Algarve: Não podemos ser surpreendidos!

Presidente do NERA reflete sobre a crise (e como sair dela) trazida pela pandemia

Foto: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

Os empresários não vivem de ilusões, nem de sonhos.  Confrontam-se todos os dias com responsabilidades concretas, que derivam da realidade económica, financeira e social da sua atividade.

No Algarve, conhecemos o quadro resultante do impacto da violenta crise do Turismo em toda a nossa economia.

Temos de ter consciência da gravidade do momento que vivemos. E que, para o enfrentar, temos de conhecer a realidade de forma clara.

Temos razões para estar preocupados. Não podemos é ser surpreendidos!

Temos de ter uma ideia correta do processo que conduziu à atual situação e dos fatores que condicionam a sua evolução.

Vejamos – de forma simplificada – algumas questões que o NERA tem vindo a referir:

 

As causas e a natureza da crise.

Estamos perante uma crise económica mundial que, contrariamente a anteriores, não tem uma origem económico-financeira.

Foi gerada por uma pandemia global, impossível de ser dominada pelos instrumentos tradicionais. Situação ainda agravada pelas dificuldades de atuações concertadas, mesmo entre países do mesmo continente. Veja-se a Europa. Veja-se a União Europeia. Foi a pandemia que gerou a crise económico-financeira mundial. Que atingiu também Portugal. E sobretudo o Algarve.

 

Impacto na Economia. Pesadas consequências em todos os países.

Esta crise, ao afetar a mobilidade das pessoas a nível nacional e internacional, tem consequências profundas em toda a economia mundial e sobretudo num dos seus setores mais importantes – o Turismo – que caiu cerca de 75% em 2020 – atingindo desde logo os principais mercados – EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália, etc. E também Portugal, onde o Turismo tem um peso relevante.

 

A crise não está dominada. Ninguém sabe quando estará.

Não está dominada porque foi subestimada a sua origem e porque os países e as instituições internacionais falharam na definição de uma estratégia comum e uma ação coordenada. Prevalecendo interesses políticos e económicos nacionais. Navegando à vista. Cada um por si.

Numa crise que nunca poderá ser dominada num só país.

É fundamental ter consciência das incertezas geradas pelas atitudes erráticas e oportunistas, desde logo de países europeus. Vão continuar.

 

Fatores base para superar a crise.

Impõe-se uma estratégia clara e coerente, nacional e internacional. Prioridade número um, desde logo para Portugal, é que a aplicação das medidas de combate à pandemia, seja generalizada e acelerada no quadro das estratégias necessárias: combater, conter e eliminar os focos de Covid-19 nos territórios e intensificar o programa de vacinação ao conjunto das populações.

Objetivo: construir uma segurança sanitária global.

 

Obstáculos ao sucesso da estratégia.

A situação sanitária dos residentes em Portugal depende em primeiro lugar das medidas adequadas. Mas não basta termos uma estratégia nacional correta, pois estamos perante um inimigo que não controlamos e muito menos dominamos. São vários os fatores que não dominamos.

Dependemos também da eficácia das estratégias sanitárias de outros países. Dos milhões de turistas estrangeiros que nos vistam, das viagens que os portugueses fazem ao estrangeiro.

A evolução da pandemia nos países europeus deve ser uma preocupação permanente.

Todos os dias somos surpreendidos por alterações de medidas restritivas de estados europeus: proibição de viagens, exclusão de corredores aéreos, quarentenas à entrada ou à saída. Exigência da vacinação ou teste.

Ou notícias preocupantes, como o escândalo da vacina AstraZeneca, a guerra de vacinas entre União Europeia e Reino Unido, os anúncios de estados de emergência anulados poucas horas depois (Alemanha), os anúncios de autorização de viajar para uma data (Reino Unido) e pouco depois negados, o anúncio de passaporte verde, já posto em causa por vários países, etc. Enfim, surpresas diárias nos dois sentidos que só geram incertezas sobre a evolução da crise.

 

Perspetivas de retoma. O que devemos fazer?

Dada a origem e especificidade da crise gerada pela pandemia, tendo em conta as atuações tendencialmente nacionais e não coordenadas entre países, que geram incertezas, é muito difícil de prever e definir estratégias consistentes numa perspetiva de retoma. Não basta o “otimismo” ou a “esperança” e as “certezas” dos governos.

 

Uma certeza: enquanto a pandemia não estiver controlada – pelo menos na Europa e, claro, em Portugal – os riscos de continuação da crise mantêm-se. O que condiciona a mobilidade, a realização de viagens, o Turismo.

 Como o NERA tem vindo a referir, as instituições internacionais de Turismo a começar pela OMT, mas também a WTTC, assim como os grandes operadores internacionais, as associações de transporte aéreo (IATA), grandes investidores na área do turismo, todos apontam para a perspetiva de uma retoma lenta este ano, que pode reforçar-se em 2022 e ganhar melhor expressão em 2023, 2024…

É para esta perspetiva que temos que ganhar consciência e força.

 

Uma aposta certa para Portugal.

Como deve Portugal atuar perante a natureza e complexidade da crise global gerada pela pandemia – vírus mortal invisível, mobilidade das pessoas condicionada, falta de estratégia comum dos países, medidas políticas unilaterais de cada país, interesses económicos e políticos, incertezas sobre o que pode acontecer numa viagem, etc.?

Uma primeira aposta certa para Portugal é ter como prioridade combater, isolar e liquidar o vírus em todo o país e concluir rapidamente o plano nacional de vacinação para travar a sua expansão.

Com isso, ganhamos em duas dimensões. Desde logo conquistando e garantindo um bom ano de mercado interno.

A boa imagem sanitária, por outro lado, torna-se trunfo decisivo para uma recuperação mais rápida nos principais mercados internacionais.

Se, entretanto, a conjuntura global melhorar, estaremos em boas condições para a aproveitar.

Se não ganharmos a batalha contra o vírus perdemos nas duas direções.

Sendo evidente que na base desta estratégia simples, deve estar a defesa e o reforço das nossas Empresas e do Emprego, imprescindíveis para enfrentar estas difíceis batalhas.

É isso que devemos fazer com realismo e serenidade. O Algarve está nesta batalha.

 

Autor: Vítor Neto é presidente do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve

 

 



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