Messines já tem livro que é «verdadeiro fresco» sobre o “seu” século XIX

Sala cheia para o lançamento deste livro que faz um retrato muito completo de um século fundamental na história de Messines

«É completamente impossível fazer história de um país sem fazer a história das suas populações», disse Maria João Raminhos Duarte, na apresentação do livro «São Bartolomeu de Messines e o Concelho de Silves – Dos alvores do Liberalismo ao 5 de Outubro de 1910», da autoria de Aurélio Nuno Cabrita.

A obra, de 496 páginas, foi lançada no auditório da Caixa Agrícola de São Bartolomeu de Messines, no sábado passado, dia 29 de Junho. Apesar da tarde de calor e praia, o espaço quase se encheu com perto de uma centena de pessoas, interessadas em conhecer mais esta obra do jovem investigador.

«É com muita alegria que vemos estudos locais e regionais a ser levados a cabo por jovens historiadores», acrescentou Maria João Raminhos Duarte, convidada pelo autor para fazer a apresentação do seu novo livro.

Para a também investigadora, a obra é «um verdadeiro fresco da ação dos homens neste lugar», «um repositório do passado recente de São Bartolomeu de Messines», tornando-se mesmo numa «verdadeira enciclopédia» desta vila do concelho de Silves, que foi terra natal de figuras nacionais muito conhecidas – como João de Deus ou o Remexido – mas também de muitas outras menos badaladas, que deixaram a sua marca, como o autor revela.

 

«Entre a serra e o barrocal algarvios, num vale fértil e rico em água, encostada a uma pequena montanha de seu nome Penedo Grande, ergue-se São Bartolomeu de Messines. Aldeia singular, eixo de acessibilidades ao Algarve, conheceu ao longo do século XIX a agitação das revoluções, participando ativamente nos momentos decisivos da História de Portugal», salienta a sinopse.

Maria João Raminhos Duarte salientou que o livro «apresenta documentos inéditos, por vezes únicos» e abre «uma espécie de janela através da qual podemos seguir os tempos conturbados» desde as Invasões Francesas à Implantação da República, em Messines, no concelho, no Algarve e no país.

Por seu lado, Aurélio Cabrita revelou que, neste livro, «está aqui o fruto de 20 anos de trabalho». A obra resulta da sua tese de mestrado, à qual o investigador foi juntando mais e mais pormenores. «O plano inicial era muito mais ambicioso, ia até ao 25 de Abril. Este rapaz queria fazer uma tese de mestrado de 20 tomos», brincou, a propósito, Maria João Raminhos Duarte.

Ao longo desses 20 anos, e sobretudo nos últimos dois, foram muitas as vezes em que Aurélio trocou o mergulho na praia pelo mergulho nos arquivos, por exemplo o de Silves ou o da Biblioteca Nacional, entre tantos outros.

A edição do livro, a cargo da Colibri, contou com o patrocínio da Caixa Agrícola de São Bartolomeu de Messines e São Marcos da Serra, da Junta de Freguesia de Messines, da Câmara de Silves, da Direção Regional de Cultura e ainda da Papelaria da Vila. Mas o preço de capa (22 euros) apenas reflete os custos com a impressão e distribuição, não paga as duas décadas de trabalho do autor. Por isso, sublinhou Aurélio Cabrita, nascido e residente em São Bartolomeu de Messines, «essa é uma oferta que eu faço à comunidade».

As 496 páginas são também, salientou, «um ato de justiça para com aquelas pessoas que andaram pelas mesmas ruas que nós, que fizeram muito por Messines, mas foram sendo votadas ao esquecimento. Não é preciso estarmos sempre a inventar a roda. Podemos partir dos exemplos e das soluções que foram encontradas por esses messinenses de outrora para traçarmos o nosso futuro».

 

O investigador deixou ainda um apelo à presidente da Câmara de Silves, que estava presente no lançamento do livro: «que as atas do Município sejam mais completas, com os anexos, uma vez que as atas de hoje são muito sucintas. Daqui a 100 anos, os investigadores que queiram debruçar-se sobre os nossos tempos, com eu fiz com o que se passou há 100 ou 200 anos e com base nas atas de então, terão muito pouca informação». Rosa Palma prometeu ver o que poderia fazer.

Carlos Vargas, presidente da Caixa Agrícola, manifestou a abertura da sua instituição para apoiar o trabalho de quem quer dar a conhecer o passado e o presente de São Bartolomeu de Messines. E só lamentou que a obra de Aurélio Cabrita termine em 1910. «Desde aí, há muito para investigar».

Pegando neste mote, Fernando Mão de Ferro, editor da Colibri, lançou um desafio ao autor, para que continue o seu trabalho. «Há muito campo aberto para investigação, desde 1910 até ao 25 de Abril e mesmo depois».

A estes desafios, que outras pessoas reiteraram, Aurélio apenas respondeu que agora tem de descansar…e de, finalmente, «viver no século XXI».

 

No final da sessão, e embora o livro verse temas que começam há 200 anos e terminam há pouco mais de 100, o debate estendeu-se ao vasto auditório e teve como mote sobretudo os tempos atuais. Vítor Neto, empresário responsável por uma das maiores empresas da freguesia e certamente a mais antiga (a Teófilo Fontaínhas Neto), presidente do NERA-Associação Empresarial do Algarve e antigo secretário de Estado, sublinhou a perda de peso político por parte do Algarve, no todo nacional.

Na sua opinião, o quadro económico atual da região algarvia, onde o Turismo é quase o único motor, explica esta perda de importância, até por terem deixado de existir aqueles industriais e comerciantes que antes batiam o pé a Lisboa, em defesa dos interesses do Algarve.

E sublinhou: «o Algarve não tem turismo a mais, tem é indústria, agricultura, comércio e outras atividades a menos».

Sobre o livro, Maria João Raminhos Duarte voltaria a salientar que «vai ter grande interesse para os historiadores nacionais».

E manifestou-se confiante no futuro: «pelo trabalho do Aurélio e de outros jovens investigadores, sei que o amor à história do Algarve está assegurado».

O livro está à venda nas principais livrarias do Algarve, nomeadamente na Papelaria da Vila, em Messines, mas também pode ser encomendado diretamente à editora, clicando aqui.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

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