Ser árbitro do Distrital não é fácil e exige sacrifícios [com fotos]

O dia a dia dos árbitros algarvios

“No Distrital, ninguém enriquece”, garante Diogo Brás, árbitro e membro do Núcleo de Árbitros António de Matos, do Algarve. Estas palavras foram proferidas num daqueles encontros em que os membros do Núcleo se reúnem, todas as segundas-feiras, numa espécie de café emprestado, dotado de luz fraca e de poucas condições.

“Essas sessões servem essencialmente para reavaliarmos os nossos erros e conhecimentos. Discutimos jogadas, acontecimentos, estudamos em conjunto, etc… é também uma maneira de convivermos”, explica Pedro Sancho, presidente do Núcleo.

“Como a possibilidade de vermos os nossos próprios jogos é diminuta, analisamos muitos jogos de futebol profissional, com a ajuda de uma aplicação da UEFA”, revela ainda Pedro Sancho.

 

“O nível de arbitragem distrital está a subir em termos de qualidade, embora o número de árbitros seja demasiado reduzido para fazer face ao número de jogos existente”, diz, por seu lado, João Tangarrinha, árbitro há 13 anos.

Ou seja, os árbitros precisam de mais colegas, para dar resposta a todos os jogos ao fim de semana e mesmo a meio da semana. “Há árbitros que apitaram oito jogos num fim de semana”, revela Pedro Sancho logo a seguir.

“Para seres árbitro, tens de ter muito gosto pelo futebol e muito espírito de equipa, precisas de tirar um curso na Associação de Futebol do Algarve (de janeiro até março) e tens de completar o estágio prático, mas muitos não estão para isso”, explica Diogo Brás.

No meio da conversa, entra a questão monetária e o tempo que deixam de dedicar à família. “Para a responsabilidade que nós temos, não compensa. Faço isto por amor à arbitragem e porque estou a tentar subir de divisão”, explica Diogo Brás.

Luís Pires, formado em Gestão Desportiva e habituado à rotina já há alguns anos, lamenta sobretudo o tempo que não pode passar com a família: “Os jogos e os treinos, em termos de tempo, trazem prejuízo para a família, mas como já são muitos anos nesta área do desporto, a família já está inteirada da situação”.

 

No dia seguinte, às 19h00, na Pista de Atletismo de Faro, houve treino dos árbitros, que o repórter foi convidado para acompanhar.

No balneário, era dia de os árbitros se pesarem. Rui Belo, preparador físico, tirou uma pequena balança da mochila para que todos se pesassem, e passou a explicar: “a massa gorda vai variar consoante à categoria em que estás. Na categoria onde estamos, não existe essa exigência da massa gorda, mas, na Liga, tens de ter abaixo 12% e na Federação abaixo de 14%”.

Já na pista, prontos para treinar, depois de uma conversa rápida com o treinador sobre o que iam fazer, os árbitros começaram a correr dez minutos, para fazer o aquecimento.

Depois desse tempo, seguiram-se exercícios de flexibilidade de reação, de mudança de ritmo, de força e os indispensáveis alongamentos para proteger das lesões.

Quinta-feira era novo dia de treino, à mesma hora, no mesmo local, porque as condições não estão reunidas para que possa ser feito no Estádio do Algarve.

“Hoje vai ser um treino, mas soft, vamos fazer mobilização articular dinâmica, técnica de corrida, exercícios de velocidade e simulação de provas”, diz Rui Belo, o treinador.

 

“Olha, se quiseres, vou ter um jogo na Guia este sábado à tarde, se te der jeito apanho-te e vais connosco”, informou João Tangarrinha. E assim fez o repórter.

“Então Flávio, pronto para ser árbitro durante um dia?”, lançaram os árbitros. Iria ser um jogo importante, não só por causa das equipas, mas também porque o árbitro principal, João Tangarrinha, ia ser avaliado.

Apesar disso, os árbitros “tinham deixado a pressão em casa”, como se costuma dizer no mundo do futebol. O jogo, no Estádio Arsénio Catuna, iria opor o Guia FC contra o LGC Moncarapachense.

“Bem, isto é assim, pessoal: o Isidro vai ficar na zona AA2, lado do público, e tu vais ficar a fazer o AA1, lado dos suplentes”, explica Tangarrinha. Este “tu”, referido pelo árbitro principal, era para o João Ruivo, assistente escolhido para aquele jogo.

Durante quinze a vinte minutos, foi explicado o plano de jogo, como os árbitros deviam agir logo de início, quais os jogadores a ter uma especial atenção, condições da relva, quais os equipamentos que ambas as equipas iriam usar, etc.

Acabada esta pequena reunião, chegou a hora de ver realmente o estado do relvado. “Parece estar tudo em ordem”, diz Isidro Moreno, recebendo logo a confirmação dos outros dois colegas. Nisto, foram trocar de roupa para fazer o aquecimento.

 

 

“Chegou a hora, pessoal, vamos dar o nosso melhor! Estão-me a ouvir?”, gritou João Tangarrinha, jogando a mão à orelha esquerda para se certificar que está tudo a postos.

Soou então o apito que ditava o início da partida, que colocava tudo e todos em teste e com os nervos à flor da pele. Passados 45 minutos, chegou o momento do intervalo.

A equipa de arbitragem entrou no balneário, ainda a discutir alguns lances que ocorreram na primeira parte da partida. “Acho que estiveste bem ali”, “tive algumas dúvidas neste lance…”, discutiam, sempre focados naquilo que era o jogo.

Continuando para o segundo tempo, com, pelo menos, um lance de grande dúvida, que resultou em grande penalidade para a equipa visitante, a equipa de árbitros discutia entre si: “Acham que a falta foi dentro?”. “Para mim, acho que estiveste bem na decisão”, dizem João Ruivo e Isidro Moreno, árbitros assistentes. Foram breves instantes a debater e a refletir sobre o que aconteceu.

Na quarta-feira, dia de receber a avaliação do jogo, veio a confirmar-se que o episódio da falta que tantas dúvidas gerava entre os árbitros teria sido confirmado.

Até que, a certa altura, ouve-se um toque na porta. Era um representante das equipas intervenientes, para que o “senhor árbitro preenchesse a documentação necessária sobre o jogo”.

Terminando de completar um monte de papelada, chegou a hora de tomar um duche e seguir em direção a casa, sempre com um ambiente tranquilo e animado. Mais um jogo feito!

 

Fotos: Flávio Costa | Etic_Algarve

 

 

Nota: Artigo e fotografias da autoria de Flávio Costa, aluno da ETIC_Algarve, no âmbito das disciplinas de Técnicas de Escrita Jornalística e Fotojornalismo, do curso de Fotografia Profissional

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