Secretário de Estado do Cinema e Audiovisual quer «valorizar o trabalho dos cineclubes»

Secretaria de Estado tem andado no terreno para fazer um mapa sobre a distribuição independente do cinema, os cineclubes e os festivais

Carlos Rafael Lopes, Adriana Nogueira, Nuno Artur Silva, Graça Lobo e Anabela Afonso – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

«Valorizar o trabalho dos cineclubes que, agora mais do que nunca, precisam de ser apoiados» foi o grande objetivo da visita de trabalho que Nuno Artur Silva, secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Média fez a Faro, na passada quinta-feira.

O pretexto foi assistir, em Faro, na esplanada do IPDJ e com as regras de segurança sanitária cumpridas, à estreia nacional do programa de curtas-metragens “Três Realizadoras Portuguesas”, trazido ao Algarve pela mão do Cineclube de Faro.

Mas o secretário de Estado aproveitou ainda a deslocação para se reunir com os dois cineclubes algarvios – o de Faro e o de Tavira -, bem como com a direção regional de Cultura. Do Cineclube de Tavira, estiveram presentes as duas diretoras do FICLO, o Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão, que começa dia 15.

Pelo meio de um programa intenso, o Sul Informação entrevistou Nuno Artur Silva, que começou por explicar ter querido sobretudo «sinalizar simbolicamente, com a minha presença, a importância que têm os cineclubes e a sua atividade».

É que, salientou o governante, «essa importância é, neste momento, ainda maior porque, com a crise que estamos a viver, que instalou o medo das atividades sociais, a programação de cinema, tal como ele foi originalmente pensado, é uma atividade em que um grupo de pessoas que, muitas vezes não se conhece, está sentado no mesmo sítio a ver, a emocionar-se, a inspirar-se com os filmes. O cinema é uma atividade social. Sobretudo no caso dos cineclubes, é uma atividade social acompanhada por conversas, normalmente apaixonadas, sobre os filmes e a construção de um mundo de partilha daquilo que apaixona estas pessoas, que é o cinema e o mundo do cinema».

 

Adriana Nogueira, diretora regional de Cultura, e o secretário de Estado Nuno Artur Silva – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

E vão surgir novos apoios para os Cineclubes?, quis saber o Sul Informação. Nuno Artur Silva respondeu que, «do lado do ministério da Cultura, em particular do da secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, o que estamos a fazer é perceber melhor quem está no terreno».

«Em vez de estarmos no Palácio da Ajuda, a desenhar como é que deve ser o circuito de exibição em Portugal, é importante vir ao terreno ver quem cá está, os cineclubes que há, os cineteatros e festivais que existem», explicou.

«Antes de mais, o que estamos a fazer, e já estamos numa fase de finalização, é um mapa de quem está na exibição independente, as salas independentes de cinema, os cineclubes, qual a sua atividade, como é que ligam com os festivais, como é que sobrevivem, como estão integrados em rede. Estamos a terminar um mapa do país, continente e ilhas, sobre isso», acrescentou, na sua entrevista ao nosso jornal.

Apoios financeiros de monta, pelos vistos, não haverá. «Neste contexto difícil, tentámos criar, através dos instrumentos que existem no Ministério da Cultura, formas de apoiar – é certo que financeiramente é sempre muito difícil, porque não temos uma verba muito grande – apoiar o mais que podemos estas iniciativas, nomeadamente articulando-as com outras iniciativas, como o Plano Nacional de Cinema ou outro tipo de apoios dentro das linhas que o ICA tem», revelou.

 

O secretário de Estado, com Adriana Nogueira e Anabela Afonso e dirigentes dos cineclubes de Faro e de Tavira – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Sendo o Algarve uma região que estava a conseguir captar cada vez mais filmagens e gravações, havendo mesmo uma pequena indústria ligada ao audiovisual a afirmar-se na região, o que será feito nesse sentido?

Nuno Artur Silva reconheceu que «o Algarve é de facto uma região com um potencial enorme» para este novo setor económico que, antes da pandemia, estava em crescimento, envolvendo já, na região, largas dezenas de profissionais.

«Tal como há planos de contingência para os regressos às salas de cinema, para os espectadores e os cinéfilos verem cinema, também há para os profissionais que o fazem e para as equipas de rodagem», respondeu o secretário de Estado.

«Há planos que estão a ser articulados pela Portugal Film Comission, e pelas várias Film Comissions regionais e locais, sobre como continuar a filmar e como continuar a gravar em circunstâncias necessariamente diferentes. Há muito, da parte de todos, esta vontade de não parar, mas conciliando isso com as normas sanitárias», disse.

«Há aqui um enorme desafio, mas sem dúvida que o objetivo comum é ter e criar condições para que se continue a filmar e a atrair para filmagens – que é um setor económico também – várias produções, nacionais e estrangeiras».

Em termos de balanço sobre a reunião com o secretário de Estado, Carlos Rafael Lopes, presidente do Cineclube de Faro, revelou ao nosso jornal que Nuno Artur Silva «trouxe disponibilidade e um conjunto de boas intenções», que espera que se concretizem.

Uma das medidas que têm estado a ser preparadas pelo governante e que é saudada por Carlos Rafael é o Plano Nacional de Cinema, que, além de prever «a definição de políticas estruturais para o setor», para «não ser apenas atirar dinheiro para cima dos problemas», prevê, por exemplo, «a criação de uma plataforma conjunta com a Cinemateca, os cineclubes e outras estruturas, que será responsável pela aquisição dos direitos dos filmes», permitindo assim «servir as diferentes estruturas para quem a aquisição desses direitos, de forma individual, é incomportável». Esse é um problema que afeta em particular os cineclubes, sempre a debater-se com orçamentos muito curtos.

Depois da reunião com os dois cineclubes de Faro e de Tavira, que contou também com a presença da diretora regional de Cultura, e da entrevista ao Sul Informação, Nuno Artur Silva sentou-se na primeira fila de cadeiras na esplanada do IPDJ, ao ar livre, para assistir às três curtas-metragens, todas realizadas por mulheres.

Com ele, estavam cerca de oito dezenas de pessoas, sócios e não sócios do Cineclube, que confessaram já ter saudades destas sessões e encheram por completo o espaço, tendo sido necessário ir buscar mais cadeiras.

O programa incluiu as curtas “Dia de Festa”, de Sofia Bost, “Ruby”, de Mariana Gaivão, e “Cães que Ladram aos Pássaros”, de Leonor Teles. As realizadoras, todas portuguesas, não puderam estar presentes, mas enviaram mensagens sobre os seus filmes e sobre a situação atual do cinema em Portugal, que foram ouvidas com atenção pelo secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Média.

Tal como agendado, depois da sessão de cinema, o secretário de Estado reuniu-se ainda com Graça Lobo (criadora do Plano Nacional de Cinema, em 2012) e com Isa Catarina Mateus, na qualidade de membro do Comité Executivo da Federação Internacional de Cineclubes (delegada para o cinema e educação no mundo), tendo esta última sublinhado a sua «disponibilidade para trabalhar com todas as entidades no desenvolvimento de políticas públicas».

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 

 

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