Nuno Júdice: há uma «literatura que não puxa por nós, não nos muda em nada»

«Neste livro, tudo o que parece verdade é ficção, e tudo o que parece ficção é verdade». As palavras são […]

«Neste livro, tudo o que parece verdade é ficção, e tudo o que parece ficção é verdade». As palavras são de Nuno Júdice, o poeta, ensaísta e ficcionista, sobre o seu mais recente livro A Conspiração Cellamare.

Nuno Júdice foi, esta sexta-feira, ao fim da tarde, o convidado da segunda «Conversa Singular», que teve lugar na Casa Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, numa iniciativa do Instituto de Cultura Ibero-Atlântica (ICIA).

O autor, em conversa com João Ventura, presidente do ICIA, e com o público, explicou que «a procura do prazer e do divertimento é visível neste livro», que leva o leitor a percorrer os corredores do palácio Cellamare, em Nápoles, cruzando-se com muitos dos hóspedes ilustres que por lá passaram – Caravaggio, Sade e Goethe, entre outros – e com inúmeras pequenas histórias das suas vidas, no que se espera ser uma viagem literária e cultural pela Europa dos últimos três séculos, intercalada com episódios, uns reais e outros ficcionais, da vida do autor, inviabilizando a ideia de estarmos perante um romance histórico.

Nuno Júdice admitiu que este seu livro regressa «ao Eça e ao Camilo como modelo», marcando a «rejeição de uma certa literatura que está a ser feita agora, que esquece a nossa história literária e se concentra no tipo de literatura americana», baseada na lógica do best-seller. Essa é, reforçou, «uma literatura que não puxa por nós, que não nos muda em nada».

Da assistência, surgiu a pergunta: «quando está a escrever um romance, sente-se poeta?» E Nuno Júdice respondeu: «tento separar as duas coisas, mas as duas coisas estão muito ligadas.Desde sempre que escrevi ficção, desde sempre que escrevi poesia…»

Nuno Júdice nasceu na Mexilhoeira Grande, Algarve, em 1949. Formou-se em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa. É professor associado da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou.

Desempenhou as funções de Conselheiro Cultural e diretor do Instituto Camões, em Paris (entre 1997 e 2004). Dirigiu, até 1999, a revista Tabacaria da Casa Fernando Pessoa.

Em 2009, assumiu a direção da revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian.

É autor de uma vasta obra que abarca a poesia e a prosa. Tem recebido os mais importantes prémios literários, tanto em Portugal como no estrangeiro. Os mais recentes foram o Prémio Reina Sofia de Poesia Ibero-Americana (Madrid), Património Nacional e Universidade de Salamanca, em 2013, o Prémio de Poesia del Mundo Latino (Universidade de Aguascalientes, México) em 2014) e o Prémio Argana da Maison de la Poésie de Marrocos, já em 2015.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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