Ainda e sempre as podas municipais

No Algarve (e um pouco por todo o País), voltaram a fazer das árvores uns mostrengos

Todos os anos, por esta altura, chovem as lamentações de alguns que, como eu, não conseguem perceber como é que o “vírus” das podas municipais resiste década após década.

No Algarve (e um pouco por todo o País), voltaram a fazer das árvores uns monstrengos, como mais uma vez se mostrou num excelente artigo do Prof. Jorge Paiva saído no Público, ele que, com a sua fundamentada sabedoria, há anos que também denuncia este atentado ao património vegetal das cidades.

Mas as Câmaras Municipais, pelo menos as de maiores dimensões, possuem nos seus quadros arquitetos paisagistas, a quem confiam muitas tarefas, mas que, em regra, nunca são encarregados de tratar do arvoredo municipal.

Nenhum arquiteto paisagista – arrisco a dizer que ponho as mãos no fogo – apoiaria esta prática de indefensável descaracterização das árvores ornamentais.

Aqui há uns dois anos, interpelei um sujeito que, pendurado num dos jacarandás de Estoi, desancava a pobre árvore, podando-a com fúria e perguntei-lhe quem era o técnico que dirigia aquelas operações – respondeu-me que era ele e que era “especialista”. Pronto, não havia mais conversa.

Costumava dizer-se que quem saía todos os anos, nestes meses, para podar as árvores eram os funcionários que andavam durante o ano a apanhar cães e gatos abandonados pela cidade ou nas campanhas de desratização e, chegada esta época, eram chamados para as podas. Parece que nada muda…

Regras básicas que até custa voltar a repetir: as árvores devem ser escolhidas para plantar nos arruamentos das povoações de acordo com o seu porte e características; há espécies de dimensões e porte para todas as situações e, se saírem dos viveiros com as podas de formação adequadas, só raramente vão precisar de alguma intervenção posterior.

É assim tão difícil meter isto na cabeça dos autarcas?

Se uma árvore provoca algum sério inconveniente mais vale cortá-la e plantar uma árvore nova adequada ao sítio!

As podas, mais arreias que outra coisa, diminuem a capacidade vegetativa das árvores e tornam-nas mais susceptíveis a pragas e doenças.

Há uma fotografia que aqui reproduzo, que consta do já clássico livro “A árvore em Portugal”, dos Prof. Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles, cuja primeira edição surgiu na década de 60 do século passado, e que fala por si só.

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista

 



Fernando Pessoa

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