«Tiro o chapéu a quem teve a ideia de fazer um festival como este em Monchique»

Os cinco espetáculos já têm casa cheia e há enchente também nos hotéis e restaurantes de Monchique

«Tiro o chapéu a quem teve a ideia de fazer um festival como este em Monchique», disse Victor Cathala, responsável pela companhia francesa Cirque Aïtal, que, hoje à noite, estreia uma série de cinco espetáculos, todos já esgotados, no chapitô montado no heliporto daquela vila serrana do Algarve.

A conversa decorreu ontem à tarde, no meio dos ensaios da família de acrobatas russos e da própria dupla franco-finlandesa Victor e Kati, entre gargalhadas das crianças filhas dos artistas, ordens e comentários feitos em russo, francês, inglês, português. Uma verdadeira algarviada própria do circo e a mostrar a riqueza e diversidade que 3500 espectadores felizardos (700 por espetáculo) vão poder experimentar a partir desta sexta-feira, dia 28, e até dia 1 de Janeiro, inclusive.

E é precisamente «diversidade» que Victor promete: «vamos surpreender o público pela diferença e diversidade do circo que aqui trazemos. Temos experiências variadas sobre o circo e vamos colocá-las na pista, partilhando-a com artistas de circo que nos trazem um lado mais tradicional e clássico, e nós que trazemos um lado novo. Vamos mostrar esta singularidade do circo, o que é o circo para a Kati e para mim».

A dupla de acrobatas Victor e Kati é bem o espelho desta diversidade: ele, francês, moreno, cabelo escuro encaracolado, alto e espadaúdo, ela, finlandesa, louríssima, pequena e com ar frágil (é apenas o ar, como se verá…).

Nos ensaios, apesar de estarem a usar o arnês, como medida de segurança – no espetáculo não haverá nada disso – até parecia fácil a forma como Victor, com uma mão, levantava Kati no ar, como se de uma pluma se tratasse. E, às vezes, com os seus dois também louríssimos filhos a brincarem pelo meio das pernas da mãe e do pai. «A ama deles ficou retida em Toulouse», explicou Kati ao Sul Informação. «Por isso, andam por aqui connosco».

 

 

Kati está expectante quanto à reação do público, mas está também confiante: «as pessoas vão reagir de uma maneira muito positiva, tenho a sensação de que este é um espetáculo que tinha de vir aqui, pertencia-lhe vir aqui. É um encontro maravilhoso entre uma audiência de 700 pessoas à volta do redondel e o que se vai passar na pista. Monchique vai ter uma bela experiência».

Victor reforça: «Estamos muito orgulhosos de vir apresentar o nosso espetáculo de circo a Portugal, a Monchique. Somos como crianças: estamos no chapitô, estamos muito muito felizes, de estar com o Giacomo e com toda a bela equipa que nos rodeia, e queremos fazer o máximo. Eles fizeram o máximo e agora é a nossa vez de fazer o máximo».

Esta não é a primeira vez que Victor vem a Portugal, já cá esteve há 15 anos, mas em Lisboa, para fazer um estágio na escola de circo do Chapitô. Mas agora trata-se de uma experiência bem diferente. Uma vez que se trata de uma companhia mais habituada às grandes cidades, enquanto Monchique é quase uma aldeia, o que espera Victor destas apresentações?

«Justamente, interrogo-me. Tiro o chapéu a quem teve a ideia de fazer uma festival como este em Monchique. É que andamos pela rua e parece que não há ninguém nesta terra…»

 

Uma família, literalmente, do circo

A assistir, maravilhados, aos ensaios da trupe e às conversas com os jornalistas, estavam Giacomo Scalisi e Madalena Victorino, responsáveis pela programação «Lavrar o Mar», onde se insere este espetáculo denominado «Saisons de Cirque» e que terá ainda malabaristas, acrobatas em cavalo e música ao vivo.

Há cerca de duas semanas, o casal estava um pouco apreensivo, porque ainda havia muitos bilhetes para vender. Mas agora já se sabe que os cinco espetáculos terão casa cheia, com uma longa lista de espera. «Este ano, aumentámos a lotação, eram 670 pessoas, mas pedimos à companhia para aumentar ainda um pouco mais. E conseguiram chegar a 700, mas mesmo assim temos tudo vendido e agora estamos com problemas, porque há pessoas que vêm no último momento e querem bilhete. Este ano, com uma lotação tão grande, estávamos à espera de conseguir meter toda a gente no chapitô, mas não é possível», explicou Giacomo.

Apesar de Madalena lembrar que «há tendas muito maiores» que a que está armada em Monchique, Giacomo comenta: «mas aqui não entram, chegámos ao máximo do espaço do heliporto».

Por isso, salienta Madalena Victorino, não desesperem as pessoas que desta vez não conseguiram bilhete: «em Abril, vamos ter outro momento de circo importante, também depois em Maio. Começámos a distribuir os espetáculos. No ano passado, fizemos dois projetos de novo circo, este ano são três. É uma distribuição no ano que pode levar as pessoas que não conseguiram vir cá agora a interessar-se por vir no domingo de Páscoa, ver a Tatiana-Mosio Bongonga a atravessar a natureza no seu fio aéreo».

Todo este interesse pela nova tradição que é o espetáculo de novo circo em Monchique, pelo Ano Novo, está a ter um bom retorno, mesmo ao nível da hotelaria e da restauração neste concelho serrano.

«As termas têm um desconto de 15% para as pessoas que são portadoras de bilhete para este espetáculo de circo. Os agroturismos e turismos rurais estão todos cheios. E até no litoral há hotéis em que os próprios clientes pedem para comprar bilhetes do circo e o hotel liga-nos para reservar. As coisas estão a começar a funcionar nesse sentido», explica Giacomo.

«A hotelaria é um aspeto que estamos a desenvolver mais, este ano, numa relação direta com o programa 365Algarve e com os seus objetivos de alimentar a dinâmica ao nível dos turistas que nos visitam nesta época, com uma programação cultural de qualidade. Isso está a desenvolver-se de forma muito concreta: já temos relações diretas com os grupos hoteleiros Vila Galé, Tivoli, Pestana. Para além dos mais pequenos, com quem temos relação direta, nomeadamente o Hotel das Termas e as residenciais daqui, que alojam não só os artistas e as equipas, como muitas pessoas do público», acrescentou Madalena.

«Sem falar de todos os restaurantes que vão estar cheios: as pessoas vêm almoçar, vêm jantar, passam aqui o dia», frisa ainda Giacomo.

Um aspeto que deixa Madalena Victorino muito contente é o facto de «a população local estar muito mais mobilizada, muito presente. Temos muitas pessoas monchiquenses a virem ver o espetáculo, interpelam-me na rua constantemente, a perguntar se há bilhetes para o dia x ou y».

«A própria biblioteca, que vendeu os bilhetes, disse-nos que muita gente de Monchique foi este ano comprar bilhetes», junta Giacomo.

«Isso também nos dá muita alegria, porque queríamos isso. Não gostamos da ideia de que isto é apenas para quem vem de fora. Isto não é um ovni, é uma coisa feita também, e muito, para as pessoas que aqui estão e que aqui vivem e que podem usufruir de uma programação incrível na sua própria terra», reforça Madalena.

«No primeiro ano, era a desconfiança total, no segundo foi tipo “deixa lá ver o que é que aquilo é” e agora estamos numa fase de as pessoas estarem mais à vontade, para demonstrarem a vontade de vir», concluiu a programadora do Lavrar o Mar.

Mas mesmo quem não conseguiu bilhete pode juntar-se à festa da passagem de ano, no heliporto de Monchique, junto à tenda. Haverá pizzas cozidas em forno de lenha, ali mesmo, porco no espeto, vinho quente à moda francesa, crepes também gauleses, doces algarvios, muita, muita música e muita, muita animação. «Venham até cá passar o ano connosco», desafiaram Giacomo e Madalena.

 

Fotos e vídeo: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 

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