Bispo do Algarve envia mensagem de uma Páscoa que não pode ser celebrada «como gostaríamos»

Missas e celebrações transmitidas no canal de Youtube da Folha do Domingo

D. Manuel Neto Quintas, bispo do Algarve – Foto: Samuel Mendonça | Folha do Domingo

O Bispo do Algarve enviou a todas as comunidades católicas algarvias uma mensagem pascal, na qual dá indicações de como viver a Semana Santa, de modo a «alimentar e fortalecer os laços de fraternidade e de comunhão eclesial que nos unem», ainda que, salienta D. Manuel Neto Quintas, estejamos «privados de celebrarmos, como gostaríamos, estes dias».

O prelado algarvio reforça que é obrigatório o seguimento das «normas da Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, aprovadas por mandato de Sumo Pontífice, bem como da Conferência Episcopal, oportunamente divulgadas», para além de tudo «quanto foi determinado pelas autoridades civis e de saúde».

«Os efeitos provocados pelo Covid-19, o “estado de emergência” em que nos encontramos e a consequente responsabilidade social e cívica de todos, obrigam-nos a celebrar o mistério pascal, núcleo essencial da nossa fé, de “modo diferente”, como diferente tem sido já a vivência deste tempo de Quaresma», esclarece.

Pede aos párocos «que informem os seus paroquianos sobre o horário das celebrações, de modo a que possam unir-se em oração nas suas próprias casas ou, onde for possível, participar em direto através das redes sociais», tal como, afirma, «felizmente, já vem acontecendo entre nós, nestas últimas semanas».

Nesta sua mensagem, intitulada “Não tenhais medo! Ressuscitou!”, D. Manuel Neto Quintas incita os cristãos algarvios a viver a Páscoa deixando-se «contagiar pela alegria que inundou o coração de quantos experimentaram e testemunharam a presença de Cristo ressuscitado» e a não ter medo, tal como foi dito aos apóstolos que correram ao sepulcro de Jesus.

«Não tenhais medo, é saudação e proclamação de fé, que a celebração da Páscoa, em tempo de profunda perturbação, nos convida a professar e a partilhar» diz.

Recordando a mensagem do Papa Francisco, proferida no dia 27 de Março, antes da bênção urbi et orbi (à cidade de Roma e ao mundo), salienta que «a imagem do Papa, sozinho, se bem que acompanhado por uma multidão incontável dispersa por todo o mundo, deu-nos a dimensão do “deserto” que a luta contra este vírus nos obriga a atravessar. Deserto que mais do que o vazio provocado pela ausência dos outros e da “agitação quotidiana”, é presença de silêncio e de amor fecundo» e que neste tempo de adversidade sai mais forte a «abençoada pertença comum da qual não podemos fugir: somos irmãos, precisamos uns dos outros e seguimos juntos na mesma barca. É importante estar unidos e a remar na mesma direção».

Assim, todos poderão acompanhar as celebrações pascais (transmitidas numa iniciativa conjunta do jornal Folha do Domingo e da plataforma digital Mais Algarve), quer nas múltiplas plataformas digitais de ambos os órgãos, quer nos canais da Diocese do Algarve:

O Bispo do Algarve deu, ainda, indicações, para que no Domingo de Páscoa, às 12h00, sejam tocados «festivamente os sinos em todas as Igrejas da Diocese, em sinal do anúncio da vitória de Cristo sobre a morte e de esperança para todos, particularmente os que vivem em tempo de grande sofrimento, bem como de comunhão entre todas as comunidades e pessoas da Diocese do Algarve».

 

 

Os horários são os seguintes:

DOMINGO DE RAMOS
5 de abril – 11h00

QUINTA-FEIRA SANTA
Missa da Ceia do Senhor
9 de abril – 17h00

SEXTA-FEIRA SANTA
Celebração da Paixão do Senhor
10 de abril – 15h00

SÁBADO SANTO
Vigília Pascal
11 de abril – 21h00

DOMINGO DE PÁSCOA
Missa da Páscoa do Senhor
12 de abril – 11h00

 

 




 

 

Mensagem Pascal do Bispo do Algarve

 

«Não tenhais medo! Ressuscitou!

Celebrar a Páscoa é deixar-se contagiar pela alegria que inundou o coração de quantos experimentaram e testemunharam a presença de Cristo ressuscitado, naquele primeiro dia da semana, quando as mulheres, sobressaltadas e assutadas, ao verificarem que a pedra do sepulcro estava removida, escutaram do anjo o anúncio da ressurreição: “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui, pois ressuscitou como tinha dito. Ide, depressa, dizer aos seus discípulos: Ele ressuscitou dos mortos!” (Mt 28, 5-6: vigília pascal).

É esta alegre notícia, acolhida pelas mulheres e levada, sem demoras, aos apóstolos e, depois, confirmada pessoalmente por Pedro e João, notícia que passará de boca em boca, de geração em geração, e que cada Páscoa celebra e atualiza, chegando também a nós com a mesma novidade e intensidade.

Não tenhais medo, é saudação e proclamação de fé, que a celebração da Páscoa, em tempo de profunda perturbação, nos convida a professar e a partilhar.

Os efeitos provocados pelo Covid-19, o “estado de emergência” em que nos encontramos e a consequente responsabilidade social e cívica de todos, obrigam-nos a celebrar o mistério pascal, núcleo essencial da nossa fé, de “modo diferente”, como diferente tem sido já a vivência deste tempo de Quaresma.

1. Uma Quaresma “diferente”
Seguramente que as nossas opções pessoais, como caminho quaresmal de resposta ao apelo à conversão, não incluíam quanto estamos a viver, nomeadamente:

– a amarga experiência pessoal ou familiar da infeção deste vírus, inclusive com o internamento e a morte de entes queridos, sofrimento agravado pela impossibilidade duma digna “última despedida”;

– o “jejum heroico” do relacionamento humano e social, mesmo familiar, que esta situação exige, obrigando-nos a permanecer “em casa”;

– o “jejum da comunidade eclesial”, da Palavra partilhada em Assembleia dominical, da Eucaristia festiva e participada, das celebrações penitenciais, das procissões quaresmais, das celebrações da Semana santa, do Tríduo pascal…

– o confronto com a fragilidade humana e a provisoriedade dos nossos projetos pessoais e familiares;

– o questionamento sobre os critérios e valores que norteiam e fundamentam a nossa vida, inspiram as nossas opções, determinam as nossas prioridades, em relação ao que somos, ao modo como vivemos e ao que fazemos.

Sobre isto, e tudo o mais, somos convidados a lançar o “olhar da fé” e, à luz do discernimento do Espírito, a encontrar os imperativos que esta situação nos sugere.

Ajuda-nos, neste propósito, a imagem e a mensagem do Papa Francisco, antes da bênção urbi et orbi (à cidade de Roma e ao mundo), que acolhemos em nossas casas, sexta-feira passada. A imagem do Papa, sozinho, se bem que acompanhado por uma multidão incontável dispersa por todo o mundo, deu-nos a dimensão do “deserto” que a luta contra este vírus nos obriga a atravessar. Deserto que mais do que o vazio provocado pela ausência dos outros e da “agitação quotidiana”, é presença de silêncio e de amor fecundo. É no deserto que Deus “fala ao coração do seu povo” e o convida a repensar a verdade e a qualidade do culto que lhe presta, e a fidelidade à aliança celebrada no monte Sinai.

Na sua mensagem, o Papa Francisco leva-nos, face à tempestade que se abate sobre a humanidade, a aperceber-nos da nossa “vulnerabilidade” e das “falsas e supérfluas seguranças” em que se apoiam os nossos projetos, hábitos e prioridades; da tendência em remeter para o esquecimento e o dispensável, “aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade”; das tentativas em nos anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos que nos precederam, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades”; da maquilhagem perdida, deixando a descoberto os estereótipos com que mascaramos o nosso «eu», sempre preocupado com a própria imagem e revelando, uma vez mais, a abençoada pertença comum da qual não podemos fugir: somos irmãos, precisamos uns dos outros e seguimos juntos na mesma barca. É importante estar unidos e a remar na mesma direção.

Nesta tempestade que atravessamos, é também o Senhor que nos abana e nos desperta, do entorpecimento a que a vida agitada nos conduz, e nos convida “a ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar”.

É o Senhor que nos desperta a nós, para reanimar a nossa fé pascal, apoiados na sua cruz, âncora que nos salva, leme que nos guia a porto seguro, abraço que nos cura, para que nada nem ninguém nos separe do seu amor redentor.

2. A Semana Santa
Com o objetivo de ajudar todos a viver a Semana Santa, ainda que com as limitações a que estamos sujeitos, apresento-vos algumas indicações relativas a cada dia, de modo a que possamos alimentar e fortalecer os laços de fraternidade e de comunhão eclesial que nos unem, mesmo se privados de celebrarmos, como gostaríamos, estes dias.

A celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor, verdadeiro coração do ano litúrgico, não pode ser transferida. Como tal, seguiremos as normas da Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, aprovadas por mandato de Sumo Pontífice, bem como da Conferência Episcopal, oportunamente divulgadas.

Teremos igualmente presente o cumprimento de quanto foi determinado pelas autoridades civis e de saúde.

Aos párocos é pedido que informem os seus paroquianos sobre o horário das celebrações, de modo a que possam unir-se em oração nas suas próprias casas ou, onde for possível, participar em direto através das redes sociais, o que, felizmente, já vem acontecendo entre nós, nestas últimas semanas.

a) Domingo de Ramos na Paixão do Senhor
A celebração do Domingo de Ramos introduz-nos na Semana Santa, a semana mais importante do calendário litúrgico pelos mistérios que nela celebramos.

A comemoração da entrada do Senhor em Jerusalém, com a bênção dos ramos e a proclamação do Evangelho (Mt 21,1-11), seguida da procissão, deve celebrar-se no interior do templo; nas igrejas Catedrais adote-se a segunda forma prevista pelo Missal Romano, nas igrejas paroquiais e demais lugares, a terceira: na nossa Catedral esta celebração será às 11h00, com transmissão nas redes sociais.

Vem sendo habitual celebrar no Domingo de Ramos o Dia mundial da Juventude, adiado entre nós para os dias 2,3 e 4 de outubro. Trata-se de um dia vivido com particular ênfase pelos nossos jovens. Aliás, neste dia, um grupo expressivo devia estar em Roma, com muitos outros jovens de Portugal a acompanhar os jovens de Lisboa, que receberiam das mãos do Papa Francisco os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude: a cruz e o ícone mariano. Essa celebração e entrega foi adiada para a Solenidade de Cristo Rei.

Nesta minha mensagem a toda a diocese, pretendo deixar uma palavra dirigida aos nossos jovens, inspirada no lema evangélico, escolhido pelo Papa Francisco para a celebração deste ano – jovem, Eu te digo, levanta-te! (cf. Lc 7, 14). Esta ordem de Jesus, dirigida a um jovem defunto, que levava a sepultar, ilumina bem a realidade que, caros jovens, estamos a viver. Acredito que não esteja a ser fácil também para vós “ficar em casa” com as vossas famílias, e que o sentimento de cansaço e prostração vos atinja de modo particular. Também a ti, caro jovem, sobretudo “se perdeste o vigor interior, os sonhos, o entusiasmo, a esperança e a generosidade, (…) o Senhor, com todo o seu poder de Ressuscitado, te diz: “jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!” (CV 20)

Levantar-se, continua o Papa Francisco, significa “sonhar”, “arriscar”, “esforçar-se por mudar o mundo”, apaixonar-se pelo que é belo e vale a pena. E quando “um jovem se apaixona por qualquer coisa, ou melhor por Alguém, levanta-se e começa a realizar grandes coisas, podendo mesmo tornar-se sua testemunha e dar acida por Ele”.

b) Tríduo pascal
O tríduo pascal inclui quanto celebramos em Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e na solene Vigília Pascal: revivemos o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Constituem dias propícios para despertar em nós um desejo mais intenso de nos unirmos a Cristo e de o seguirmos, conscientes de que nos amou até dar a sua vida por nós. Os acontecimentos que o Tríduo Sagrado celebra são a manifestação sublime do amor de Deus pela humanidade, manifestado em Cristo.

O Tríduo inicia na Quinta-feira Santa, com a Missa Vespertina da Ceia do Senhor. Se bem que pela manhã seja habitual celebrar a Missa crismal, este ano foi adiada, pela impossibilidade de, nesta altura, nela participar todo o clero da Diocese, como é habitual. Até esse dia, continuaremos a servir-nos dos mesmos óleos para a celebração dos respetivos sacramentos.

Neste dia comemora-se a instituição do Sacerdócio e a entrega total que Cristo fez de si à humanidade no sacramento da Eucaristia. Na mesma noite em que foi traído, Jesus deixou-nos o mandamento novo do amor fraterno, presente no gesto surpreendente do lava-pés. A celebração deste dia prossegue com um tempo de adoração eucarística, que recorda a agonia de Jesus no Horto do Getsémani. Para Jesus, essa foi a hora do abandono e da solidão, à qual se lhe seguiu a prisão e o início do caminho doloroso do Calvário. Também hoje Ele nos diz, ficai aqui e vigiai comigo.

Procurai encontrar um tempo de silêncio orante e de união a Cristo, nos mistérios que, como Igreja, celebramos neste dia. Neste tempo de sofrimento e perturbação que atinge grande parte da humanidade, somos convidados a iluminar com o sofrimento de Cristo, o sofrimento de quantos, hoje, revivem a sua paixão.

Neste dia, a título excecional, concede-se a todos os Presbíteros a faculdade de celebrar a Missa da Ceia do Senhor, sem o concurso de povo, em lugar adequado. O lava-pés, já facultativo, omite-se, bem como a procissão, no fim da Missa da Ceia do Senhor, guardando-se o Santíssimo Sacramento no Sacrário.

Os Presbíteros que não tenham a possibilidade de celebrar a Missa, em vez dela rezarão as Vésperas (cf. Liturgia das Horas)
Na nossa Catedral a celebração da Ceia do Senhor será às 17h00, com transmissão nas redes sociais.

 




 

A Sexta-feira Santa celebra a Paixão do Senhor. É um dia de jejum e penitência, em que tudo convida à contemplação da Cruz. Ela revela-nos a o comprimento, a largura, a altura, e a profundidade de um amor que supera todo o conhecimento e nos enche da plenitude de Deus (cf Ef 3, 18-19). No mistério do Crucificado cumpre-se o virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e o salvar – o amor na sua forma mais radical. A partir do olhar fixo no lado trespassado de Cristo, a que alude S. João (cf. 19, 37), o cristão encontra o caminho do seu viver e amar (cf. Bento XVI, DCE, 12).

Na celebração da Paixão do Senhor, o ato de adoração à Cruz com o beijo seja limitado apenas ao celebrante. Os outros manifestam a sua veneração com um gesto de profunda reverência.

Na Oração Universal, de acordo com quanto prevê o Missal Romano, (pág. 253, n. 12), acrescenta-se uma intenção especial, neste tempo de pandemia, pelos que se encontram em perigo, os doentes, os defuntos e pelos que sofreram alguma perda.
Na nossa Catedral a celebração da Paixão do Senhor será às 17h00, com transmissão nas redes sociais.

O Sábado Santo é o dia do silêncio: a Igreja vigia, contemplativa, junto do sepulcro, unida a Maria, meditando no mistério ontem celebrado e deixando-se iluminar pela luz que brota da cruz gloriosa de Cristo. Cruz que continua entronizada… iluminando e alimentando a oração de quem aguarda, na fé e na esperança, a hora da ressurreição.

À noite celebrar-se-á a Solene Vigília Pascal, na qual a Igreja entoará o canto alegre do Glória e do Aleluia pascal, como expressão de fé, de alegria e de felicidade, porque Cristo ressuscitou e venceu a morte.

Para o “Início da vigília ou Lucernário” omite-se o acender do fogo, acende-se o círio e, omitindo a procissão, canta-se o precónio pascal. Segue-se a “Liturgia da Palavra”. Para a “Liturgia batismal”, apenas se renovam as promessas batismais (cf. Missal Romano, pág. 320, n. 46). Segue-se a “Liturgia eucarística”.

Os presbíteros que não podem de modo nenhum unir-se à Vigília Pascal celebrada na igreja, rezam o Ofício de Leituras indicado para o Domingo de Páscoa (cf. Liturgia das Horas).

Na nossa Catedral a celebração da Vigília Pascal terá início às 21h00, com transmissão nas redes sociais. No Domingo de Páscoa a Eucaristia será às 11h00, também com transmissão nas redes sociais.

No Domingo de Páscoa, às 12h00, toquem-se festivamente os sinos em todas as Igrejas da Diocese, em sinal do anúncio da vitória de Cristo sobre a morte e de esperança para todos, particularmente os que vivem em tempo de grande sofrimento, bem como de comunhão entre todas as comunidades e pessoas da Diocese do Algarve.

Amados irmãos e irmãs,
que Cristo ressuscitado revigore a nossa fé, fortaleça a nossa esperança e nos faça crescer no amor, traduzido em gestos fraternos e solidários, nomeadamente no cumprimento de quanto nos é pedido para impedirmos o contágio pessoal e o dos outros.

Confiemo-nos e confiemos a nossa Igreja diocesana e todo o povo do Algarve, particularmente os infetados com este vírus, à proteção do nosso padroeiro S. Vicente e ao amparo da Virgem Maria, Senhora da Piedade e nossa Mãe Soberana.

Contai sempre com a minha oração e a minha solicitude como vosso irmão e pastor. Para todos invoco a bênção e a paz de Deus, nosso Pai.

+ Manuel Quintas, Bispo do Algarve»

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