Exemplo de Monchique para garantir bem-estar animal é «muito plural»

Matos Fernandes elogiou a forma como Monchique «foi capaz de unir estas visões diferentes»

O ministro fez festas aos cães, deu cenouras a comer às alpacas, visitou as casas para gatos instaladas em velhas máquinas de lavar roupa. Pelo meio, assistiu ainda à campanha de vacinação de cães em Alferce, conheceu os voluntários que tomam conta dos animais abandonados, bem como as novas obras do escultor e ceramistas Sylvain Bongard, no Largo dos Chorões, e ainda descobriu os projetos em curso (ou previstos) promovidos pela Câmara de Monchique para garantir o bem estar dos animais de companhia neste concelho.

No final, João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, fez um «balanço muito positivo» da sua visita. «Pela parte que me toca, aprendi muito. E era esse o objetivo: ver que as questões dos animais de companhia são um problema cuja solução pode afinal ser de um enorme bem estar para todos quantos participam na própria solução, sejam aqueles que têm um papel ativo no cuidar dos animais, no reencaminhá-los, no dar-lhes mais saúde ou no entregá-los a novos donos, seja a quem está no fim da linha a ser feliz e a dar felicidade aos animais».

O governante considerou o exemplo de Monchique como «muito plural, nas diversas instalações, nas diversas formas físicas de fazer, mas sobretudo na maneira como integra entidades e pessoas diferentes», nomeadamente a comunidade estrangeira, que tem «um olhar diferente sobre estes problemas».

Matos Fernandes elogiou mesmo a forma como Monchique «foi capaz de unir estas visões diferentes e todas estas vontades em prol do bem estar das pessoas, que tiram, obviamente muito partido disto».

Por isso, sublinhou, «se me perguntarem qual foi o melhor momento desta manhã, foi o momento em que os jornalistas não me fizeram perguntas e em que estive a brincar com os cães».

A visita do ministro do Ambiente a Monchique integra-se na recente assunção, por aquele Ministério, da tutela das questões do bem-estar animal, que antes pertenciam à Direção-Geral de Veterinária e Alimentação (DGAV), sob a alçada do Ministério da Agricultura. Ou seja, com o Ambiente ficam os animais de companhia, com a Agricultura os de produção.

 

Pouco passava das 10h00 da manhã, quando João Pedro Matos Fernandes, sempre acompanhado por Rui André, presidente da Câmara de Monchique, foi assistir à vacinação de cães, a decorrer no armazém da Junta de Freguesia de Alferce.

Ana Silva, a médica veterinária municipal, explicou que se tratava da «primeira ação feita este ano fora de Monchique». «Aqui, a Junta de Freguesia garantiu-nos todas as condições, como casa de banho, álcool-gel, espaço para as pessoas esperarem».

Lá fora, à sombra das árvores, muitos cães com os seus donos esperavam pela sua vez, nem sempre com muita paciência. «Alguns destes são cães de guarda, não estão habituados a ver muita gente», explicava um senhor que tentava manter calmo e quieto um enorme cão.

Até àquela hora, já tinham sido atendidos 40 animais, que receberam a vacina antirrábica, chip (caso não o tivessem já) e desparasitação.

«Obrigado pela vossa paixão, pelo vosso trabalho em prol dos animais e da comunidade», disse o ministro Matos Fernandes, à veterinária municipal e à jovem enfermeira veterinária Zélia Carrilho, que a todos atendiam.

 

O governante seguiu depois para o canil municipal de Monchique, que é, sobretudo, como explicou o autarca Rui André, «um centro de recolha de animais abandonados».

Aqui esperavam-no instalações com todas as condições e que, salientou o autarca monchiquense, «ainda estão a ser melhoradas, com a criação de mais sombras» e de uma área maior para poder soltar os cães e passeá-los.

A aguardar a comitiva, estava Sarah Lang, do Polo de Monchique da Associação SOS Animais Sem Futuro, e um grupo de voluntários, todos estrangeiros, que se encarrega de passear e educar os animais recolhidos, de modo a que possam mais facilmente encontrar uma casa que os receba.

«As pessoas que têm coração para os animais são boas pessoas», garantiu uma das voluntárias, em conversa com o ministro.

Rui André aproveitou para entregar, aos voluntários, uma chave do canil, para que possam ir lá buscar os animais para os passear, enquanto o ministro se deliciou a fazer festas aos cães, que ficaram felizes por terem tanta gente para os acariciar.

 

Depois, ali para os lados do Covão da Águia, foi a vez de visitar a quinta onde o casal holandês Jouri e Miralda cria alpacas, um simpático mamífero originário dos Andes, mas que se dá bem com os ares – e as temperaturas – de Monchique. O ministro admitiu: «confesso que não esperava encontrar aqui alpacas»…

Ainda assim, aproveitou para lhes dar pedacinhos de cenoura a comer, tendo escapado às bem conhecidas cuspidelas mal cheirosas que as alpacas (menos) e os lamas (mais) gostam de atirar às pessoas. «Se uma alpaca me cuspir em cima, vocês ficam com imagens virais», brincou Matos Fernandes, dirigindo-se ao operador de câmara de uma televisão, que acompanhava a visita. Mas tudo correu pelo melhor e o ministro saiu ileso da experiência.

Pelo meio, Jouri e Miralda explicaram e mostraram como tratam bem os seus originais animais de estimação, cujo bem estar é acompanhado pela veterinária municipal Ana Silva. «Já temos onze alpacas e, dentro de três semanas, se tudo correr bem, serão doze, quando nascer mais um bebé», revelou Miralda.

De volta ao centro de Monchique, junto às máquinas de lavar roupa transformadas em casas para gatos de rua (esterilizados e acompanhados pela veterinária) instaladas no largo de São Sebastião, Rui André adiantou que os idosos do lar da Misericórdia, situado ali perto, «costumam vir até aqui passear e já se habituaram a trazer sempre um miminho para os gatos».

«A relação entre os animais e as pessoas da terceira idade deve ser fomentada. Assim como entre os animais e os reclusos», respondeu o ministro do Ambiente.

 

A visita em quase contrarrelógico do governante terminou com uma curta reunião na Câmara Municipal de Monchique, que incluiu a entrega do programa Animal Seguro, implementado pela autarquia aquando dos incêndios de 2018.

Rui André aproveitou para sublinhar que, «na causa animal, é preciso não haver extremismos. Monchique é um concelho onde os animais sempre foram parceiros das pessoas no seu dia a dia, uma presença constante junto do homem rural».

Nos últimos anos, sobretudo com a fixação de muitos estrangeiros no concelho, começou a surgir uma «visão diferente». E foi preciso conciliar estas diferentes maneiras de ver e de viver.

«Com estes projetos, procurámos dar resposta à nossa comunidade, que é cada vez mais multicultural», frisou o autarca.

Entre os projetos para o futuro há os mais fáceis de realizar – como a campanha de esterilizações gratuitas para todos os animais de companhia – e outras mais difíceis – como a Unidade Móvel para apoiar os animais em situações de catástrofes, nomeadamente incêndios ou inundações.

Segundo a veterinária Ana Silva, tendo em conta os custos de tal equipamento, só se justificaria ter uma unidade a nível regional ou mesmo nacional.

Outro sonho é «garantir que os animais não são presos a uma corrente», como continua a acontecer em alguns locais da serra, com os cães de guarda.

No final, o ministro João Pedro Matos Fernandes salientou ser esta «a primeira vez que venho a Monchique por motivos festivos». E a visita, sublinhou, destinou-se a conhecer esta «realidade completa, complexa e integrada», que prova que há bons projetos nos sítios mais inesperados.

Este projeto da Câmara Municipal monchiquense, acrescentou, tem «liderança política, liderança técnica e envolvimento de toda a comunidade, o que o ministro considerou muito importante.

«É preciso que estes projetos sejam conhecidos e sejam multiplicados», concluiu o governante.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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