Já há uma ponte a ligar Alcoutim a Sanlúcar…mas é só por uns dias. A “construção” desta ponte é um dos eventos principais do Festival do Contrabando que, a partir desta sexta-feira, dia 24, e até domingo, dia 25.
Estes dias são dedicados à junção e fusão da homenagem a uma atividade que ao longo da história foi importante para as gentes da fronteira, com as artes e a cultura.
Ao longo do fim de semana prolongado, haverá um mercado de época, gastronomia local, desfiles etnográficos, teatro de rua, bandas de música de rua, oficinas de artesanato e muita mais animação, tendo como grande atrativo a Ponte Pedonal Transfronteiriça Alcoutim Sanlúcar de Guadiana, disponibilizando a experiência pioneira de caminhar sobre o Rio Guadiana e transpor a fronteira de forma original e única, um sonho antigo das duas vilas.
Entretanto, quem já chegou a Alcoutim, foi a caravela «Boa Esperança», que esta sexta-feira subiu o Rio Guadiana e agora está ancorada frente à vila algarvia, tendo a vila espanhola em frente.
O Festival abre esta sexta-feira com as primeiras Jornadas do Contrabando, que, a partir das 9h30, reúnem antigos contrabandistas, guardas-fiscais, investigadores, entre outros participantes, portugueses e espanhóis, para debater a atividade do Contrabando.
A iniciativa, integrada no Festival do Contrabando, organizado pelo Município de Alcoutim, pretende transmitir uma visão clara das atividades do contrabando, efetuando o reconhecimento e a valorização de uma identidade local, das memórias e do património do contrabando.
O contrabando foi a “arte” de comercializar às escondidas dos olhos da lei e dos governos, respondendo às necessidades e dificuldades das gentes raianas. Alimentos básicos como ovos, farinha e amêndoas, foram transportados, pela calada da noite, de um lado ao outro da fronteira. Para além dos bens materiais partilharam-se sentimentos, conhecimentos e alimentaram-se sonhos.
«Atualmente, com o crescente interesse pelo património cultural, faz todo o sentido registar e estudar as “memórias” do contrabando numa perspetiva de melhor entender a identidade local e contribuir para a discussão do despovoamento do interior e especialmente nesta zona raiana», salienta a organização das Jornadas.
«As gerações que viveram o contrabando tradicional estão a desaparecer, perdendo-se a sua cultura e sentido de sobrevivência. Com eles perdem-se conhecimentos, passados entre gerações, que foram acumulados ao longo dos anos», acrescenta.
As primeiras Jornadas do Contrabando contam a presença de historiadores, sociólogos e antropólogos, investigadores, professores, poetas, especialistas que abordarão temáticas como “Contrabando, memoria e identidad en el bajo guadiana”, “Contrabando na Raia de Mértola – Um Património Identitário da Memória Oral e do Imaginário Popular. Evocação de uma Investigação Singular”, “El contrabando tradicional en la frontera hispano-lusa como recurso y como identidad” entre outros.
No decorrer do evento, será possível assistir à Curta-metragem “Adaptação Cinematográfica de “Fronteira”; ao “Documentário Contrabando” e à apresentação do livro “Manual de Contrabando e Sobrevivência. Memórias Alcoutenejas”.
As Jornadas terminam com uma mesa redonda, que coloca em confronto direto os atores de um lado e de outro desta atividade raiana, os guardas-fiscais e os contrabandistas.
O programa do Festival do Contrabando, que se integra no programa 365 Algarve, pode ser consultado na página da Câmara Municipal de Alcoutim e na página de facebook do evento.
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