Aljezur e Monchique vão «Lavrar o Mar» para mostrar que não hibernam

Na tenda montada no recinto do Polidesportivo de Aljezur, haverá, ao centro, a cozinha onde os chefs trabalham e que […]

peepeat2Na tenda montada no recinto do Polidesportivo de Aljezur, haverá, ao centro, a cozinha onde os chefs trabalham e que roda sobre si mesma. À volta, estarão sentados os clientes, que, enquanto comem, espreitam os cozinheiros que vão aparecendo e desaparecendo, conforme a cozinha roda. Entre os momentos deste esconde-esconde, aparecerão também artistas, em pequenos sketches teatrais, que vão rodando neste carrossel culinário.

Da imaginação de Peter de Bie, encenador/cozinheiro, e a partir dos produtos locais – batata-doce, medronho, amendoim, mel, enchidos, peixe – , à mistura com ingredientes inesperados, sairão pratos com sabores, cores e cheiros que hão-de surpreender os comensais – 55 em cada noite.

Esta é, em resumo, a descrição do «Peep & Eat» (Espreita & Come), uma peça de teatro culinário que a companhia belga Laika apresenta nos dias 24, 25, 26 e 27 de Novembro, às 20h00, em Aljezur, marcando a abertura do projeto «Lavrar o Mar», que ontem à tarde foi apresentado no Palácio da Ajuda, em Lisboa.

Trata-se de um original projeto que, visando combater a sazonalidade turística na região algarvia com uma programação cultural regular entre os meses de Outubro e Maio, se integra no vasto programa «365 Algarve», comissariado por Dália Paulo.

Depois desta estreia em Aljezur, onde o «Peep & Eat» decorre a par do Festival da Batata-Doce, que tem lugar ali bem perto nos mesmos dias, este espetáculo que, literalmente, coloca a cultura no prato, segue depois para a Escola EB 2,3 de Monchique, onde se apresentará de 1 a 4 de Dezembro.

O projeto «Lavrar o Mar» que, nesta sua primeira safra, se prolonga até Maio do próximo ano, mas, que, na realidade, integra uma programação pensada até 2020, trabalha os territórios dos concelhos vizinhos de Aljezur e de Monchique.

«Queremos pôr aquele território em turbulência, numa altura em que está adormecido», explicou Madalena Victorino, que, com Giacomo Scalisi, dirige o projeto «Lavrar o Mar».

Lavrar o Mar
A comissária Dália Paulo na conferência de imprensa no Palácio da Ajuda, em Lisboa

Ou, como diria mais tarde o presidente da Câmara de Aljezur, também presente na conferência de imprensa, «passado o Verão, quando todos pensam que vamos hibernar, não é nada disso que vai acontecer» e aqueles dois concelhos enchem-se de espetáculos, artistas e criatividade.

Mas, mais do que levar cultura e artistas ao interior do Algarve, este projeto quer deixar a sua «impressão digital» no território, como explicou o fotógrafo João Mariano, cuja empresa de design 1000olhos, de Aljezur, criou o logotipo. «Criar algo que ficasse no território, que não fosse efémero, que perdurasse».

E a melhor forma de deixar essa «impressão digital» é envolver as populações, que serão muito mais que simples espectadoras. Madalena Victorino salientou que os vários momentos e atividades do «Lavrar o Mar» irão contar com uma «participação intensa e diversificada de quem vive e está em Aljezur e em Monchique».

No caso do «Peep & Eat», além dos produtores locais – destilarias, fábricas de enchidos, produtores de mel ou de medronho e batata-doce – onde Peter de Bie tem andado a descobrir os ingredientes para os seus pratos às vezes fantasiosos, o envolvimento da comunidade passa ainda, por exemplo, pela atriz que a produção descobriu em Aljezur ou pela cozinheira da Escola de Monchique, que está ansiosa por participar.

Essa «envolvência» também está presente na escolha que foi feita de partir das festas locais – agora o Festival da Batata-Doce, em Aljezur, mais tarde a passagem de ano, em Monchique – para criar um «projeto de arte contemporânea que se quer sedimentar neste território».

Giacomo Scalisi acrescentou: «em Aljezur e Monchique, não temos teatros, locais formais para acolher os espetáculos. Mas temos uma paisagem fantástica».

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O segundo momento importante deste festival «Lavrar o Mar» irá ocorrer entre 29 e 31 de Dezembro (21h00), em Monchique. Aqui, no heliporto da vila, será montada uma tenda, que irá albergar o espetáculo de novo circo «Maintenant ou Jamais» (Agora ou Nunca), da companhia francesa «Cheptel Aleïkoum, Circa Tsucia».

Música, trapézio, trampolim, bicicletas, humor indisciplinado serão os ingredientes principais deste espetáculo, pensado «para todo o público e para todas as famílias», como salientou Scalisi. Uma forma bem diferente de fazer a passagem de ano, na serra de Monchique.

Depois de começar com o espetáculo de teatro culinário «Peep & Eat», em Aljezur (24 a 27 de Novembro) e Monchique (1 a 4 de Dezembro), e o Novo Circo na passagem de ano, nesta última vila (29 a 31 de Dezembro), o projeto «Lavrar o Mar» tem um programa ambicioso até Maio.

Assim, entre Janeiro e Março vão realizar-se residências artísticas («O Homem e o Fruto», entre 15 de Janeiro e 15 de Março, em Monchique, e «Rastilhos, Caminhos de Água, Bazares e Pés Sem Terra» entre 29 de Janeiro e 29 de Março, em Aljezur) e o resultado será apresentado nos Encontros Artísticos, realizados «em estreita colaboração com as populações».

Para 17, 18 e 19 de Março, está marcado um fim de semana de «espetáculos-caminhada», «para ir no encalce do medronho em plena serra da Monchique», com visitas a destilarias que se transformarão em pequenos espaços teatrais.

O fim de semana «para caminhar por terras de Aljezur e descobrir os imaginários da dança, do novo circo, da música e do teatro» está marcado para 31 de Março e 1 e 2 de Abril.

E, finalmente, de 19 a 28 de Maio, os dois municípios irão receber o Festival Internacional de Artes Performativas.

Os dois autarcas de Aljezur e Monchique, José Amarelinho e Rui André, também presentes na conferência de imprensa de apresentação do projeto «Lavrar o Mar», no Palácio da Ajuda, em Lisboa, não esconderam a sua satisfação por verem prestes a concretizar-se, finalmente, um projeto que há muito acalentam e debatem com os seus criadores, Madalena Victorino e Giacomo Scalisi.

Rui André, presidente da Câmara de Monchique, destacou o facto de terem sido escolhidos «temas à volta dos produtos, para olharmos para eles como uma mais valia». É que, salientou o autarca, «por trás dos produtos está uma história, uma cultura riquíssima que tem que ser valorizada quando vendemos o produto».

Mas o festival «Lavrar o Mar» é também importante para as próprias pessoas que, defendeu, passam a «olhar os territórios não apenas como um sítio para sobreviver – comer, dormir – mas para viver, de uma forma mais participada, onde são parte ativa».

Por seu lado, José Amarelinho, presidente da Câmara de Aljezur, sublinhou que o casal de criadores Madalena Victorino e Giacomo Scalisi já são «aljezurenses», uma vez que a sua cooperativa artística Casanostra está sediada no concelho.

Mas destacou também a importância da «intermunicipalidade», que juntou dois concelhos vizinhos num só projeto. «Lavrar o mar vai possibilitar que a Serra de Monchique abrace o mar de Aljezur», disse.

O programa 365 Algarve, que integra mais de mil atividades culturais um pouco por toda a região, desde 1 de Outubro passado a 31 de Maio do próximo ano, destina-se a ajudar a combater a sazonalidade do turismo algarvio, resultando «de um casamento muitas vezes ambicionado e muitas vezes adiado entre Turismo e Cultura», como diria João Fernandes, vice-presidente do Turismo do Algarve.

Miguel Honrado, secretário de Estado da Cultura, concluiu a longa conferência de imprensa salientando que «quando se fala de desenvolvimento cultural dos territórios, fala-se de pôr em relação, um aspeto que é emblemático e eloquente no 365 Algarve e no Lavrar o Mar».

Em relação a este último, Miguel Honrado sublinhou o facto de se tratar de «um projeto que não foi pensado para ser executado em um, dois, três anos, mas que contém em si próprio a exigência de ter um carácter estruturante».

O governante exortou ainda os seus promotores a «lavrar o mar até à linha do horizonte e chegar a uma identidade própria». «Chegaremos seguramente a resultados brilhantes», concluiu.

 

Peep & Eat

24 A 27 DE NOVEMBRO ~ 20H
Polidesportivo de Aljezur
inserido no Festival da Batata-Doce de Aljezur

1 A 4 DE DEZEMBRO ~ 20H
Escola EB 2,3 Monchique

DURAÇÃO: 1h50
M/12

BILHETES:
8€ Adultos
5€ Jovens entre os 12 e os 20 anos

 

Maintenant ou Jamais

29 A 31 DE DEZEMBRO ~ 21H
Heliporto de Monchique

DURAÇÃO: 1h45
M/6

BILHETES:
5€ Adultos
2,5€ crianças até aos 12 anos

Bilhetes para ambos os espetáculos disponíveis em www.bol.pt e pontos de venda aderentes
à venda no local a parte de uma hora antes do início do espetáculo
informações: [email protected]

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

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