Há quem «não vire as costas à luta», mesmo em tempos de crise na restauração

Restaurantes estão, mais uma vez, fechados devido ao novo confinamento geral

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

José Vargas, histórico empresário farense, estava preparado para uma nova aventura, pensou em desistir, mas decidiu arriscar, porque «virar as costas à luta» não é com ele. Teresa Sequeira já tinha arriscado, mas o primeiro confinamento e os meses que se seguiram obrigaram-na a virar-se para outra área de negócio. A restauração sofre dias difíceis (50% das empresas admitem que já foram obrigadas a despedir), mas há exemplos de quem faz tudo para dar um pontapé na crise.

Dono do emblemático Estaminé, na Ilha Deserta, em Faro, José Vargas é um nome bem conhecido na restauração farense. No ano passado, decidiu arriscar num novo projeto que «fazia sentido no contexto da empresa»: a abertura de um espaço, junto à Doca de Faro.

O Santa Maria Petisca Ria tinha tudo pronto para abrir em Março, mas, quando chegou a altura, «surgiu o confinamento e todo o agravamento da pandemia», recorda.

«Isto sempre foi um desafio: já o era antes e agora ainda se tornou maior. Equacionámos nem sequer abrir, mas decidi avançar na mesma, porque não gosto de virar a costas à luta», diz.

Além do serviço de cafetaria, no qual tem sido feita uma aposta que leva a que o restaurante estivesse aberto, antes do novo confinamento, das 10h00 às 21h30, o Santa Maria tem o seu conceito bem vincado: produtos locais, frescos e de qualidade.

«50% do que oferecemos é apanhado aqui num raio de dois quilómetros», exemplifica José Vargas. No menu, há, além de marisco da Ria Formosa, petiscos como muxama de atum, rissol de berbigão, feijoada de lingueirão, xarém da Ria ou bochechas de porco.

O negócio é que, confessa o histórico empresário, «está deficitário», apesar de manter a equipa de 10 pessoas.

Com a obrigação de voltar a fechar, desde esta sexta-feira, 15 de Janeiro, com o novo confinamento geral, José Vargas resigna-se.

 

Santa Maria Petisca Ria – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Vamos encerrar, sem serviço take-away, e pronto. Cada vez é mais complicado e eu ainda não vi provado que não era possível manter os restaurantes abertos. Uma coisa é trabalhar com restrições, mas trabalhar. Ter uma receita de zero e ter de suportar custos torna-se difícil», admite.

No seu caso em específico, o empresário garante que «o percurso de mais de 30 anos» é uma almofada, mesmo em termos financeiros. Mas e para os mais novos?

Os dados do último inquérito da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), relativo a Dezembro, mostram como os restaurantes passam por momentos difíceis – apesar da perseverança.

Por exemplo: 39% das empresas ponderam avançar para insolvência, dado que as receitas realizadas e previstas não permitirão suportar todos os encargos que decorrem do normal funcionamento da sua atividade.

Para as empresas inquiridas, a quebra de faturação do mês de Dezembro foi avassaladora: 56% das empresas registaram perdas acima dos 60%;

Desde o início da pandemia, 50% das empresas admitiram que já foram obrigadas a despedir. Destas, 19% reduziram em mais de 50% os postos de trabalho a seu cargo.

Ainda assim, contra o que tem sido norma, há casos de empresas que até aumentaram o número de trabalhadores em tempos de pandemia.

 

Teresa Sequeira

 

Teresa Sequeira abriu o Al-Mare Gastrobar, perto da Estação da CP, em Faro, em Janeiro do ano passado, e já foi obrigada a reforçar a equipa. De quatro, passaram a cinco.

Mas nem tudo foi fácil. O negócio,  ia correndo, até que, em Março, ainda antes de ser obrigatório, decidiram fechar devido à Covid-19. «No tempo em que estivemos fechados, fizemos alguns cabazes de padaria, pastelaria», recorda.

Durante o Verão, o restaurante «trabalhou dentro das expetativas baixas, muito com o turismo nacional». Só que, chegados a Setembro, Teresa começou a perceber que a «pandemia não abrandava» e decidiu apostar num novo conceito: uma hamburgueria artesanal e digital.

«Agora, temos a sala fechada e só a equipa é que está cá a trabalhar. A escolha dos hambúrgueres aconteceu também porque olhámos para o panorama farense e pareceu-nos adequado».

 

 

A Bomburguers, que leva comida a casa em Faro, tem sido um caso de sucesso. «Foi até uma surpresa para nós, sem dúvida. Conseguimos continuar a trabalhar, mantivemos os postos de trabalho e até criámos mais um, que é o nosso estafeta», diz Teresa Sequeira.

Para a jovem empresária, esta reinvenção é um exemplo. «Ouve-se muito a questão de que a restauração está com a corda ao pescoço – e está -, mas nós queremos dar a volta a isso», atira.

José Vargas também gosta de pensar na sua nova aposta no Santa Maria como «um exemplo de empreendedorismo» e que melhores tempos virão.

«Temos esperança de que, no Verão, possamos voltar a trabalhar bem, mesmo que ainda algo condicionados. Vamos ver».

 

 

 

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