Carta aberta à Ministra da Cultura sobre o Forte da Meia Praia

O arquiteto José Veloso escreve à Ministra da Cultura pedindo-lhe que entregue o Forte da Meia Praia à cidade de Lagos

Como a sra. é ministra, estará em permanente sufoco com o enorme volume e diversidade de assuntos a que o ministério que lhe foi entregue tem que atender.

Ora, acontece que, se atender assuntos próprios do seu ministério é uma tarefa a que não se pode e a que certamente não se quer escusar, o mesmo terá que suceder em relação a atender um cidadão que se lhe dirija.

Facilmente percebo que esta missiva estará, talvez desagradavelmente, a contribuir para sobrecarregar as já de si absorventes e ingentes tarefas, suas e dos seus assessores, adidos, secretários, consultores, especialistas, técnicos, que a rodeiam para lhe aliviar o esgotante trabalho de levar a cabo a imensidão daquilo a que se propôs.

Também reconheço e faço a justiça de compreender que, perante a vastidão do imenso território inçado de problemas do seu pelouro e que, por muito trabalho que se tenha de rigoroso planeamento e cuidada organização, alguma coisa possa ter ficado esquecida no fundo duma das inúmeras gavetas da casa, ou não tenha sido introduzida nos ficheiros dos computadores que, não ponho em dúvida, é costume do seu ministério usar para não haver esquecimentos nos serviços.

Pois é, sra. ministra, vejo-me assim na obrigação de vir fazer-lhe lembrar que toda essa sua gente conhece mal e se costuma esquecer do Forte seiscentista que usa os nomes de S. Roque ou de S. José, mas mais conhecido por Forte da Meia Praia, perdido em miserável desgraça algures no areal da dita praia do Concelho de Lagos.

Francamente lhe digo, sra. ministra, se o pobre forte não lhe interessa, nem a ninguém lá nos meandros do seu ministério ou nos variados organismos do Governo onde está entalado, não continue à espera de fazer com ele um negócio que, de antemão, se sabe que não há quem lhe pegue, e devolva-o à cidade, que o pequeno forte já ajudou a proteger e onde haverá quem o saiba tirar da miséria e recuperar como bem público.

O cidadão que sou e assina, fica esperando que Lagos tenha em breve o subido prazer de saber que a sra. ministra soube resolver esta desgraça.

Ora, como é sabido que a posse do forte tem circulado entre outros departamentos oficiais, Fazenda Nacional, praça militar de Lagos, Alfândega, Guarda Fiscal, sem se falar em valores, evidentemente que também agora a sra. ministra saberá, confio, transferi-lo sem custos para o Município.

Aliás, peço licença para acrescentar, se porventura tiver havido esquecimento em lhe fornecer essa informação, que isso não seria um inaudito e inédito atrevimento seu, pois assim aconteceu em Lagos há anos com outro muitíssimo mais importante património histórico e também elemento desativado da defesa da Baía e cidade de Lagos, a Fortaleza da Ponta da Bandeira. Era militar, passou a ser municipal.

Muito agradecido.

José Veloso

 

Autor: José Veloso é arquiteto

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