Inquérito a recém-licenciados revela os desafios do mercado de trabalho no Algarve

Quase metade dos inquiridos considera que não existem empresas atrativas para trabalhar no Algarve

A pandemia trouxe muitas mudanças e não há margem para dúvidas de que essas mudanças terão um impacto para todo o sempre no modus operandi do atual mercado de trabalho, não só da região algarvia, como de todo o país.

De repente, fomos obrigados a trabalhar a partir de casa ou em formato hibrido, os serviços que privilegiavam o contacto físico e a proximidade foram abruptamente interrompidos e as novas gerações viram as suas ambições profissionais serem, mais uma vez, suspensas por uma crise económica e financeira.

Por essa razão, o Thinking Algarve, um think tank da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas, levou a cabo um inquérito online a mais de uma centena de jovens recém-licenciados durante o ultimo trimestre do ano de 2020, com o objetivo de perceber quais eram as suas perspetivas e ambições em relação ao mercado de trabalho no Algarve, antes e após a pandemia da Covid-19.

Posteriormente, realizou-se um debate sobre os dados do estudo e uma troca de ideias, com um painel de pessoas conhecedoras da realidade do mercado de trabalho da região.

No entanto, os resultados deste questionário revelaram que a realidade pós-pandémica irá mudar de forma abrupta o mercado de trabalho na próxima década. Isto porque, atualmente, em Portugal, as novas gerações são mais qualificadas, estão tecnicamente mais preparadas, estão mais conectadas com o mundo através do digital e têm curiosidade para aprender mais face às constantes alterações globais do mercado de trabalho.

Mas centremo-nos nos resultados mais relevantes do estudo, onde 36,6% dos inquiridos espera auferir um salário entre 700€ a 800€ ao entrar no mercado de trabalho. E aqui neste indicador é percetível que os jovens não estão alheios à dificuldade que é auferir um salário médio em Portugal. Segundo dados do Pordata, em 2019, o salário médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem situava-se nos 1.005,10 euros.

Outro dado interessante do estudo é que 49,1% dos inquiridos afirmam que o trabalho ideal passaria pela criação da própria empresa, revelando assim que as novas gerações têm vontade de empreender e criar novos negócios por conta- própria.

Não obstante, 50,9% referiu que o trabalho ideal passa por trabalhar por contra de outrem, numa empresa já estabelecida, com solidez e estabilidade do ponto de vista organizacional, ou seja, sem as dificuldades iniciais que existem aquando da criação de uma empresa ou negócio.

Aliás, um dado curioso que resulta deste estudo prende-se com as cinco desvantagens mais mencionadas pelos inquiridos, aquando da criação da própria empresa: lidar com o sistema jurídico e legal nacional, a burocracia e questões administrativas, lidar com as instituições financeiras, fazer investimento do seu próprio “bolso” e a ausência de limite salarial.

Oito em cada dez inquiridos assinalaram que a progressão na carreira é um dos fatores que mais valorizam enquanto profissionais, e aqui é visível que. nas novas gerações, se as empresas onde trabalham apostarem na sua progressão de carreira, através de políticas de desenvolvimento atrativas, com grande foco na progressão e na formação permanente, a relação laboral será duradoura, levando assim a vínculos mais estáveis.

Outro fator interessante, mas menos positivo, a ter em conta a partir deste estudo e que foi referido por 86,6% dos inquiridos, é que a diversidade de oferta de trabalho no Algarve é limitada ou muito limitada.

E aqui o grande problema está na própria estrutura económica da região, que não é diversificada e está excessivamente especializada e centrada no turismo.

Contudo, há todo um conjunto de setores que podem, de certo modo, impactar e reinventar o mercado de trabalho da região, nomeadamente, o setor primário, as indústrias culturais e criativas e as indústrias transformadoras de alta e média tecnologia.

Dizer ainda que 48,2% dos inquiridos consideram que não existem empresas atrativas para trabalhar no Algarve. Aqui a estratégia para ultrapassar esta limitação poderá passar por melhorar a literacia financeira, de gestão e organizacional de alguns empreendedores e respetivas empresas, de forma a que os seus negócios possam ganhar escala, inovar e tornarem-se médias ou grandes empresas robustas e mais sustentáveis financeiramente

Um dado curioso que surgiu no debate online que se realizou para se analisar os resultados do inquérito, foi que, em algumas empresas na região do Algarve, existe dificuldade em encontrar recursos humanos para as posições menos qualificadas, e este facto pode colocar em risco a recuperação económica da região em alguns setores que dependem de mão-de-obra não qualificada, pelo que urge dar uma resposta de igual modo, à semelhança da mão-de-obra qualificada, que é a valorização do capital humano com políticas de desenvolvimento e formação permanente.

Questões como o futuro do mercado de trabalho, a estrutura económica da região do Algarve, a transição digital, ou até mesmo as questões ambientais e climáticas, estarão cada vez mais na espuma dos dias.

Mas, para se alcançar verdadeiramente a mudança no que está a correr mal, é necessário o envolvimento e vontade de todos(as), e para isso, o think tank Thinking Algarve espera continuar a ajudar nesta missão de levar o Algarve a níveis mais elevados, empenhando-se na resolução dos problemas das pessoas.

 

Autor: Ricardo Proença Gonçalves é licenciado em Gestão de Empresas e Pós-Graduado em Gestão de Unidades de Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.
Detém também um Executive Program em Controlo de Gestão e Avaliação de Performance pela Nova SBE.
É igualmente membro estagiário da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas.

 

 



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