Doutoramentos nos Politécnicos abrem a porta a mais oferta na área de enfermagem na UAlg

O Governo aprovou esta quinta-feira uma proposta de lei que vai permitir às instituições de ensino politécnico atribuir o grau […]

O Governo aprovou esta quinta-feira uma proposta de lei que vai permitir às instituições de ensino politécnico atribuir o grau de Doutor. Uma medida que Paulo Águas, reitor da Universidade do Algarve (UAlg), aplaude e que poderá levar a academia algarvia a avançar para ofertas de doutoramento na área da Enfermagem, um setor pouco explorado a nível nacional.

O responsável máximo pela universidade algarvia, onde coexistem, em total paridade, os subsistemas universitário e politécnico, disse ao Sul Informação que, apesar de a UAlg não estar, «neste momento, a equacionar o desenvolvimento de doutoramentos no subsistema politécnico», esta oferta poderá surgir, no futuro.

«Nós não temos doutoramentos na área da enfermagem e há muito poucos a nível nacional. Esta é uma área exclusiva do subsistema politécnico, mas o doutoramento tem sido oferecido pelo universitário. A prazo, poderemos desenvolver doutoramentos neste campo, desde que tenhamos as condições necessárias», disse Paulo Águas, o primeiro docente do politécnico a ser eleito reitor de uma universidade portuguesa.

«Não haverá aqui nenhuma corrida para termos essa oferta no subsistema politécnico. Não temos nenhuma meta, em que dizemos que queremos ter o primeiro doutoramento do politécnico na UAlg dentro de um, dois ou três anos. Mas, desde consigamos reunir as condições, o que me parece mais natural é avançar com oferta na área da enfermagem», reforçou.

Também nas áreas do Design de Comunicação, da Imagem Animada e da Engenharia Civil «se poderá vir a colocar a possibilidade de criação de doutoramentos», disse Paulo Águas, salientando que «não quer dizer que isso venha a acontecer».

Mesmo sem pressa para criar mais oferta, o reitor da UAlg não deixa de considerar a medida «positiva», tendo em conta que «tudo o que nos permita fazer mais coisas é sempre uma boa notícia».

«Trata-se de uma evolução do sistema e aproximação ao que ocorre noutros países europeus. É o reconhecimento de que o que interessa é a capacitação, e se esta existe no subsistema politécnico, não há qualquer obstáculos a que estas instituições possam conferir o grau de Doutor», considerou.

No caso da Universidade do Algarve, onde os dois subsistemas estão integrados há muito, já existe uma lógica de colaboração nos doutoramentos.

«Nós temos, nos nossos programas doutorais, a participação de docentes dos dois subsistemas. Tendo isso em conta, seria difícil, para nós, criar agora uma linha de doutoramentos para cada um dos subsistemas. A nossa oferta tem de cobrir as áreas científicas e tem de responder aos desafios do conhecimento, da ciência e da inovação», resumiu.

Ou seja, «o que não se fará, de maneira nenhuma, é replicar doutoramentos», repetindo a oferta em determinada área nos dois subsistemas.

Para já, a proposta de lei que abre a porta à criação de doutoramentos de base politécnica só foi aprovada pelo Conselho de Ministros, faltando a “prova de fogo”, que é a sua aprovação na Assembleia da República, onde o Governo PS não tem maioria. Isto leva Paulo Águas a perspetivar que «ainda demorará algum tempo» até à sua implantação.

As alterações que o executivo de António Costa quer introduzir decorrem de uma recomendação feita por peritos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que estiveram a avaliar o sistema nacional de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.

Além do reforço do papel do ensino superior politécnico, a organização internacional recomendou uma reformulação da oferta de cursos superiores para adultos que já estejam inseridos no mercado de trabalho.

«Portugal, nos últimos 20 anos, deu um salto enorme ao nível das qualificações. Mas ainda continuamos atrás [da média da OCDE]. Temos mais de 300 mil pessoas com mais de 25 anos que não tiveram acesso ao Ensino Superior. O que está aqui em causa é como podemos qualificar estas pessoas, que já estão inseridas no mercado de trabalho», enquadrou Paulo Águas.

Na proposta de lei ontem apresentada é preconizada a criação de cursos Técnicos Superiores Profissionais(TeSP) com duração de apenas um ano e orientados para pessoas com mais de 30 anos, que estejam a trabalhar e tenham, pelo menos, cinco anos de experiência profissional.

Este será, para o reitor da Universidade do Algarve, «um grande desafio, que não vai ser fácil». Em causa está a «redução muito grande dos públicos para cursos em regime noturno» sentida nos últimos anos, bem como a composição do tecido empresarial da região, que poderão dificultar o recrutamento de estudantes em número suficiente para oferecer formação superior em determinadas áreas.

«Apesar de termos aqui a atividade do turismo, não temos uma malha industrial com concentração num setor, que justifique a criação de oferta específica», acrescentou.

Uma questão que poderá ser ultrapassada através da parceria com as empresas da região, com as quais a Universidade do Algarve pensa trabalhar na criação desta oferta.

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