Manuel Amorim quer “fazer escola” na construção de cordofones em Loulé

Mestre luthier quer lançar projeto de formação para transmitir o seu conhecimento na construção de instrumentos musicais

Foto: Nuno Elias/ETIC_Algarve

Manuel Amorim, o construtor de cordofones recordista do Guinness, reforçou o Loulé Criativo em Agosto e, este sábado, às 10h30, o seu ateliê vai ser oficialmente inaugurado, no edifício Solar das Palmeiras. A construção de cordofones está cada vez mais industrializada, mas o mestre luthier quer “fazer escola” em Loulé, passando o seu saber a novas gerações.

O artesão, desde que abriu as portas do seu novo espaço, tem «feito muitos restauros», construído bandolins, guitarras e cavaquinhos, num trabalho que requer muita perícia e está sujeito a muitas condicionantes.

O ateliê de Manuel Amorim cheira a madeira e a cola e não há grande maquinaria. Quase tudo é feito à mão, com processos que remontam ao século XVI e XVII. Os vernizes e as colas são artesanais e orgânicos, não há plástico e sim osso no cavalete. «Se não for osso, se for plástico, o som sai completamente diferente», explica.

Todos os detalhes têm influência no resultado final de um instrumento de cordas. As madeiras, os materiais, as colas, os vernizes, ou a colocação dos trastes, que requer uma precisão ao milímetro e que é feita através de uma fórmula matemática.

Foto: João Sabino/ETIC_Algarve

Por tudo isto, o processo é moroso. «Um cavaquinho demora uma semana e dois dias a construir, sem paragens entre colagens. Com as paragens, demora mais uma semana», conta Manuel Amorim ao Sul Informação.

«Construir um instrumento é como um filho. Por muitos cuidados que tenha na sua construção, só sei como vai sair o resultado final quando tem cordas» e esse é o último passo do processo, acrescenta.

O segredo de um bom instrumento de cordas começa no corte da madeira. Madeira essa que chega de todos os continentes e Manuel Amorim dá o exemplo de um cavaquinho que segura nas suas mãos: «este instrumento tem pau santo do Brasil, mogno das Honduras, pinho da Flandres, ébano de África e jacarandá da Índia».

Foto: Rodrigo Damasceno/ETIC_Algarve

Para conseguir estas madeiras, Manuel Amorim tem de ir a Espanha e à Alemanha, países que «têm o monopólio das madeiras para luthier. Um tampo pode custar 700 euros. Um jogo de pau santo do Brasil custa quase 2000 euros».

Estes preços acabam por encarecer os instrumentos que são produzidos de raiz por um mestre luthier. «Uma guitarra clássica pode custar cerca de 1500 euros, já uma guitarra portuguesa entre 1500 a 1800 euros». No entanto, realça Manuel Amorim, «não se ganha dinheiro com este ofício. É muito trabalhoso e as matérias primas são muito caras. Vendo cerca de 12 instrumentos por ano».

Quem mais aprecia o trabalho meticuloso de um mestre luthier como Manuel Amorim, que aprendeu o ofício com o mestre Fernando Meireles, em Coimbra, são os músicos. «Os músicos procuram instrumentos adequados às suas necessidades, pensados para a curvatura das mãos, para o tamanho da coxa, onde assenta a guitarra. Tudo pode ser trabalhado. Um músico não perdoa e, quando me procura, sabe o que quer. Um instrumento destes só se consegue neste tipo de ateliês».

No entanto, este tipo de ateliês e de trabalho artesanal na construção de cordofones é cada vez mais raro em todo o país e Manuel Amorim quer deixar legado. «Tenho um projeto para dar formação a quem quiser aprender o ofício. Seria um curso de um ano de formação, duas vezes por semana, durante três horas», adianta.

Foto: João Sabino/ETIC_Algarve

O mestre luthier deixa, ainda assim, um aviso: «só para aprender pode levar dois ou três anos e não se pode pensar em dinheiro. Quando já se começa a ter mais confiança, o músico vai tocar e pode fazer reparos, e as coisas vão sendo assim. Vai-se melhorando a cada instrumento».

Além da formação, Manuel Amorim quer estabelecer parcerias com escolas para mostrar às novas gerações os processos de fabrico, as ferramentas, a madeira, ou a sua história.

Este sábado, à mesma hora, será também inaugurada a Oficina de Relojoeiro, mais um espaço do Loulé Criativo, também localizado no edifício do Solar das Palmeiras. Nesta oficina, o mestre relojoeiro José João Guerreiro «desenvolve a sua arte, efetuando manutenções, arranjos, mas também transmitindo os seus conhecimentos e ensinando os segredos do ofício aos potenciais interessados», explica a Câmara de Loulé.

As novas oficinas irão funcionar de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 17h30.

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