Sabia que 327 satélites foram colocados em órbita em Março?

O lançamento de satélites tornou-se de tal forma rotineiro que o acontecimento só merece referência quando algo corre mal

No passado mês de Março, foram colocados em órbita 327 satélites num total de 10 lançamentos orbitais.

De facto, nos nossos dias, o lançamento de satélites tornou-se de tal forma rotineiro que o acontecimento só merece referência quando algo corre mal e mesmo assim, o falhanço tem de ser visualmente «espectacular» para merecer algum destaque.

Porém, o nosso dia a dia não seria o mesmo sem estes lançamentos, pois a nossa sociedade tecnológica está totalmente e cada vez mais dependente daquilo que colocamos na órbita da Terra.

Por sua conta, em Março, a empresa Norte-americana Space Exploration Technologies Corp., usualmente conhecida como SpaceX, colocou em órbita 240 satélites para a sua rede global de fornecimento de serviços de Internet de alta velocidade.

SpaceX projetou o Starlink para conectar utilizadores de Internet com baixa latência, oferecer serviços de distribuição de elevada largura de banda, fornecendo uma cobertura contínua em todo o mundo, usando uma rede de milhares de satélites em órbitas terrestres baixas, especialmente em lugares onde a conectividade é fraca ou inexistente, como por exemplo em zonas rurais.

Os Starlink também darão cobertura em locais onde os serviços existentes são instáveis ou de elevado custo.

Estes lançamentos da SpaceX tiveram lugar a 4, 11, 14 e 24 de Março, utilizando foguetões Falcon-9 lançados desde o Cabo Canaveral ou desde o Centro Espacial Kennedy.

Ganhando momento para o seu programa espacial tripulado, que deverá ver um grande avanço no corrente mês de Abril, a China realizou também vários lançamentos orbitais em Março, colocando em órbita cinco satélites.

O primeiro lançamento chinês, no mês passado, teve lugar no dia 11. Este foi um lançamento importante para as aspirações chinesas, pois foi o segundo lançamento do novo foguetão Chang Zheng-7A (“Chang Zheng” significa “Longa Marcha), mas o primeiro a ser bem sucedido, pois o seu lançamento inaugural (em Março de 2020) falhou.

Neste segundo lançamento, o Chang Zhemg-7A colocou em órbita o satélite Shiyan-9 a partir do Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang.

A verdadeira natureza deste satélite não é conhecida, porém alguns comentários a circular em fóruns espaciais chineses indicam que este satélite pode ser um protótipo de um veículo de deteção remota de alta resolução a operar em órbitas elevadas (neste caso geossíncronas) ou um veículo de aplicação militar equipado com lentes de membranas óticas, utilizando óticas difrativas.

Assim, é possível que a designação Shiyan-9 seja um engodo para a verdadeira designação do satélite. O novo satélite terá sido desenvolvido pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial.

Um novo lançamento orbital da China ocorria a 13 de Março, com um foguetão Chang Zheng-4C a ser lançado desde o Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, para colocar em órbita a missão Yaogan Weixing-31 Grupo-04, composta por três satélites.

A agência de notícias Xinhua referiu que os satélites serão utilizados para “pesquisas eletromagnéticas ambientais e outros testes tecnológicos”, mas a Academia de Tecnologia Espacial de Xangai refere que os três satélites serão utilizados para a realização de “experiências científicas, pesquisas marítimas e terrestres, e outras tarefas”.

No passado a então União Soviética utilizou a designação “Cosmos” para esconder a verdadeira natureza de centenas e centenas de satélites que colocava em órbita, atribuindo-lhes uma natureza científica.

Porém, cedo os especialistas Ocidentais estranharam tamanho investimento na Ciência por parte de uma nação e concluíram que a maior parte desses satélites teria uma aplicação militar.

Nos nossos dias, algo de semelhante ocorre com os satélites chineses da série Yaogan Weixing. Segundo as autoridades chinesas, estes satélites são utilizados para a realização de experiências científicas, para levarem a cabo a deteção remota de recursos terrestre e estimar colheitas e para auxiliar nas tarefas de prevenção e redução de desastres naturais. Tirando estes objetivos, nada mais é referido sobre estes veículos.

A missão lançada pela China a 13 de Março colocou em órbita três satélites militares do tipo Jianbing-8, que são satélites que voam em formação de três veículos (tripletos) em órbita, tendo como objetivo a deteção e captação de sinais de rádio provenientes de embarcações nos oceanos, detetando, identificando e localizando radares e emissões de telecomunicações, incluindo as que têm origem em navios de guerra.

A informação é posteriormente transmitida à marinha chinesa. Esta arquitetura assemelha-se à utilizada pelo sistema Norte-americano NOSS.

Jiuquan seria ainda palco do terceiro lançamento orbital da China em Março, com um foguetão Chang Zheng-4C a colocar em órbita o satélite Gaofen-12 (02) no dia 30, o qual, segundo as informações oficiais, será utilizado para o planeamento urbano e agrícola, mapeamento de estradas, estimativas de culturas agrícolas, e mitigação e prevenção de desastres.

O novo satélite, construído pela Academia de Tecnologia Espacial de Xangai, trabalhará em conjunto com outros satélites da série Gaofen para formar um sistema de observação da Terra com alta resolução e alta precisão de posicionamento, o que ajudará a promover a cooperação tecnológica industrial internacional, por meio da partilha de dados e apoiará a iniciativa Belt and Road.

A Rússia realizou dois lançamentos orbitais em Março, colocando em órbita 74 satélites de diferentes tamanhos, tipos e aplicações.

Os lançamentos da Rússia tiveram lugar a 22 de Março, com um foguetão Soyuz-2.1a/Fregat a ser lançado desde o Cosmódromo de Baikonur e a colocar em órbita o satélite de deteção remota Sul-coreano CAS500-1 juntamente com 37 outros pequenos satélites (maioritariamente CubSats de diferentes tipos), e a 25 de Março, com um foguetão Soyuz-2.1b/Fregat a ser lançado desde o Cosmódromo de Vostochniy e a colocar em órbita 36 satélites OneWeb.

A constelação OneWeb é uma constelação que deverá ser composta por 648 satélites para fornecer acesso à Internet em todo o globo para consumidores individuais e companhias aéreas, além de serviços a operadores marítimos, serviços de backhaul, comunidades de Wi-Fi, serviços de respostas de emergência, etc.

Uma vez estabelecida em órbita, a rede OneWeb irá oferecer serviços 3G, TLE, 5G e cobertura Wi-Fi, fornecendo um acesso de alta velocidade em todo o mundo (por ar, terra e mar).

Finalmente, a empresa Norte-americana RocketLab levou a cabo mais uma missão a partir da Nova Zelândia, colocando em órbita 8 pequenos satélites. Denominada “They Go Up So Fast“, esta foi a 19ª missão da Rocket Lab e utilizou um foguetão Electron.

O lançamento teve lugar a partir de Onenui (península de Máhia), no dia 22 de Março. Esta missão utilizou um estágio superior Photon. Denominado “Pathstone”, esta constituiu a segunda missão Photon, também projetada para operar em órbita como uma missão de demonstração de redução de riscos, também para acumular experiência de voo em antecipação da missão lunar da RocketLab para a NASA em finais de 2021.

Autor: Nascido em Maio de 1971 e licenciado em Física Aplicada, desde cedo Rui Barbosa se interessou pela temática espacial. A 3 de Maio de 2001, inicia o Boletim Em Órbita dedicado à Astronáutica e Conquista do Espaço, o qual comemora o seu 20º aniversário. Atualmente, Rui Barbosa partilha a sua paixão pela Conquista do Espaço com as atividades de montanha.

 



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