Congresso das Terras do Infante terá de ser «semente» de mudanças

Este Congresso deve ser «como a semente de um processo amplo e continuado no tempo, que gere mudanças positivas, com significado e impacto na sustentabilidade do mar e na vida das pessoas»

A poucos dias do I Congresso da Associação de Municípios Terras do Infante, que vai decorrer no sábado, 23 de Março, em Lagos, o Sul Informação entrevistou Maria Joaquina Matos, presidente da Câmara de Lagos e também daquela associação de municípios.
A autarca defende a importância do Mar para a economia e o bem estar dos três municípios que constituem as Terras do Infante – Lagos, Aljezur e Vila do Bispo – , assim explicando a razão da escolha deste tema para a primeira edição da reunião magna.
Fala também da importância da colaboração com a Universidade do Algarve e dos projetos comuns que as Terras do Infante têm em mãos.

 

Sul Informação (SI) – Porque razão foi escolhido o tema do MAR para este I Congresso das Terras do Infante?

Maria Joaquina Matos (MJM) A posição geoestratégica do território correspondente à área de influência das Terras do Infante tem no Mar um dos seus principais ativos. Trata-se de um elemento unificador entre os três Municípios que integram a Associação. O “triângulo vicentino” está intimamente ligado ao Mar!
Importa, pois, comunicar, refletir e discutir o Mar enquanto gerador de emprego, promotor da economia regional e nacional, por um lado. Por outro, fazer o mesmo exercício em relação ao papel decisivo que as nossas zonas costeiras têm no bem-estar e na qualidade de vida dos nossos munícipes e de quem nos visita.
Em suma, o Mar como tema deste I Congresso das Terras do Infante resulta, também, da tomada de consciência quanto à necessidade de se debater este assunto de forma séria, envolvendo os principais atores e promovendo a articulação entre setores, para que, cada vez mais, possamos remar de forma integrada e navegar com um rumo definido.
É importante percebermos e termos sempre em equação as oportunidades, os desafios e as ameaças que ao mar e ao oceano respeitam.

SI – O Congresso tem estado a ser organizado em estreia parceria com a Universidade do Algarve. Qual a razão para esta parceria? Que vantagens?

MJM – Foi, desde o início, uma condição que considerámos indispensável e que impusemos a nós próprios, pelo conhecimento que a Universidade do Algarve detém, que produz e que comunica. Porque a UAlg é um referência em termos académicos, que por vezes é esquecida, dotada de um corpo docente ímpar seja na formação, seja na investigação.
Esta parceria confere ao Congresso o suporte científico indispensável, e, simultaneamente, contribui para a divulgação do trabalho muito válido que se faz na Universidade do Algarve e nos seus vários centros de investigação, assim como a sua aplicabilidade em vários setores económicos, com ganhos para a comunidade.
Depois, porque encontrámos na pessoa do Magnifico Reitor, Prof. Dr. Paulo Águas, toda a disponibilidade, interesse e a mesma vontade que nós.

SI – Qual é a importância que os três municípios das Terras do Infante atribuem ao tema do Mar e da Economia Azul?

MJM – Sempre nos preocupámos com a sustentabilidade nos seus vários domínios e vertentes. A água, o mar e os oceanos não são exceção.
Acreditamos no uso inteligente e aproveitamento sustentável dos recursos naturais, sem prejudicar os ecossistemas. Acreditamos que a dita “Economia Azul” será capaz de gerar soluções que vão neste sentido, por um lado beneficiando e salvaguardando o meio ambiente, por outro satisfazendo as necessidades básicas com que o ser humano se depara diariamente.
Bem sabemos que é um equilíbrio difícil, por isso mesmo também quisemos pôr em equação todas estas variáveis.
Do ponto de vista do investimento e afirmação de novos produtos turísticos, atente-se, a título de exemplo, ao surf (com especial expressão nos concelhos de Vila do Bispo e Aljezur), ao birdwatching (que Vila do Bispo tão bem tem sabido fomentar e cujo principal atrativo reside na sua faixa litoral) ou às marítimo-turísticas (que em Lagos têm proliferado, representando hoje em dia um dos principais atrativos do destino).
Neste Congresso, perceberemos, por exemplo, muito particularmente, o potencial que a indústria conserveira já representou, ficaremos a conhecer um novo projeto que chega a Lagos e a esta sub-região, (capaz de gerar 100 novos postos de trabalho diretos e 500 indiretos, num investimento global de 16 milhões de euros). E falaremos ainda sobre o nos propomos fazer, em parceria com a Universidade, pós-congresso.
Este Congresso tem, pois, de constituir-se como a semente de um processo amplo e continuado no tempo, que gere mudanças positivas, com significado e impacto na sustentabilidade do mar e na vida das pessoas. Que traga uma consciencialização reforçada no que concerne à necessidade de proteção e valorização do mar, assim como o comprometimento dos vários atores relativamente às atividades que urge fazer nas vertentes da educação ambiental, dos desportos náuticos, da investigação, do envolvimento das empresas e associações ligadas ao ramo, do ordenamento, da biodiversidade, da oferta turística, da pesca artesanal, dos portos de pesca e recreio, da coordenação de meios e competências.

SI – Um dos destaques do Congresso será a homenagem ao professor Mário Ruivo, recentemente falecido. Porque razão escolheram homenageá-lo?

MJM – O professor Mário Ruivo foi um homem ímpar! Um dos maiores vultos de sempre a nível nacional e internacional no que ao conhecimento, defesa e desenvolvimento sustentável e “governação dos oceanos” diz respeito. Para além disso, um humanista “militante” de um altruísmo incomparável.
É o reconhecimento do mérito e atesta da nossa capacidade de saber reconhecer a excelência e saber valorizar as pessoas cujos percursos de vida nos podem inspirar. Merece, e muito, esta homenagem, que é também a homenagem de todo o Algarve a este grande oceanógrafo.

SI – Prevê-se que a ministra do Mar, que vem encerrar o Congresso, traga alguma novidade ou faça algum anúncio?

MJM – Constituirá uma honra e um privilégio que este I Congresso seja encerrado pela senhora ministra do Mar Ana Paula Vitorino.
Não esperamos propriamente alguma novidade ou anúncio! A sua vinda é, por si só, um fator de discriminação positiva para estes três municípios, que apreciamos e registamos.
Ainda assim, e a titulo de exemplo, é com expectativa que aguardamos novidades sobre o desassoreamento da Barra de Lagos.

SI – Este Congresso marca uma nova fase da Associação de Municípios Terras do Infante? Passará a haver mais intervenção pública? Que outros projetos estão em andamento?

MJM – Sem dúvida, porque de facto é isso que pretendemos: fomentar a intermunicipalidade entre Aljezur, Lagos e Vila do Bispo, à luz dos nossos estatutos.
A Associação adquiriu, ao longo destes 18 anos de existência e funcionamento, uma maturidade que nos encoraja a procurar novos caminhos de cooperação e articulação institucional.
Sempre que se impuser e considerarmos justificável, pensar, agir, resolver e tomar posições conjuntas passará a ter um denominador comum: a Associação de Municípios Terras do Infante. É por isso expectável que, quer a intervenção pública, quer política, seja cada vez mais concertada e constante.
Prova disso, é o Plano Estratégico em concurso público, que determinará um Plano de Ação metódico, realista e operacional para uma ação focada na resolução dos problemas das populações dos nossos municípios, muito particularmente nas prioridades estratégicas deste território, objetivos sectoriais e projetos/ações a desenvolver, em todos os domínios.
Outro projeto já em curso prende-se com a requalificação da antiga “Casa dos Cantoneiros/JAE” no topo da serra do Espinhaço de Cão, para Local Estratégico de Estacionamento de Meios de Combate a Incêndios e respetiva Brigada, facto que se constituirá como mais uma resposta decisiva na deteção, vigilância, e combate a incêndios florestais.
E no mês de Maio, organizaremos o I Fórum Intermunicipal sobre Educação.
No fundo, pretendemos, a partir de agora, robustecer a cooperação intermunicipal, fomentando e alimentando iniciativas de valor acrescentado por forma a concentrar sinergias e ganhos de interesse comum.

SI – Não receia que esta iniciativa da Associação de Municípios Terras do Infante possa ser encarada pelos restantes presidentes de Câmara do Algarve como “concorrência” à AMAL?

MJM – (Risos) Não! De todo! Não há “concorrência” alguma que esta Associação possa fazer à Comunidade Intermunicipal do Algarve, até porque essa questão nunca se colocaria. Cada uma tem o seu âmbito!
Nós seremos a Associação de Municípios Terras do Infante!

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