Jovens estudantes mostraram o estado da Europa na final Euroscola em Estrasburgo

Perguntas fortes e respostas politicamente corretas, mas muito vagas. A sessão final do concurso Euroscola, que reuniu estudantes de escolas […]

Perguntas fortes e respostas politicamente corretas, mas muito vagas. A sessão final do concurso Euroscola, que reuniu estudantes de escolas secundárias de 21 países da União Europeia, entre as quais uma portuguesa, de Faro, no passado dia 11 de abril, no Parlamento Europeu (PE), em Estrasburgo, mostrou bem quais são as preocupações atuais dos jovens do velho continente.

Durante a manhã, numa sessão dedicada a perguntas, por parte dos 480 estudantes, e respostas, por parte de três altos funcionários do PE, as questões do emprego jovem, dos controversos resgates dos países em dificuldades, em especial da Grécia e de Chipre, da solidariedade (ou falta dela) dos países ricos do Norte em relação aos países pobres do Sul, estiveram em destaque.

A divisão Norte/Sul que parece ganhar cada vez mais força na UE esteve em evidência nas questões colocadas pelos alunos. Assim, enquanto uma aluna de Chipre perguntou «porque é que a Comissão Europeia deixou que se dividisse a UE em países do Norte e países do Sul», questão que foi muito aplaudida pelo plenário de estudantes no hemiciclo do PE, uma outra estudante, do Reino Unido, estava mais interessada em saber «como evitar que os países que, no futuro, vierem a aderir à UE, caiam nos problemas de Portugal e da Grécia».

«Isto espelha bem o que pensam estes jovens sobre as questões europeias e, no fundo, espelha bem o que pensam os seus países», sublinhou, num comentário ao Sul Informação, o professor Fernando Gomes, que, com a professora Anabella Vaz, era corresponsável pelo grupo de 24 alunos do 11º e 12º anos da Escola Secundária João de Deus, de Faro, que representou Portugal na final do Euroscola.

Mas os jovens não se davam vencidos pelas respostas vagas que iam recebendo e insistiam: «Qual a posição do Parlamento Europeu sobre a situação económica de Portugal?», interrogou o algarvio Gonçalo Santos. «As medidas que estão a ser tomadas em Chipre não são humanas. Como torná-las mais humanas?», voltou à carga outra aluna cipriota. A resposta? «Cada país tem alguma responsabilidade pela situação em que se encontra»…

Um outro estudante grego questionou: «Com tudo o que se está a passar na Europa, não receiam que a UE sofra uma crise democrática?». Resposta de Evangelos Gintersos, grego e alto funcionário do PE que conduz sempre os trabalhos do Euroscola: «a vossa pergunta merecia ser discutida com mais tempo. Mas a Europa não irá sofrer essa crise democrática se vocês não quiserem. Não há outra região do mundo que tenha as práticas democráticas que a Europa tem».

 

Como posso trabalhar no Parlamento Europeu?

Mostrando o lado bem prático dos portugueses, Sérgio Correia, que fora o porta-voz da Secundária farense na apresentação inicial de cada uma das escolas feita por um aluno de cada país, perguntou: «Se quisermos uma carreira no Parlamento Europeu, qual a melhor maneira de o conseguir?»

Talvez porque esta era a pergunta que muitos gostariam de ter feito e não se atreviam, Sérgio recebeu a primeira grande ovação da manhã.

Mais uma vez foi Evangelos Gintersos a responder, depois de agradecer a «questão ambiciosa». O PE precisa «de gente expert em todos os níveis da sociedade, não há limitações para isso», disse, para acrescentar que «todos os que trabalham aqui passaram nos concursos europeus, que têm lugar todos os anos». Condição fundamental é «falar duas outras línguas, para além da língua pátria».

E, já que se falava do trabalho do PE e da necessidade de os países serem rigorosos nas suas contas e terem cuidado com os gastos, uma aluna da Holanda quis saber «porque razão o Parlamento Europeu está sempre a mudar-se entre Bruxelas e Estrasburgo, já que isso custa muito dinheiro». «É uma solução pragmática», respondeu Evangelos Gintersos.

 

Propostas mais ou menos controversas

Estudantes portugueses - os rapazes - e estudantes do Reino Unido, Espanha e Eslovénia no grupo de trabalho de um Comité

À tarde, depois do almoço no próprio Parlamento Europeu, os alunos dividiram-se pelos sete grupos temáticos de trabalho, os comités, dos quais, ao fim da tarde, de volta ao hemiciclo, sairiam propostas para serem votadas pelos jovens “deputados” europeus.

Os temas eram : Ambiente e Energias Renováveis, 2013 Ano Europeu dos Cidadãos, Futuro da Europa, Liberdade de Informação e Cultura de Cidadania, Política Agrícola e Migrações e Integração.

Cada comité tinha pelo menos um representante de cada país participante na sessão Euroscola, de modo a garantir a sua máxima transnacionalidade. Embora houvesse outras línguas permitidas, o inglês acabou por ser, na generalidade, a língua franca utilizada, com os jovens portugueses a darem cartas na sua facilidade de expressão num idioma que não é o seu.

Ao mesmo tempo, numa outra sala, os professores de todos os países reuniam-se para debater os seus problemas e as possibilidades de trabalho em conjunto entre escolas de países tão diversos da Europa.

Estudantes da ESJD de Faro no hemiciclo do Parlamento Europeu

Do trabalho dos comités constituídos pelos estudantes, saíram propostas que foram votadas no hemiciclo do PE, com os jovens a experimentarem entusiasmados o sistema de voto eletrónico, mais ou menos secreto (secreto porque o dedo que pressiona o botão do «sim», «não» ou «abstenção» fica escondido, menos secreto porque, nos dois ecrãs gigantes do hemiciclo, aparece depois um mapa colorido, com os lugares de cada deputado, indicando quem votou em quê…).

Do comité que se debruçou sobre os temas de Ambiente, surgiu a proposta de promover maior reciclagem na Europa e de apoiar os veículos elétricos, que foi aprovada com 325 votos a favor, 48 contra e 65 abstenções.

Mais controversa foi a proposta do comité que discutiu a Migração, que sugeriu que todos os países da UE imponham limites à imigração. A proposta, curiosamente, foi defendida no hemiciclo pela porta voz desse comité, uma estudante inglesa de origem africana, e sofreu muitas críticas dos restantes jovens “deputados”. Acabou por ser aprovada por escassa margem.

Final do Eurogame - Mónica é a moreninha da equipa azul

Ainda antes de terminar a longa jornada de trabalho, houve a final do jogo Eurogame, na qual grupos constituídos por quatro alunos, um de cada nacionalidade, respondiam a perguntas de cultura geral sobre a Europa.

A final foi disputada pelas quatro melhores equipas e numa delas integrava-se a jovem farense Mónica Prudêncio. Música, geografia, história, cinema foram alguns dos temas das questões colocadas neste quizz final. A equipa azul da Mónica acabou por ficar em 2º lugar, traída apenas por uma equipa referente a música.

 

«Estejam orgulhosos de ser europeus!»

Na sessão final, Evangelos Gintersos salientou: «hoje participaram na Democracia europeia». A Europa, acrescentou, é mesmo isto – «opiniões diferentes, ideias diferentes, línguas diferentes, culturas diferentes».

«Como fazer para nos compreendermos uns aos outros?», interrogou. «Estejam orgulhosos de ser europeus! É a vossa própria Europa. É o vosso futuro!», concluiu.

Estudantes da ESJD de Faro no Parlamento Europeu

Sérgio Correia, do 12º ano de Línguas e Humanidades da ES João de Deus, de Faro, que quer seguir Direito, porta voz do seu estabelecimento de ensino no hemiciclo do Euroscola, em jeito de conclusão, disse que a sessão foi «muito produtiva. Recebi uma grande quantidade de informações que me fez pensar em coisas diferentes. Havia assuntos sobre os quais antes opinava, mas que agora vejo de forma diferente. Quando as coisas nos são explicadas pelos peritos, ficamos com uma visão diferente».

Quanto ao ambiente que se viveu nesta verdadeira torre de Babel europeia, Sérgio estava radiante: «não estava à espera de começar logo com contactos tão próximos. Foi um ambiente muito bom, com toda a gente a partilhar ideias e opiniões, pessoas de países com os quais temos pouco contacto, tudo muito à vontade».

No seu grupo de trabalho/comité, o das Migrações, o tal de onde surgiu a polémica proposta de os países limitarem a imigração, Sérgio recorda que houve «divergências de opinião», mas que se «conseguiu chegar a um consenso». Mais que não fosse, frisou o jovem estudante algarvio, «este confronto de ideias serviu para treinar a nossa argumentação, para estruturar melhor as nossas ideias de modo a poder apresentá-las e defendê-las». Foi, afinal, «uma experiência única».

 

Alunos da ES João de Deus por grupos de trabalho:

 

Kristina Shaparova, Andreia Coelho, Diogo Dias e Pedro Fernandes durante os trabalhos no seu comité (fila de trás)

Ambiente e Energias Renováveis:
Diogo Dias
Adriana Carmo
Beatriz Mestre
Jéssica Gonçalves

2013 Ano Europeu dos Cidadãos:
Diogo Dias
Andreia Coelho
Pedro Fernandes
Kristina Shaparova

Futuro da Europa:
Mariana Maia
Ricardo Grelha
Mariana Simões
Julieta Rodrigues

Liberdade de Informação e Cultura de Cidadania:
João Viegas
Gonçalo Santos
João Jacob
Adriano Bom

 

Mónica Prudêncio e Inês Rodrigues, nos trabalhos da sua comissão

Política Agrícola:
Ana Correia
Inês Rodrigues
Inês Gonçalves
Mónica Prudêncio

Migrações e Integração:
Sofia Coutinho
David Palma
Sérgio Correia
Sofia Cruz

 

Países presentes:

 

Bulgária – Escola Secundária Otets Paisiy, de Madam

República Checa – Gymnázium Stribro, de Stribro

Dinamarca – Escola Himmerlandscentrets Idraetsefterskole, de Haverslev, Norager

Mariana Maia, Ricardo Grelha, Mariana Simões e Julieta Rodrigues nos trabalhos da sua comissão

Alemanha – Heilig-Geist-Gymnasium Würselen, de Würselen

Estónia – Tartu Tamme Gümnaasium, de Tartu

Grécia – Département de Anat. Makedonia & Thraki

Espanha – IES S.Pedro da Guia, de Camariñas (A Coruña)

França – Externat Saint Michel, Lycée Général, Saint Etienne

Itália – Istituto Tecnico Isdustriale Statale, Gela

Chipre – Lakatamia Lyceum, Lakatamia

Lituânia – Rigas Kulturu Vidusskola, Riga

Hungria – Nemes Nagy Ágnes Muvészeti Szakkösépiskola, Budapeste

Holanda – Jan van Brabant College, Helmond

Áustria – BHAK, Bruck/Mur

Sofia Coutinho, David Palma e Sofia Cruz na sua comissão

Polónia – Sespól Szkól Elektrycznych IM. Tadeusza Kosciuszki, Opole

Portugal – Escola Secundária João de deus, Faro

Roménia – Liceul Pedagogic Mircea Scarlat, Alexandria

Eslovénia – Gimnazija Maribor, Maribor

Finlândia – Jalasjärver Lukio, Jalasjärvi

Suécia – Kaplanskolan, Skelleftea

Reino Unido – High School, Lewisham

 

 

O que é o Euroscola?

 

Vinte vezes por ano, o Parlamento Europeu organiza, no hemiciclo de Estrasburgo, um encontro com a duração de um dia de estudantes de escolas secundárias de todos os países da União Europeia (UE). O mais recente destes encontros decorreu no dia 11 de abril.

Selecionados pelos EPIO (Gabinetes de Informação do Parlamento Europeu) em cada capital nacional, seja através de competições, seja com base nos seus CV, centenas de estudantes de escolas secundárias encontram-se e simulam uma sessão parlamentar, incluindo trabalho em comités e em plenário.

Os grupos de estudantes, que foram preparados antes com os seus professores, são subdivididos em grupos de trabalho transnacionais e é-lhes atribuído quer o papel de grupos «observadores» ou de «proponentes».

Além disso, uma web streaming da sessão é transmitida no website do Parlamento Europeu, pelo que é possível seguir online a sessão Euroscola.

Os objetivos deste programa são múltiplos e todos têm a finalidade de sensibilizar os futuros jovens eleitores para o trabalho do Parlamento Europeu. Em primeiro lugar, deve fazer os participantes perceber a importância da participação política para que a Democracia seja uma realidade viva.

Sessão de encerramento do Euroscola, com as bandeiras de todos os países participantes

Em segundo lugar, o programa deve permitir aos jovens expressarem livremente os seus pontos de vista, esperanças e expectativas em relação à Europa.

Em terceiro lugar, deve também permitir aos participantes perceber «os outros» na sua diversidade.

Finalmente, Euroscola é um lugar de intercâmbio amigável, onde estudantes e escolas de todas as nacionalidades se encontram e estabelecem relações frutuosas e fraternas.

Alguns grupos de estudantes, como foi o caso da Escola Secundária João de Deus, de Faro, são acompanhados por um jornalista, que, depois de regressar ao seu país, pode contribuir para divulgar a informação relevante para os jovens europeus.

 

Como surgiu o Euroscola?

Euroscola começou em 1989 por iniciativa do Gabinete de Informação do Parlamento Europeu baseado em Estrasburgo. As primeiras edições tiveram a participação de cerca de 17 a 18 escolas dos 12 países que então faziam para da União Europeia.

O professor Fernando Gomes e a professora Anabella Vaz, líder do grupo da ES João de Deus que participou na final do Euroscola

Atualmente, o Gabinete de Informação organiza cerca de 20 sessões por ano, envolvendo uma média de 20 escolas por sessão (400 escolas no total) e 10 mil estudantes por ano.

Desde 2008, duas sessões por legislatura são dedicadas ao EuroMedScola, com a participação de estudantes dos países mediterrânicos.

 

 

Nota: O Sul Informação viajou para Estrasburgo a convite da Escola Secundária João de Deus, de Faro, e do Parlamento Europeu

 

Daqui a pouco, colocaremos no Facebook uma galeria de fotografias sobre a participação dos jovens estudantes farenses na final do Euroscola, em Estrasburgo. Mantenha-se atento/a!

 

 

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