado, o mesmo especialista salientou que o desempenho do Algarve, nos meses de época baixa, tem crescido a um ritmo maior do que a média anual da região. Ou seja, «há um esbater da sazonalidade».

Quanto às principais ameaças, Eduardo Abreu apontou «a concentração geográfica e de produto – sol e praia e golfe», e o ordenamento do território, tendo em conta «a diversidade de planos que existem (desisti aos 554)», algo que, na sua visão, «é prejudicial».

As «obrigatoriedades» com que os empresários se deparam, as muitas entidades envolvidas nos licenciamentos e os demorados processos burocráticos, bem como «a escassez de recursos humanos», são outras ameaças identificadas.

Quanto a oportunidades, passam pela potencial integração dos segmentos da hotelaria e do turismo residencial, que não têm «de estar de costas voltadas» e que podem ser complementares, bem como «a capitalização do investimento recente e anunciado», nomeadamente o estrangeiro.

 

Mário Azevedo Ferreira – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Mário Ferreira, do grupo Nau Hotels, mostrou-se particularmente preocupado com a mão de obra, garantindo, mesmo, que os hoteleiros estão «a ficar aterrorizados com a perspetiva para 2022».

O gestor hoteleiro considerou que, no Algarve, há «um desequilíbrio  entre a atividade dominante e a distribuição do emprego», uma vez que há atividades que ficam com uma fatia maior da mão-de-obra disponível do que o peso que têm na economia. Já o turismo, fica a perder, nesta comparação.

Na visão de Mário Ferreira, além de uma má distribuição, há um défice de população ativa na região. «O Algarve precisa de mais 50 a 60 mil pessoas» em idade ativa, afirmou.

No entanto, atrair essa mão-de-obra é difícil, tendo em conta que casas a preços acessíveis é algo que escasseia no Algarve .

«A razão principal é que não há habitação, esse é o grande problema. (…) O Algarve tem uma enorme atratividade para turistas, mas não para atrair e fixar residentes ativos. Há uma enorme dificuldade para contratar médicos, enfermeiros, professores e forças de segurança, muito devido à falta de habitação», acredita o CEO do Nau Hotels.

O mesmo responsável aponta ainda a «falta de uma rede de transportes» e «uma lei laboral que não é amiga do emprego, rígida, genérica, inspirada na indústria e não adequada a uma região afetada pela sazonalidade» como entraves à resolução dos problemas de recursos humanos.

 

João Fernandes- Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

João Fernandes acabou por ser o defensor do setor público, desde logo das autarquias, que «têm estado na linha da frente das soluções», lembrando «o saneamento básico e a recolha de resíduos», que são uma forte aposta das Câmaras do Algarve há décadas, a pensar no turismo.

Por outro lado, há planos delineados, a nível municipal, no Algarve, para criar habitação acessível e financiamento do Governo central para alavancar os projetos existentes.

Já noutras áreas, o Algarve acaba por ser prejudicado por ser uma região em Phasing Out do Objetivo de Convergência da União Europeia, onde estão as regiões mais pobres, o que significa que não tem acesso a tantos fundos comunitários.

«Planos há muitos, o que falta, muitas vezes, é o financiamento para os concretizar», acredita o presidente da RTA.

«Defendo a regionalização como forma de resolver muitos dos problemas existentes, nomeadamente ao nível da burocracia», disse ainda João Fernandes.

Apesar dos problemas com que o setor se debate, João Soares, também ele gestor hoteleiro, neste caso do D. José Beach Hotel, encerrou o painel com uma nota de esperança: «acho que 2022 vai ser um bom ano turístico».

«Saio daqui convicto que vamos ter um Algarve diferente e melhor», rematou.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 



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