Misturar medicamentos e chás de plantas pode ser perigoso para a saúde

A combinação entre alguns medicamentos e a toma de um chá aparentemente inofensivo pode desencadear um problema de saúde muito […]

A combinação entre alguns medicamentos e a toma de um chá aparentemente inofensivo pode desencadear um problema de saúde muito grave.

Alertas à População Polimedicada é o enfoque da campanha do Observatório de Interações Planta-Medicamento (OIPM/FFUC) “Aprender Saúde entre as Plantas e os Medicamentos”.

Vários fatores contribuem para a polimedicação e para os acidentes causados por interações quer entre os medicamentos, quer planta ou alimento e medicamento. Os mais relevantes são a presença de várias doenças, o que é mais frequente no doente idoso.

Um fator de risco importante é a auto-medicação, em que, à prescrição médica, se associam os medicamentos de venda livre, e ainda, muitas vezes, se juntam produtos naturais de que se espera também uma ação terapêutica.

Os medicamentos para a hipertensão, a patologia articular, hipercolesterolémia, perturbações do sono e doença cardiovascular são os mais frequentes nesta polimendicação.

Um idoso toma em média sete medicamentos por dia e a polimedicação aumenta o risco de doença iatrogénica (reações adversas à medicação), estimando-se que o risco de reações adversas seja de 6% quando dois medicamentos são administrados simultaneamente.

Um fator de grande preocupação na auto-medicação é o facto de que, em média, 70 % das pessoas que tomam medicamentos ditos naturais não dizem ao médico que os estão a tomar.

O problema é que as pessoas pensam que o que é natural não faz mal, e não só não dizem nada ao médico, como ignoram que o “chá” que tomam diariamente pode ter interferências diretas com o medicamento prescrito pelo seu médico.

 

Exemplos de interações perigosas:

 

>>>> O efeito dos anti-hipertensores (medicamentos para baixar a pressão arterial) pode ser potenciado pela gingko ou pelo alho (quando consumido em grandes quantidades na alimentação, ou em suplementos).

Situação inversa pode acontecer: a sua atividade pode ser contrariada em casos de consumo de grandes quantidades de chá verde ou preto (da planta do chá Camellia sinensis) ao longo do dia, uma vez que este chá contém cafeína, que aumenta a pressão arterial. O mesmo pode acontecer com o ginseng asiático e o alcaçuz.

>>>> Por sua vez os efeitos dos medicamentos usados para controlar os níveis de açúcar na diabetes podem ser exacerbados se ao mesmo tempo se consumirem plantas como o aloé, goma de guar, psílio, sementes de linhaça, o ginseng americano, noni, mirtilos, bardana, sabugueiro, entre outros.

Daqui podem resultar episódios de hipoglicémias que geralmente se associam à medicação e nunca com produtos que estão a ser consumidos simultaneamente.

>>>> O efeito de medicamentos para baixar o colesterol (sinvastatina ou atorvastatina) pode ser diminuído pelo consumo continuado da erva de S. João ou da salvia, ou mesmo por elevada quantidade de sumo de laranja diariamente.

Pode contudo ocorrer uma maior permanência destes mesmos medicamentos no organismo devido ao consumo de outras plantas, tais como o ginseng, aloé, raiz dourada.

Esta situação pode resultar numa maior incidência de efeitos secundários e toxicidade associados ao medicamento, tal como a rabdomiólise e consequentes dores musculares.

>>>> A Gingko biloba pode ainda interagir com medicamento anticoagulantes (ex: varfarina), medicamentos antiagregantes plaquetares (ex. ácido acetilsalicílico), medicamentos anti- hipertensores (ex. nifedipina, nicardipina), antidepressivos (ex: trazodona), cardiotónicos (ex. digoxina), entre outros.

>>>> O Aloe vera pode também interagir com cardiotónicos (ex. digoxina), diuréticos tiazídicos, antiagregantes plaquetares (ex: ácido acetilsalicílico), anestésicos (ex. sevoflurano, desencadeando hemorragias dado que diminui a agregação plaquetar) e ainda com alguns antineoplásicos.

>>>> O chá verde pode interagir com anticoagulantes (ex. varfarina) e medicamentos usados no tratamento de cancro (ex. bortezomib).

 

Autor: António Piedade (através do Observatório de Interações Planta-Medicamento )
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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