Um mural na sede do GRATO para mostrar o trabalho e marcar a diferença

Pintura do mural culmina uma fase de profunda reformulação das instalações do GRATO

Xavier, que foi uma figura conhecida das ruas de Portimão, é um dos destaques do mural que, desde há cerca de duas semanas, decora as paredes exteriores da sede do GRATO, um pavilhão situado na Avenida Guanaré, na zona ribeirinha de Portimão.

O autor do mural é o writer Helder José, ou antes, Bamby, um portimonense que é figura conhecida do mundo da street art no Algarve. «Demorei cerca de uma semana a fazer este mural, apesar de ter trabalhado três a quatro horas por dia», disse o artista ao Sul Informação. O seu trabalho, que pode ser conhecido em mais detalhe aqui, foi uma oferta ao GRATO.

Joaquim Magalhães Alves, presidente do GRATO, explicou que o objetivo do mural é «dar visibilidade e tornar as instalações mais agradáveis», mas também «mostrar a diferença e as diversas áreas do nosso trabalho».

Criado há 26 anos, o GRATO—Grupo de Apoio aos Toxicodependentes é uma Instituição Particular de Solidariedade Social com sede em Portimão. Quando foi fundada, tinha como objetivo principal a prestação de serviços à comunidade na área da toxicodependência, mas hoje o seu trabalho vai muito para além disso.

«Apoia pessoas que estão direta ou indiretamente relacionadas com o problema da adição a substâncias psicoativas, ou outras, e presta serviços à comunidade desfavorecida e excluída socialmente», explica a IPSS no seu site.

Para se ver como é abrangente o trabalho atual do GRATO, basta dizer que, além da sua sede, que acolhe gabinetes e os serviços administrativos, situada num antigo pavilhão dos correios na Avenida Guanaré, a missão desta IPSS passa ainda pelo banco alimentar situado na Avenida 25 de Abril, pela Casa de acolhimento Temporário para Mulheres sem abrigo, vítimas de violência doméstica ou noutra situação de vulnerabilidade, na Pedra Mourinha, pelo Apartamento de Reinserção Social na Quinta do Amparo, destinado a pessoas provenientes das comunidades terapêuticas ou que saem dos estabelecimentos prisionais, de modo a que não fiquem na rua e a incluí-las depois na vida social, pela Creche Jardim do Sol, para 40 crianças, construída de raiz na Cruz da Parteira, pelo CLDS (apoio na formação às crianças e aos pais, fazendo a ponte com as escolas, apoio ao emprego) ao pé da estação, ou ainda pela intervenção direta de rua.

Ao todo, há uma equipa de 39 pessoas, com especializações em diversas áreas, que assegura todas estas respostas sociais. Em certos projetos, o GRATO conta também com a ajuda de voluntários, alguns deles pessoas que já foram apoiadas pela instituição, em fases difíceis das suas vidas.

 

O street artist Bamby (segundo da esquerda) entre os responsáveis pelo GRATO

Como tem acontecido em outras regiões do Algarve, também em Portimão a pandemia aumentou o número de pessoas carenciadas. «Há famílias inteiras a vir aqui buscar comida e temos uma lista de espera no nosso banco alimentar», acrescenta o presidente da instituição. É que, salienta Joaquim Magalhães, «cada vez estão a surgir mais novos pobres. Quando acabarem as moratórias dos empréstimos bancários, vai ser ainda mais complicado».

Luís Norte, psicólogo que é o coordenador do GRATO, fala, por exemplo das 150 refeições diárias que chegam a ser dadas à população carenciada e a pessoas sem abrigo. «Estávamos a dar 24 refeições diárias, agora são cerca de 80 por dia. Damos pequeno almoço e almoço. Mas, ao fim de semana, podemos dar 150 a 200 refeições diárias. São refeições para famílias e para idosos que têm uma reforma muito parca, com debilidades, cujo orçamento é gasto quase todo em medicamentos».

O banco alimentar do GRATO apoia mais de 240 pessoas. «São sobretudo famílias com crianças e idosos, que têm onde fazer a comida, mas não têm como comprá-la», acrescenta Luís Norte.

«A pandemia veio trocar-nos as voltas. Íamos buscar comida às escolas, a que era lá confecionada mas depois não era consumida, mas isso acabou, porque as escolas fecharam. Fazíamos eventos para angariar fundos, como sardinhadas ou festas, mas isso também parou», lamenta Joaquim Magalhães.

«90% do que recebíamos e dávamos vinha das escolas, assim tivemos de criar novas parcerias e novos patrocínios», explica Luís Norte.

Agora, o que vai valendo são os donativos de empresas como os hipermercados Continente e Auchan (que doam os congelados em fim de prazo, por exemplo), «as pastelarias que nos doam diariamente pão e bolos, restaurantes como A Cozinha ou o Ícon do Algarve, ambos aqui de Portimão».

No dia em que o Sul Informação esteve na sede a fotografar o mural, o GRATO foi contactado para ir buscar todos os frescos e congelados de um restaurante que estava a funcionar em regime de take away, mas teve de fechar devido a um caso de Covid-19 na sua equipa. «Vamos vivendo assim, mas cada vez é mais difícil, porque também temos cada vez mais pedidos de apoio das pessoas», salienta Joaquim Magalhães.

Apesar das dificuldades, os responsáveis pelo GRATO não baixam os braços e até têm projetos novos, como o da aquisição de uma carrinha refrigerada para apoiar na angariação de alimentos.

Quem quiser apoiar o GRATO pode fazê-lo com donativos (em dinheiro ou em bens, nomeadamente alimentos, produtos de higiene, roupas, fraldas, mobiliário), com trabalho, tornando-se voluntário, ou até doando 0,5% do IRS aos projetos da instituição.

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 



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