Cinema e literatura juntam-se e até se degustam em Olhão

Tem cinema e literatura, apesar da intenção não ser mostrar apenas filmes que são adaptações de livros. Mas o Festival […]

Tem cinema e literatura, apesar da intenção não ser mostrar apenas filmes que são adaptações de livros. Mas o Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão (FICLO) que, vai decorrer de 4 a 13 de Abril, em diversos espaços desta cidade, terá muito mais – até a oportunidade de degustar um filme.

A dimensão literária do cinema – e vice-versa – serão exploradas ao longo de dez dias num festival que terá muitas estreias mundiais de filmes bem recentes, mas também de outros já bem antigos, a presença de escritores, uma componente de livraria, passeios fílmicos, oficinas, masterclasses, instalações artísticas e performances.

E nem sequer faltarão propostas bem originais, como a possibilidade de «comer um filme, depois de o ver», segundo os organizadores do festival. Na sessão de abertura do evento, que decorrerá no dia 4 de Abril no Auditório de Olhão, o chefe de cozinha Adérito Silva vai criar um menu inspirado no filme “The Gentle Indifference of the World”, de Adilkhan Yerzhanov, que o público poderá degustar, após o filme.

O FICLO é um festival único na região, «singular no país e raro a nível europeu», que será dinamizado pelo Cineclube de Tavira e pela  Câmara de Olhão, com o apoio do “365Algarve”, programa de animação cultural e turística do Algarve na época baixa.

 

Débora Mateus e Candela Vara

A ação espalhar-se-á por diversos espaços de Olhão, sendo o Auditório Municipal «a casa-mãe», segundo Débora Pinho Mateus, co-diretora do festival. Também a Re-Criativa República 14 e a Sociedade Recreativa Progresso Olhanense vão acolher a exibição de filmes e outras iniciativas do programa do FICLO. Os livros propriamente ditos, poderão ser encontrados no Mercado Municipal e na Sul, Sol e Sal.

A ideia não passa «por ter um festival de adaptações, embora não estejamos contra elas. Mas também procuramos outras simbioses», explicou Débora Pinho Mateus.

Assim, além de algumas adaptações, há filmes que se inspiram  num poema específico, outros que vão beber a universos literários como o de Júlio Verne, Joseph Conrad e Leão Tolstoi e outros ainda que, apesar de não terem uma ligação direta, nos remetem para determinadas obras (ver programa completo abaixo).

O festival assentará num formato de competição internacional, no âmbito da qual serão exibidos dez filmes. Destes, seis serão apresentados em estreia nacional e um deles em anteestreia.

Paralelamente, decorrerão dois ciclos, um dedicado a Kira Muratova, uma realizadora «que faleceu o ano passado e tem sido bastante esquecida», apesar de ter dirigido os seus primeiros filmes nos anos 60. Em Portugal, serão poucos os que conhecem a obra de Muratova, que, apesar de ter vivido boa parte da sua vida na União Soviética, «viu os seus primeiros filmes censurados durante 20 anos pelas autoridades soviéticas» e foi «a única realizadora a ter um filme proibido durante a época da Perestroika».

No FICLO, será feita «a maior restrospetiva até hoje em Portugal da obra desta realizadora», com a exibição de nove das suas obras, realizadas entre 1967 e 2012, quatro delas em estreia nacional.

 

 

Também haverá um ciclo dedicado ao cinema sueco, onde não faltará uma obra de Ingmar Bergman (“O Sétimo Selo”, 1957), mas onde predominam realizadores contemporâneos. Segundo Candela Vara, presidente do Cineclube de Tavira e codiretora do FICLO, a ideia foi apresentar uma «oferta um pouco mais fresca».

«Não queríamos ter uma oferta muito hermética. A Suécia tem uma longa tradição de cinema. Temos um Bergman, mas também temos um filme de Roy Anderssson, que é muito mais fresco. Temos, igualmente, um filme que entra naquele arquétipo de filmes de vampiros que são dos bairros e não dos castelos», contou.

Neste ciclo também será apresentado uma da obras em competição, o filme de ficção científica “Aniara”, de Pella Kagerman e Hugo Lilja, realizadores que marcarão presença em Olhão.

O público poderá contar, ainda, com  Special Screenings de filmes escolhidos pela organização «que não se enquadram em nenhum dos ciclos» e nos quais se incluem várias estreias nacionais.

Uma delas será a do filme “Agatha e les Lectures Illimitées”, realizado pela escritora Marguerite Duras em 1981.

Os escritores terão, de resto, um lugar no festival – como se impunha num evento que é, também dedicado à literatura. No âmbito do ciclo Obra Criativa, os organizadores lançaram o desafio a Gonçalo M. Tavares, a Alexandra Lucas Coelho e a Nuno Moura para escreverem texto «que entrassem em diálogo com um filme mudo à sua escolha.

Gonçalo M. Tavares optou por escrever um texto inspirado no filme “Tabu”, de F.W. Murnau, de 1931. Alexanadra Lucas Coelho, por seu lado, escolheu a obra “Limite”, de Mário Peixoto (1930). Já Nuno Moura, em parceria com Candela Vara, vai escrever um texto que dialogará com o filme “Juha”, realizado por Aki Kaurismäki em 1999.

Ou seja, não vão faltar oportunidades para marcar encontro ou descobrir as ligações mais ou menos diretas entre cinema e literatura, em dez dias de festival, em Olhão.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação e Câmara de Olhão

Programa Completo:

Competição Internacional

Auditório Municipal de Olhão

Aniara, de Pella Kagerman e Hugo Lilja (Suécia, Dinamarca) [Estreia Nacional] – com a presença dos realizadores

Little Crusader, de Václav Kadrnka (República Checa) [Estreia Nacional] – com a presença do realizador

In Praise of Nothing, de Boris Mitic (Sérvia) [Estreia Nacional] – com a presença do realizador

The Wild Boys, de Bertrand Mandico (França)

Our Madness, de João Viana (Portugal, França, Moçambique) com a presença do realizador

Serbenka, de Nebojša Slijepčević (Croácia)

Scary Mother, de Ana Urushadze (Geórgia, Estónia) [Estreia Nacional]

Petra, de Jaime Rosales (Espanha) [Antestreia]

The Gentle Indifference of the World, de Adilkhan Yerzhanov (Cazaquistão) [Estreia Nacional] – com a presença do realizador

Delta, de Oleksandr Techynskyi (Ucrânia, Alemanha) [Estreia Nacional]

 

Ciclo Realizadoras

Kira Muratova

Auditório Municipal de Olhão & Sociedade Recreativa Progresso Olhanense

O FICLO dedica, este ano, um ciclo a Kira Muratova, uma cineasta tão particular, quanto esquecida, que morreu no ano passado. Das realizadoras mais independentes que conhecemos, nunca cedeu, mesmo vendo os seus primeiros filmes censurados durante 20 anos pelas autoridades soviéticas. Foi a única realizadora a ter um filme proibido na época da Perestroika (The Asthenic Syndrome, de 1989).

Considerada pelo crítico Jonathan Rosebaum como “a maior cineasta russa viva”, num artigo de 2017. O FICLO vai trazer nove filmes de Muratova a Olhão, a mais completa retrospectiva alguma vez realizada em Portugal.

Brief Encounters (1967)

The Long Farewell (1971)

Getting to Know the Big, Wide World (1978)

Chnage of Fate (1987)

The Asthenic Syndrome (1989) [Estreia Nacional]

Three Stories (1997) [Estreia Nacional]

Chekhovian Motifs (2002)

The Tuner (2004) [Estreia Nacional]

Eternal Homecoming (2012) [Estreia Nacional]

Com o apoio do Centro Dovzhenko Ucrânia

 

Ciclo País Convidado – Suécia

Auditório Municipal & República 14

O programa inclui filmes escolhidos a partir da cinematografia sueca, dirigidos para um público mais jovem. Destaque para o filme Deixa-me Entrar (Let the Right One In, 2009), nomeado para o BAFTA de Melhor Filme em Língua Estrangeira e baseado num livro do escritor John Ajvide Lindqvist – o mesmo autor do conto que deu origem ao filme Border, premiado no Festival de Cannes.

A Respeito da Violência (Concerning Violence), de Goran Olsson (2014)

Na Fronteira (Border), de Ali Abbasi (2018)

Deixa-me entrar (Let the Right One In), de Tomas Alfredson (2009)

Canções do Segundo Andar (Songs from the Second Floor), de Roy Andersson (2000)

O Sétimo Selo (Seventh Seal), de Ingmar Bergman (1957)

(O ciclo inclui ainda o filme de ficção científica Aniara, que faz igualmente parte da Competição Oficial)

Com o apoio da Embaixada da Suécia, do Consulado da Suécia em Tavira e Tavira Lawyers.

 

Ciclo Obra Criativa

Auditório Municipal de Olhão

Gonçlo M. Tavares – Tabu (E.U.A., 1931), de F. W. Murnau

Alexandra Lucas Coelho – Limite (Brasil, 1930), de Mário Peixoto

Nuno Moura & Candela Vara – Juha (Finlândia, 1999), de Aki Kaurismäki

 

Special Screenings

Auditório Municipal, Progresso Olhanense & República 14

Ana Elephant Sitting Still, de Hu Bo (China, 2018)

Man in the Well, de Hu Bo (China, 2016) [Estreia Nacional]

Mole, de Ildikó Enyedi (Hungria, 1987) [Estreia Nacional]

Agatha et les Lectures Illimitées, de Marguerite Duras (França, 1981) [Estreia Nacional]

Duras Filme, de Jean Mascolo & Jerôme Beaujour (França, 1981) [Estreia Nacional]

Rogério de Carvalho, um Nómada Fiel, de Pedro Castanheira (Portugal, 2019) [Work in Progress]

A Porta 21, de João Marco (Portugal, 2015) [Special Algarve, filme local]

 

Performances Super 8

Piropeep, do Colectivo composto por Francisca Bagulho, Cláudia Castelo, António Gomes, Manuel Henriques

Máquina de Guerra, de Miguel Dinis de Oliveira

 

Instalações

Cadavre Exquis, de Bruno Mendes da Silva

Citações, de Ricardo Vieira Lisboa

 

Oficinas

Escrita e Imaginação, por Gonçalo M. Tavares (70 euros/pessoa – número de vagas: 25 Inscrições: [email protected])

 

Masterclass

Václav Kadrnka – “Adapting a poem into images” João Viana – “Literatura Africana e Cinema Decolonial” / African Literature and Decolonial Cinema” Miguel Clara Vasconcelos – “Circo do Amor, do conto à curta-metragem” Boris Mitic – “How to Film Nothing” Salomé Lamas ‘Cinema e Literatura – Dialécticas: A multiplicidade de formas e possibilidades propõe um debate que nunca se extinguirá’

Consultório Psicomágico: Livros e Filmes (Psychomagic Literary Practice: Books and Films): inspirado na obra do cineasta, escritor e psicomago Alejandro Jodorowsky

 

Convidados Internacionais

Adilkhan Yerzhanov (Realizador) – Cazaquistão Pella Kågerman e Hugo Lilja (Realizadores) – Suécia Boris Mitic (Realizador) – Sérvia Václav Kadrnka (Realizador) – República Checa Javier Tolentino (Crítico El Séptimo Vicio) – Espanha

 

Convidados Nacionais

Alexandra Lucas Coelho (Escritora e Jornalista) Gonçalo M. Tavares (Escritor e Prof. Universitário) Salomé Lamas (Realizadora) Cíntia Gil (Directora DocLisboa) Nuno Moura (Poeta e Editor) Miguel Clara Vasconcelos (Realizador) Mirian Tavares (Prof. Universidade Algarve/Presidente CIAC) Miguel Dinis de Oliveira (Investigador Doutorando na U. Coimbra) João Viana (Realizador) Bruno Mendes da Silva (Prof. Universidade Algarve) António Poppe (Artista/Músico/Poeta) & Mick Trovoada (Músico) Carlos Natálio (Crítico de cinema – À pala de Walsh) Ricardo Vieira Lisboa (Crítico de cinema – À pala de Walsh)

 

 

 

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