Jovens economistas andam por aí “Thinking Algarve”

Membros da delegação regional da Ordem dos Economistas juntaram-se para pensar o Algarve

Foto: Flávio Costa | Sul Informação

São jovens, são economistas e, juntos, propõem-se a “Thinking Algarve”. Um grupo de membros da delegação regional do Algarve da Ordem dos Economistas uniu-se para criar um think tank para refletir sobre os grandes temas económicos e a forma como afetam o Algarve e já lançaram um questionário online, para conhecer as perspetivas dos recém-licenciados algarvios em relação ao mercado de trabalho.

Carina Jesus, João Justo, João Martins, Ricardo Proença e Rita Silva são os membros deste grupo e os obreiros do projeto “Thinking Algarve”.

Foram eles que pensaram e elaboraram o questionário “Perspetiva dos Jovens sobre o Mercado de Trabalho no Algarve”, dirigido a alunos finalistas do ensino superior (licenciatura, mestrado ou doutoramento) na região do Algarve e aos detentores de habilitações académicas superiores que entraram no mercado de trabalho nos últimos quatro anos e que, atualmente, residem, trabalham ou procuram trabalho no Algarve.

«O nosso pontapé de saída é o inquérito quanto às expetativas dos jovens em relação ao mercado de trabalho, que acabámos por adaptar à situação de pandemia. O objetivo é recolher a visão dos alunos aqui da Universidade do Algarve, mas também dos recém-licenciados», explicou ao Sul Informação Ricardo Proença, um dos mentores do projeto.

Os temas a abordar passam pela estabilidade do emprego, nomeadamente «o tipo de contrato, se a remuneração é justa, se estão contentes ou se pensam em mudar».

 

Ricardo Proença – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

A ideia de criação deste think tank algarvio, composto por membros mais recentes da Ordem dos Economistas, todos eles com fortes ligações à Univgersidade do Algarve, «surgiu há cerca de um ano e tem vindo a ser maturada desde então».

«A ideia surgiu de conversas com o João Justo, que é o economista puro e duro, digamos assim (risos). Quando nos começámos a cruzar nas iniciativas da Ordem dos Economistas – que são muitas, tendo em conta que a delegação do Algarve está muito dinâmica -, passámos a trocar entre nós artigos de jornal, dados do INE, do Banco de Portugal, da OCDE e de todo um conjunto de instituições e analistas», acrescentou Ricardo Proença.

O lançamento do projeto esteve pensado para o início de 2020, «mas, com o surgimento da Covid-19, não conseguimos arrancar no final do 1º trimestre, como pretendíamos. Quisemos, antes de começar, garantir que havia um processo mais institucional, dentro da própria Ordem, para garantir o seu apoio, tendo em conta que ela é a nossa base».

Um dos grandes objetivos do “Thinking Algarve” é levar os grandes temas económicos junto das gerações mais jovens, depois de trocados por miúdos.

«Eu disse ao João: Nós podíamos filtrar a informação, porque alguns estudos são maçudos, com 20 ou 30 páginas, e fazer coisas mais pequenas, relacionadas com o Algarve. E podemos começar por lançar um estudo direcionado aos jovens que estão agora a sair da universidade», contou Ricardo Proença.

As temáticas que o grupo se propõe a abordar «vão desde a própria economia ao mercado laboral, passando também pela saúde, a educação, as alterações climáticas e a energia».

 

Carina Jesus – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

E isto é importante porquê?

Carina Jesus confessa ao nosso jornal que sente que «há uma grande alienação da parte dos mais jovens em relação a estes assuntos».

«Penso que há um pouco aquele pensamento fatalista, de que não podemos fazer nada, de que está tudo nas mãos dos decisores políticos. Mas eu acho que não, acho que há coisas que podemos fazer. Podemos não ter uma grande influência enquanto indivíduos, mas podemos, pelo menos, tentar perceber o que se passa no nosso Algarve, onde há disparidades tão grandes, e contribuir para a encontrar soluções», disse.

O tema escolhido para o primeiro questionário e consequente estudo sobre o acesso ao mercado de trabalho, para licenciados, no Algarve, acaba por juntar todas essas vertentes.

Afinal, é um assunto que muito diz respeito aos jovens e que está na ordem do dia, principalmente numa altura de pandemia.

«Na altura em que começámos a falar disto, eu e o João tínhamos saído da universidade há cerca de um ano e queríamos perceber o que os jovens recém-empregados, bem como os alunos finalistas e mesmo alunos de outros anos, acham do mercado  de trabalho no Algarve e saber quais as suas expetativas», contou Ricardo Proença.

«E porquê? É verdade que há oportunidades, mas não é fácil integrar-nos no mercado de trabalho. Quem não tiver uma boa bússola, pode dar consigo um pouco perdido e ter alguma dificuldade em encontrar a coisa certa, quando terminar o curso», resumiu.

 

Rita Silva – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

Este não foi o caso de Rita Silva, que terminou o curso em 2019 e conseguiu, em menos de um mês, ingressar num banco, onde ainda continua. Mas nem todos tiveram a mesma sorte.

«Tenho colegas que acabaram o curso no final do ano passado e que viram a sua situação complicar-se muito com o entrar da pandemia. Este é um problema muito grande e cujo fim não está à vista, porque as empresas estão cada vez mais reticentes em contratar, para mais em admitir pessoas com fraca experiência», assegurou a jovem economista.

Além deste, há muitos outros temas que os membros do “Thinking Algarve” querem abordar, até porque o que os une é o gosto pela análise e pela busca de conhecimento.

«Juntei-me a este grupo a convite do Ricardo. Fui conquistada pela ideia deste projeto. Na altura, ainda nem sequer pertencia à Ordem dos Economistas, acabei por me juntar para poder fazer parte deste projeto. Aquilo que nós temos todos em comum é o gosto por ler e por nos informar e acabámos por dar conta de que nós conseguimos decifrar alguns relatórios e alguns documentos porque temos formação para isso. E talvez haja uma falha em passar muita dessa informação para os outros jovens da nossa geração», lembrou Carina Jesus.

Desta forma, os elementos do grupo acharam «que seria interessante pegar na informação que já existe e colocá-la de uma forma mais curta, mais apelativa, de modo a que as pessoas possam ler em cinco minutos. Trata-se, no fundo, de desconstruir alguns temas e adaptá-los a linguagem do dia-a-dia, para que eles cheguem a mais pessoas».

Ricardo Proença dá o exemplo do impacto do Orçamento de Estado no Algarve, um dos estudos que o grupo quer fazer. «Já há quem faça essa análise, mas gostaríamos de fazer o escrutínio a longo prazo, para tentar perceber o que a região beneficiou, ou não, com o Orçamento de Estado».

A estratégia é «começar com pequenas coisas, que se vão adicionando umas às outras e, no final, se tornam um caderno de estudos, um cenário com cinco ou seis áreas».

 

João Justo – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

Até porque há questões que têm de envolver toda a sociedade, como é o caso da necessidade de diversificação da economia algarvia, um tema que a pandemia veio colocar, mais do que nunca, na ordem do dia.

«Uma das coisas que nós aprendemos em Finanças é a diversificação da atividade económica. Por isso, sem dúvida que o futuro do Algarve terá de passar por manter um setor do turismo com muita qualidade e força, mas também pela promoção de outras atividades, nas quais a região se possa afirmar. Temos o Mar e a energia, por exemplo, que já foram temas de sessões promovidas pela delegação regional da Ordem dos Economistas», acredita João Justo.

«Queremos contribuir aqui com a visão dos jovens sobre os temas mais importantes, na área económica», acrescenta, explicando que, em determinados temas, como o mar ou a saúde, podem vir a ser envolvidos alunos de outros cursos da UAlg.

A ideia é, aliás, que este think tank cresça.

«O grupo não está fechado. Digamos que esta é a base, mas a ideia é que vão entrando mais pessoas. Queremos que haja continuidade. Até porque acho que, para dignificar as profissões das áreas da Economia e da Gestão, é importante que as pessoas, nomeadamente os jovens recém-licenciados, se inscrevam na Ordem, porque ela é um meio para os ajudar a ingressar no mercado de trabalho», ilustrou Ricardo Proença.

«Captar novos membros seria uma mais-valia. Quando saímos da universidade temos tendência a ficar um bocado perdidos, sem saber por onde começar, para encontrar um emprego e quais as dinâmicas que têm que ter para se inserir no mercado de trabalho. Penso que, ao juntar-se à nós, ficam a ganhar», reforçou Rita Silva.

 

Fotos: Flávio Costa | Sul Informação

 

 

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