Chama-se «Sabra», vem de Tavira, pode ser grande (75 cl), mas também pode ser pequena (33 cl). Na sua génese, tem um fruto pouco conhecido: o figo de pita, da variedade Opuntia ficus indica.
Depois do sucesso da «Moura», Ivânia Lourenço e Sebastião Afonso quiseram crescer e criar uma cerveja que também fosse inovadora. Sem nunca abandonar um denominador: o amor pelo Algarve e pelos produtos da região. Esta é a história da «Sabra», cuja receita é «especial».
A ideia de criar a nova cerveja nasceu “dentro de portas”. Em casa, este casal tinha uma piteira já centenária, que pertenceu à bisavó de Ivânia. Foi daí que ela teve o “clique” e pensou: «por que não experimentamos mais uma cerveja que nos carateriza como algarvios?».
Pensado… e feito. Para os primeiros lotes, feitos em 2015 e «que deram aproximadamente para 360 garrafas de 33 centilitros», os figos de pita utilizados foram «exclusivamente da nossa piteira», conta Sebastião Afonso. «É um fruto de que também gostamos imenso e que deu, logo, uma cerveja excelente», acrescenta, sorridente. Os primeiros a provar foram familiares e amigos, sendo que a aceitação «foi imediata».
A «aventura», como apelida Ivânia, estava a correr bem, portanto o casal decidiu reeditar a «Sabra». Assim, já sem utilizar os figos de pita da própria produção, Sebastião e Ivânia partiram à descoberta de matéria-prima pelo concelho de Tavira.
Como esta é uma planta, em muitos casos, espontânea, o casal bateu à porta de pessoas que tivessem figos de pita. «Pedimos se podíamos apanhar os frutos. Vamos a um quintal, a outro, temos uma senhora na Luz de Tavira, por exemplo. As pessoas normalmente não levantam problemas», conta, entre risos, Sebastião. Até porque, no final, este casal faz questão de «levar umas garrafas para agradecer».
De Israel a Tavira, numa garrafa
O nome da cerveja («Sabra») não surge por acaso. «Tentamos que as nossas ideias estejam sempre relacionados com a história ou a geografia do terreno», argumenta Sebastião.
Assim, depois da «Moura» encantada da Tavira, vem a «Sabra», cujo nome remonta aos israelitas. «Esta é a palavra que os israelitas chamam a esta variedade de pita que utilizamos. É um nome giro, sonoro e sugestivo», diz Ivânia.Com um à vontade caraterístico, Sebastião associa o nome à «ascendência inegável que, no Sul, há desses povos».
O facto de esta ser uma «cerveja sazonal», que começa a ser feita em Setembro, saindo em Novembro, não é visto como um problema por Ivânia e Sebastião.
Além do prazo de validade ser de cerca de um ano, o que dá alguma margem de vendas, há uma área que o casal aproveita… as prendas de Natal.«No ano passado, já tivemos pessoas que ofereceram a Sabra a outras como prenda. É algo em que queremos apostar», contam.
A «receita especial»
Se o segredo é a alma do negócio, Sebastião e Ivânia mantêm-na bem viva. À semelhança da ideia, inovadora, de criar a «Sabra», a receita também partiu deste casal tavirense. «Nós trabalhamos em conjunto. Eu [Sebastião] faço a parte mais manual, enquanto a Ivânia pensa nas receitas e nas ideias. Complementamo-nos», diz.
Desvendando um pouco «do segredo», Sebastião explica como é feita parte da receita. «Em primeiro lugar, usamos uma cerveja base. Isto é, agarramos num estilo de cerveja e criamos uma nossa, que não existia. Daí, adicionamos o fruto, as especiarias, as quantidades, até chegarmos à receita certa».
Na «Sabra», «o fruto é adicionado na fervura, o que torna o sabor diferente, mais a figo de pita». Nasce, assim, uma cerveja «que é rica não só pelas caraterísticas do fruto, mas pela maior quantidade de ingredientes, como os maltes base, os maltes de caramelo, que vão dar aroma e cor extra, ajudando na formação da espuma». Ivânia resume tudo numa frase: «dá uma cerveja mais encorpada».
E haverá o risco de imitações? O casal revela que sim, mas «igual, igual é impossível. Podem tentar chegar lá, mas não conseguem fazer a conjunção toda».
A verdade é que esta cerveja é um «sucesso». Quem o diz, de sorriso na cara, é o casal empreendedor tavirense. «Em vez de vendermos 100 garrafas, vendemos 10, mas os clientes são muito fiéis. Se gostam de Sabra, bebem-na sempre. 99% dos clientes são pessoas que vêm ao nosso encontro. Temos pessoas que já levaram a cerveja para Inglaterra, França ou Alemanha», diz Sebastião.
Até porque esta é «uma cerveja não para se beber, mas para se ir bebendo». O preço, que é de 8,5 euros, na venda ao público, para a garrafa de 75 cl, e de 3,5 euros para a de 33 cl, também não é encarado como sendo um problema. «A cerveja artesanal tem sempre um preço acima da média devido à pequena produção. Quem bebe, bebe poucas mas procura qualidade», diz Sebastião.
Bem: nem sempre é assim. Que o digam Ivânia e Sebastião. Recordando uma história antiga, Sebastião fala do seu cunhado, que é irlandês. «Um fã e assíduo consumidor da Moura», garante. «Normalmente, ele bebia quatro ou cinco Mouras», cuja percentagem de álcool é de 5,2%. «Um dia, bebeu a mesma quantidade… mas de Sabra», que tem 9% de gradação. Conclusão: «quase não chegou a casa», conta Sebastião, entre risos.
É na zona industrial de Tavira que se situam as instalações da empresa. O facto de o material de que dispõe ser pouco é algo que, no futuro, querem alterar. «A nossa política é sempre a de investir e reinvestir», dizem. «O nosso material, como é limitado, até faz eco no armazém», acrescenta Sebastião. O financiamento ao abrigo de programas como o CRESC Algarve 2020 é, neste sentido, também algo a explorar pelo casal.
Até porque, já este ano, algo poderá dar a conhecer ainda mais o trabalho de Ivânia e Sebastião. Jack Maxweel, que faz o programa «Booze Traveler» para o Travel Channel, «andava à procura de bebidas diferentes e encontrou-nos. Veio cá filmar», conta Sebastião. «É algo que vai passar no mundo inteiro. É excelente sentir este reconhecimento», acrescenta, convicto.
Por agora, mesmo ainda sem ter saído o programa, é possível experimentar a «Sabra», seja contactando o casal de Tavira, clicando aqui, seja nas lojas revendedoras que chegam até Lagos.
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