Museus em Pandemia – o Ir e o Devir

Quais são as novas realidades a enfrentar pelos Museus e Centros de Ciência?

Centro Ciência Viva de Lagos – Foto: Jorge F. Marques

Devido à pandemia, declarada durante o início de 2020, e as suas enormes consequências sociais, económicas, mas também nos hábitos de consumo cultural, os Museus e Centros de Ciência, como muitas outras organizações culturais, tiveram e terão de continuar a adaptar-se a um novo conjunto de realidades.

 

Quais são as novas realidades a enfrentar pelos Museus e Centros de Ciência?

Os novos desafios são tanto externos à organização, nomeadamente dos seus visitantes, como internos, no funcionamento da sua equipa e nas diferentes metodologias de visitação e de realização de atividades. Estes dois eixos de pressão de mudança irão condicionar a ação para o futuro, mais ou menos próximo, dos Museus e Centros de Ciência.

Incidindo nas novas realidades externas aos Museus, estas estão diretamente relacionadas com um dos principais motivos da sua existência: os visitantes.

A experiência do visitante como consumidor de cultura, seja ela no sentido mais restrito, seja num sentido mais amplo e completo, onde se inclui a cultura científica, é, no final de 2020, necessariamente muito distinta do que foi até ao início da pandemia.

Até esse momento, a motivação para a visita incidia em muitos aspetos, na qualidade e relevância da instituição, da proximidade e atratividade do contexto geográfico onde estavam inseridas os Museus, até, nalguns casos de tendências passageiras de algum assunto ou tema.

Hoje sabemos que as questões de sensação e sentimento de segurança, até há meses um fator dado como garantido no que à gestão de um Museu e Centro de Ciência diziam respeito, são fatores preponderantes na motivação à visitação.

A consultora norte-americana, especializada em instituições culturais, Colleen Dilenschneider Consultants, elencou 15 fatores a ter em conta pelos Museus, para diminuir a sensação de insegurança que grassa em toda a sociedade e particularmente nos visitantes dos Museus.

Não fazendo uma descrição exaustiva, esses fatores de fomento de confiança envolvem o óbvio uso obrigatório de máscara, a existência de espaços ao ar livre, a divulgação da visita de terceiros nas redes sociais dos Museus, a disponibilidade de equipamentos e produtos de higiene, a medição de temperatura à entrada, mas também a redução do número de visitantes simultâneos ou a marcação prévia, como formas de evitar aglomerações ou filas.

Há assim que apostar nestes fatores para incrementar o potencial de visitação, já que o segundo fator mais destacado é a existência de uma vacina e essa parece estar cada vez mais próxima de uma parte dos potenciais visitantes.

A consultora norte-americana referida apresentou dados, fundamentalmente, da realidade norte-americana, mas estes poderão ser extrapolados intuitiva e fiavelmente para a realidade portuguesa.

 

Quais as motivações na seleção de locais de lazer?

Tendo em conta o acima referido sobre o contexto geográfico das infraestruturas museológicas, em particular no Algarve, a análise das motivações na seleção de locais de lazer revela o óbvio decréscimo generalizado em 2020 de muitas variáveis até aí tidas como importantes, como por exemplo, a visita a grandes metrópoles, a visita a família ou amigos ou mesmo o degustar de uma refeição única.

Pelo contrário, e estes fatores parecem animadores para os Museus e Centros de Ciência no Algarve, as localizações à beira-mar ou com uma linha de água próxima, o facto de estarem localizados em Centros históricos e serem Centros e Museus de Ciência, são fatores agora mais valorizados.

De sublinhar que, segundo os dados daquela consultora, Centros e Museus de Ciência apresentam valores ligeiramente superiores aos de Museus clássicos como fatores de seleção de locais de lazer.

 

Quais os novos papéis para os Museus e Centros de Ciência?

Os Museus e Centros de Ciência têm experiência, em maior ou menor grau, na promoção ativa e na divulgação das suas atividades, utilizando várias plataformas e diversas redes sociais. Esta atividade teve como objetivos, até há poucos meses, o fomentar a visitação, o aumentar a sua reputação e credibilidade, para além de contribuir para a melhoria da experiência do visitante nos diversos espaços físicos dos Museus.

Mas já se começou, e dever-se-á aprofundar ainda mais, estas linhas de envolvimento digital dos Museus com os seus visitantes, seja pelas experiências de visitação virtual, seja pela efetivação de atividades no modelo virtual (oficinas, palestras e outras) para as famílias e para as escolas.

Para isso, os Museus e Centros de Ciência deverão apostar na capacitação das suas equipas na e na aquisição de equipamento que lhes permitam, de forma capaz e digna, produzir e difundir os seus conteúdos.

 

Intervenção ativa da disseminação de informação correta e atualizada?

Em momentos como os atuais, em que há a proliferação de notícias falsas e, sobretudo, há uma difusão cada vez maior de princípios e atitudes anti Ciência, os Museus e Centros de Ciência deverão constituir-se como pontos de validação e disseminação de informação relevante e credível.

Os Museus e Centros de Ciência deverão adotar posições e posturas defensoras da Ciência, do racionalismo e do humanismo, bem como da necessidade de atitudes  e de comportamentos que não levem à proliferação da desinformação, prejudiciais quer à democracia, quer à saúde pública.

Esta não neutralidade dos Museus deve ser encarada como um enorme contributo dos Museus e Centros de Ciência, não só para a sua própria sobrevivência, mas sobretudo para que a sua missão seja verdadeiramente cumprida e sejamos relevantes para uma sociedade melhor.

 

Autor: Luís Azevedo Rodrigues é diretor executivo do Centro Ciência Viva de Lagos
Paleontólogo, Comunicador de Ciência – [email protected]

 

 



Comentários

pub