Terras sem Sombra promove olhar renovado sobre tradições musicais do Mediterrâneo

A igreja matriz de São João Baptista, em Moura, receberá no próximo sábado, 6 de Maio, às 21h30, uma notável […]

Laboratorio’600A igreja matriz de São João Baptista, em Moura, receberá no próximo sábado, 6 de Maio, às 21h30, uma notável evocação de tesouros musicais e religiosos da Itália Meridional. Sob o título O Canto do Sul de Itália: Sicília e Duas Calábrias (Séculos XVI-XVII), este concerto revela um património quase desconhecido, mas comum a Portugal e Itália, valorizando as afinidades da música siciliana e calabresa com a portuguesa.

A direção musical é de Franco Pavan, maestro e musicólogo que fez extensas pesquisas musicológicas em torno deste património comum a várias regiões da bacia mediterrânica.

O acento tónico na Europa do Sul é algo que entusiasma vivamente o diretor-geral do Festival Terras sem Sombra, José António Falcão: “temos um grande orgulho nesta ligação à música da Calábria e da Sicília, é uma grande honra poder receber entre nós artistas da superlativa categoria de Pino de Vittorio e Franco Pavan; quando «certa Europa» nos quer esmagar mediante uma normalização avassaladora, sem respeitar a nossa cultura, a arte é uma forma activas de resistência à máquina que tudo devora, em nome do euro e da normalização cultural e económica”.

Juan Ángel Vela del Campo, por seu turno, chama a atenção para o facto deste invulgar concerto, além de valorizar belíssimos textos da época barroca, plenos de espiritualidade e de amor à natureza e à vida, promover a recuperação de antigos instrumentos meridionais, cujo período áureo corresponde aos reportórios dos séculos XVI e XVII.

“A chitarra batente, o arquialaúde e a harpa acompanham as tarantelas e outras canções tradicionais de regiões meridionais de Itália, incluindo belas composições sacras, onde se veem correspondências subtis com a paisagem e os costumes do Alentejo”, defende o responsável artístico pelo Festival.
Não faltam, no património musical que irá ser apresentado em Moura, raridades de fulgurante beleza.

Como explica Francisco Pavan, “para a poesia em língua siciliana, este foi um tempo de extraordinário florescimento, que refletiu um nível de sensibilidade pouco usual”.

A Calábria é o fio condutor do encontro: “reunimos obras de invulgar interesse estético, focados numa música tradicional que hoje ainda mantém vasta popularidade, contrastando com a situação que se vive na Sicília, onde a tradição decaiu mais cedo”.

Do programa que se vai escutar, salienta: “tentámos apresentar uma breve visão de um maravilhoso conjunto de textos, aparentemente ilimitado”, assinalando que o repertório transporta consigo séculos de história assentes na tradição oral.

Igreja de São João Baptista - MouraLaboratorio’600 constitui uma referência incontornável no panorama internacional da música renascentista e barroca. Fundado e dirigido por Franco Pavan, é formado por artistas especializados nas pesquisas musicais em campos totalmente inexplorados.

Este ensemble, que se apresenta fundamentalmente como um dispositivo de instrumentos de cordas dedilhadas, traz ao Alentejo, pela primeira vez, duas intérpretes que triunfam nos palcos internacionais: Elisa La Marca e Flora Papadopoulos.

Figura primordial da cena europeia, o tenor Pino De Vittorio fará as honras da casa. Nascido em Taranto, já atuou nas mais prestigiadas salas do mundo.

É fundador da companhia teatral Pupi e Fresedde e teve a sua estreia na ópera, no Teatro San Carlo, de Nápoles, brilhando no Teatro La Fenice, de Veneza, e no Théâtre des Champs-Élyseés, de Paris.

Colabora regularmente com I Turchini, outra presença regular do Festival Terras sem Sombra (já atuaram em Odemira, este ano, e em Castro Verde, em 2014), com quem interpretou diversas óperas barrocas.

 

Biodiversidade – Terras Sem Sombra na Herdade da Contenda

Herdade da ContendaDomingo, de manhã, como é habitual, músicos, visitantes e comunidade local juntam-se para uma ação em prol da salvaguarda da biodiversidade.

Desta feita, o alvo será a Herdade da Contenda, na raia espanhola – uma das áreas naturais com mais altos índices de preservação do Alentejo.

O Festival Terras sem Sombra colabora, para a sua organização, com o Parque Natural do Vale do Guadiana (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas) e o Município de Moura.

A designação de Contenda remonta aos tempos da “Reconquista” cristã do Alentejo (século XIII). Esta herdade pertence à Câmara Municipal de Moura desde 1893, após a assinatura do Tratado de Madrid, que definiu a fronteira local.

Distinguiu-se, desde sempre, por ter elevada diversidade faunística; isto deriva não só do seu isolamento, mas também do contacto das espécies da Serra Morena com a planície alentejana.

Com 5270 hectares, é uma zona caracterizada pela abundância excecional de espécies da caça maior, mas possui um valor muito mais alargado para a conservação da natureza. Destacam-se, entre os valores existentes no seu habitat, a comunidade piscícola (incluindo a presença do raríssimo saramugo) e as aves (abutres, cegonha-preta, águias).

É, ainda, uma propriedade de usos associados à floresta, plasmados num Plano de Gestão Florestal.
Ao longo de um percurso pedestre, os participantes irão analisar a biodiversidade da Contenda nas suas múltiplas facetas, culminando nas margens da Ribeira do Murtigão. Irá fazer-se aqui a experimentação da técnica de remoção de espécies piscícolas não-nativas, no âmbito do projeto LIFE Saramugo – Conservação do Saramugo (Anaecypris hispanica), da Liga para a Protecção da Natureza.

Haverá ainda oportunidade para levantar o véu sobre as ruínas do convento de Nossa Senhora das Necessidades, na Tomina. Uma iniciativa rica, que desafia a união dos valores naturais, culturais e patrimoniais.

 

Terras Sem Sombra distinguido com o selo EFFE (União Europeia)

EFFE – Europe for Festivals, Festivals for EuropeO Festival Terras Sem Sombra foi distinguido com o selo “EFFE – Europe for Festivals, Festivals for Europe” para o biénio de 2015-2016.

Esta iniciativa tem o apoio da União Europeia e visa reconhecer festivais que demonstrem um profundo compromisso artístico, uma intima relação com as suas comunidades e uma forte perspetiva internacional.

“Queremos mostrar que a riqueza do interior se espelha não só nas gentes que ficam, mas também na capacidade de acolher gentilmente os outros e de potenciar a vinda de novos habitantes”, notou Sara Fonseca, diretora executiva do Terras sem Sombra.

E observa: “o Festival mexe com a economia regional, cria ebulição e desassossega positivamente as almas mais pacatas”. Uma árdua tarefa, que já se prolonga há mais de uma década pela mão de voluntários, merece agora o louvor internacional.

O júri distinguiu 761 festivais, de 31 países diferentes, entre os quais Portugal, num reconhecimento pela excelência e inovação.

Esta primeira geração de festivais portadores do selo de qualidade EFFE verá o seu trabalho promovido no site da plataforma, uma porta de entrada na Europa para festivais culturais de superlativa qualidade.

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