Como no Samba de uma nota só

Eis como três profissões humildes, mas que prestavam serviços inestimáveis ao País, desapareceram graças à clarividência dos nossos políticos e governantes

Como no Samba de uma nota só…também eu bato sempre na mesma tecla, e farei isso todos os anos, mesmo sabendo que não leva a nada: havia três profissões cujos trabalhadores, embora humildes, eram dos que melhor serviam o País.

As bermas e taludes das estradas são faixas de protecção e, sempre que possível, servem para que um veículo possa encostar com alguma segurança, em caso de emergência, por isso, devem ser limpos e conservados.

Foto 1 – Bermas de estrada por limpar

Ora a primeira foto, tirada já depois do Verão, mostra o matagal a tapar a berma e o talude, o que pode ser verificado em muitas estradas algarvias, embora as Câmaras Municipais tivessem limpo algumas estradas já em pleno tempo de canícula.

Antigamente, havia cantoneiros que, com as suas equipas, mantinham as faixas laterais das estradas em condições; agora são umas empresas que, de vez em quando, são encarregues desse trabalho e então rapam tudo. Ora, os taludes devem ficar sempre com vegetação suficiente que assegure a sua estabilidade.

 

Foto 2 – Ribeira atulhada de vegetação

A segunda foto mostra uma ribeira algarvia atulhada de vegetação que impede o escorrimento normal do caudal; esta mesma ribeira, quando chove a sério, provoca as cheias que a terceira foto revela.

Ninguém limpa as ribeiras, e isso deve encher de orgulho o Ministério do Ambiente. Antigamente, havia os guarda-rios que, com as suas equipas, mantinham as ribeiras limpas e obrigavam os proprietários de terrenos marginais também a limparem os terrenos que confinassem com os cursos de água. Hoje, são rastilhos para incêndios com as ervas secas…

 

Foto 3 – Enxurrada na ribeira

A quarta foto: finalmente, a tragedia maior que tem, por vezes de forma dramática, assolado o nosso país – os incêndios florestais.

Antigamente, havia uma estrutura regional e local de defesa e gestão das áreas florestais, que era assegurada pelos Serviços Florestais, através dos seus administradores e, sobretudo, pelos mestres e guardas-florestais que estavam instalados no terreno.

Como somos um país de grandes ideias e inovações, acabaram com essa instituição e mandaram os guardas-florestais, quais polícias, para a GNR. Decaiu a vigilância, deixou de se assegurar a limpeza das matas e os fogos atingiram proporções nunca antes vistas.

 

Foto 4 – O resultado dos incêndios

Os incêndios de Monchique e recentemente o da região de Castro Marim são exemplos da ineficácia dos métodos e estratégias de combate aos fogos, onde nunca se vê um engenheiro florestal, mas apenas galões e divisas de “oficiais e sargentos” da Protecção Civil, a grande “manta” que cobre tudo – haja deuses!

E nem sequer a Mata Nacional da Conceição tinha uma estrutura de defesa que qualquer silvicultor teria sabido montar, o que também já não admira, pois há uns anos deixaram arder na totalidade a Mata Nacional de Leria, o velho Pinhal do Rei, de onde haviam sido retirados os guardas-florestais, os trabalhadores permanentes e deixadas por fazer as limpezas dos talhões. Mais palavras para quê? Algum governante se preocupou muito com isso?

E eis como três profissões humildes, mas que prestavam serviços inestimáveis ao País, desapareceram graças à clarividência dos nossos políticos e governantes, numa democracia cada vez mais desconchavada e perante a inércia do povo!!

Hei-de recordar isto todos os anos!…

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista…e escreve com a ortografia que aprendeu na escola.

 

 



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