Posse Administrativa de casas no Farol começou com tensão mas sem incidentes

«Intrusos! Intrusos! Intrusos!», gritava um grupo de ilhéus, enquanto formava uma barreira para tentar impedir os técnicos da Sociedade Polis […]

«Intrusos! Intrusos! Intrusos!», gritava um grupo de ilhéus, enquanto formava uma barreira para tentar impedir os técnicos da Sociedade Polis Ria Formosa de tomar posse administrativa de uma casa no núcleo do Farol da Ilha da Culatra, em Faro, esta quarta-feira.

Um esforço em vão, já que a casa acabou mesmo por ser marcada com um número a azul e a notificação que diz que o edifício é agora propriedade do Estado, que a irá demolir, foi afixada.

O início deste processo, que terá novos episódios amanhã, dia 23 de Fevereiro (Farol), e a 3 de Março (Hangares), não foi pacífico. Cerca de centena e meia de pessoas rodearam os técnicos da Polis, que foram escoltados por 40 elementos da Polícia Marítima, gritando palavras de ordem, entremeadas com insultos e até ameaças.

Ausente, esteve José Pacheco, o novo presidente da Sociedade Polis Ria Formosa, que não se deslocou ao Farol para acompanhar a tomada de posse das casas.

Do lado dos ilhéus, Feliciano Júlio, presidente da Associação da Ilha do Farol de Santa Maria, ia apelando ao serenar dos ânimos, enquanto acompanhava de perto a operação. Ontem, dia 21 de Fevereiro, deram entrada no Tribunal de Faro três providências cautelares, relativas a processos cíveis de reclamação de posse por usucapião, mas acabaram por não evitar a marcação das casas, pois a Polis não foi, ainda, notificada da decisão do tribunal.

Já outras três providências, que foram aceites no Tribunal Administrativo de Loulé, levaram a que a Polis apenas tomasse posse de 12 das 15 casas que deviam ter sido marcadas para demolir.

Amanhã, dia em que está prevista a tomada de posse de mais 18 edificações, serão entregues outras quatro Providências Cautelares (cíveis), que, como aconteceu hoje, não deverão impedir que a Sociedade as marque e cole a notificação oficial da tomada de posse.

Ou seja, das 33 casas do Farol que estariam destinadas a ir abaixo, dez dependem ainda de processos em Tribunal. A estas, há que juntar as três cuja manutenção está a ser negociada entre os representantes dos ilhéus e o ministro do Ambiente, todas elas «de primeira habitação». Duas delas «pertencem a profissionais da pesca e do marisqueio», a outra é propriedade de um pescador reformado, o mestre Leandro.

Foi, de resto, à porta deste antigo pescador e mestre de embarcação que se registaram os primeiros momentos de verdadeira tensão. Apesar dos protestos do proprietário da casa e de outros ilhéus e dos avisos de Feliciano Júlio de que a situação da casa ainda estava em negociação, os técnicos da Polis avançaram para a tomada de posse.

Mestre Leandro, em declarações ao Sul Informação, garantiu que não aceitará que a sua casa venha abaixo, já que esta é a única que tem em seu nome. «Os meus filhos têm casa em Olhão, mas eu só tenho esta casa. Comprei-a há mais de 20 anos e vivo aqui quando a saúde me deixa», diz o antigo profissional da pesca.

«Se vierem para demolir a minha casa, eu fecho-me lá dentro», assegurou o mestre Leandro, que em tempos teve o seu próprio barco e liderou tripulações «de 60 homens». «Tudo o que tenho e tive, consegui-o com estes aqui», garante, batendo de forma determinada nos braços.

A revolta do mestre Leandro encontra paralelo na de outros ilhéus, mesmo daqueles cujas casas não irão, pelo menos para já, ser demolidas. Em várias ocasiões, a população procurou colocar-se à frente dos técnicos da Polis e da Polícia Marítima, para impedir as notificações, o que motivou alguns momentos mais “quentes”, em que houve puxões e empurrões.

Ainda assim, a Polícia Marítima, através do comandante Pedro Palma, oficial responsável pela comunicação, nesta ação, considerou que tudo correu bem. «Ninguém se aleijou, está tudo bem. As tomadas de posse decorreram com normalidade», assegurou.

«Esta foi uma operação da Polis. A Polícia Marítima foi chamada para garantir a segurança quer dos elementos da Polis, quer da população local», enquadrou. No local, além dos 40 elementos da Polícia Marítima, também estiveram «uma enfermeira, um barco do ISN e outro da Cruz Vermelha».

Amanhã, quinta-feira, os técnicos da Polis voltam ao Farol para tomar posse administrativa das restantes casas a demolir e terão a acompanhá-los um contingente da Polícia Marítima «semelhante ao de hoje».

 

Veja as imagens da operação da Polis e da tensão que a rodeou:

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

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