Os turistas querem apanhar laranjas e a nova rota de Silves vai ajudá-los nessa tarefa

Apanhar laranjas da árvore pode parecer uma coisa básica para muitos algarvios, mas não o é para quem vive em […]

Apanhar laranjas da árvore pode parecer uma coisa básica para muitos algarvios, mas não o é para quem vive em cidades e em climas mais frios. A isso pode juntar-se a possibilidade de ir depois até à Quinta dos Avós, meter as mãos na massa e aprender a fazer torta de laranja e depois comê-la acabadinha de sair do forno.

Estas serão apenas duas das muitas experiências que os turistas (e não só) poderão viver na futura Rota da Laranja, que está a ser delineada e ontem foi apresentada na abertura da 2ª Mostra Silves Capital da Laranja.

Joana Silveira, da Divisão de Turismo da Câmara de Silves, responsável pela montagem desta iniciativa, explicou que a Rota partirá «dos viveiros, onde são produzidas as árvores, passará pelos pomares e pelas quintas, visitará a indústria transformadora dos citrinos, incluirá também o artesanato, o património imaterial, a gastronomia e o alojamento», integrando «atividades de lazer e bem estar», «ao longo de todo o território do município», do litoral até ao barrocal e à serra, numa lógica de «turismo sustentável».

Porque a citricultura, que é o mais importante setor agrícola do concelho de Silves, ocupando cerca de 7 mil hectares, tem processos que se estendem ao longo de todo o ano, a rota permitirá ainda «atenuar a sazonalidade» turística.

Para as empresas que vierem a aderir à Rota da Laranja (muitas já o estão a fazer), esta será uma forma de divulgar ainda mais a marca «Silves Capital da Laranja», assim como irá criar «novas oportunidades de negócio e de parceria» e trazer «mais e novos consumidores» a um produto de grande qualidade.

A Rota da Laranja irá, assim, criar itinerários temáticos, em todo o concelho, com programas de duração flexível. Como revelou Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves, «irá desafiar os visitantes conforme a sua disponibilidade, se tiverem uma tarde ou se tiverem três dias. Os visitantes passarão a saber o que visitar, onde fica, onde comer, onde experienciar».

A rota dedicará ainda atenção a dois nichos do turismo que, no concelho de Silves, têm muito valor ou podem vir a tê-lo: o caravanismo e o turismo acessível.

Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, manifestou a sua satisfação pela criação deste novo e original produto turístico, que tira partido de uma riqueza local, a laranja, «fruta que é preciso promover e valorizar».

«Há poucos dias ficámos a saber os números do turismo no Algarve, em 2017, que foram os melhores de sempre: tivemos 19 milhões de dormidas e 1000 milhões de proveitos. Mas o número de camas não aumentou. O que aumentou foi a diversidade e a oferta e qualidade da região, com mais barrocal e serra, mais alojamento local, mais turismo em espaço rural, mais empresas a trazer pessoas para o interior, mais associações de desenvolvimento local a promover iniciativas de animação turística».

Por seu lado, Vítor Neto, antigo secretário de Estado do Turismo, empresário, atual presidente do NERA e ainda silvense de nascimento, convidado para falar da importância da criação de iniciativas como a Rota da Laranja, começou por recordar que o seu bisavô, «há 120 anos, ali em Vale Parra, produzia laranjas que vendia em Lisboa, mandando-as para lá no comboio que tinha sido inaugurado há pouco tempo».

O empresário, gestor da empresa familiar com sede em São Bartolomeu de Messines, salientou que esta rota «terá vários impactos e não só no setor da citricultura», defendendo mesmo que não é só Silves que precisa deste projeto. «É todo o Algarve que precisa que este projeto vá para a frente».

Vítor Neto sublinhou a «importância estratégica dos citrinos no Algarve», defendendo que «temos de voltar a valorizar o peso da agricultura na produção de riqueza na nossa região».

Os próprios algarvios, disse, «não conhecem a força e o peso dos citrinos da economia da nossa região. Temos que mudar isso». Já antes Fernando Severino, diretor regional de Agricultura, tinha recordado que «os citrinos são a principal cultura agrícola do Algarve, que concentra 70% da produção nacional e gera 70 a 80 milhões de euros anuais de volume de negócios».

Vítor Neto frisou a criação da Rota da Laranja como «um novo produto turístico que permite sentir um outro Algarve». «Serão milhares de pessoas que irão daqui dizendo: comi as melhores laranjas do mundo! Quanto é que isto não vale?»

Este é, defendeu, «um projeto que merece o nosso carinho e temos de conquistar também toda a região para ele. É também um desafio para a Região de Turismo».

«O turismo só terá futuro no Algarve se tiver à sua volta um conjunto de atividades económicas que o sustentem. Sozinho, o turismo não tem condições para sobreviver», concluiu o presidente da principal associação empresarial do Algarve.

Mas enquanto a Rota da Laranja não está a funcionar no terreno – espera-se que o esteja até ao fim deste ano -, a laranja continua a estar em destaque em Silves. A Mostra a ela dedicada continua este sábado e domingo. Gastronomia, doçaria, cerveja artesanal de laranja, citrinos de todas as variedades, sumos acabadinhos de espremer e cheios de vitamina C, artesanato, as últimas novidades em máquinas e tecnologia agrícola, animação são apenas alguns dos ingredientes deste certame, de entrada livre. À noite, sobem ao palco Amor Electro (este sábado) e Moçoilas (domingo).

E, amanhã à tarde, até haverá uma surpresa para os mais gulosos: a Quinta dos Avós (que, na feira, tem à venda um folar de laranja, feito especialmente), também foi encarregada de confecionar uma torta gigante de laranja. E certamente que das mãos dotadas da D. Encarnação Gonçalves irá sair uma torta de laranja de comer…e chorar por mais!

 

Fotos: Fabiana Saboya | Sul Informação

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