Visita de Óscar Carmona ao Algarve em fevereiro de 1932: jantar de gala em Faro e visita a Olhão (V)

O primeiro dia da visita do General Carmona ao Algarve, 15 de Fevereiro de 1932, culminou com um banquete de […]

O primeiro dia da visita do General Carmona ao Algarve, 15 de Fevereiro de 1932, culminou com um banquete de gala, oferecido pelos municípios algarvios, no salão nobre da Câmara Municipal de Faro, ao qual assistiram 200 pessoas.

A sala achava-se vistosamente iluminada, tendo a mesa de honra sido ocupada ao centro pelo chefe de Estado, o qual tinha à sua direita o presidente do Ministério, ministro do Comércio e bispo, e à sua esquerda, o ministro da Justiça, o governador civil e o comandante militar de Faro. Em frente encontrava-se o presidente da Câmara de Faro, ladeado pelos ministros da Guerra e da Marinha, entre outras personalidades.

Noutros lugares de honra sentavam-se ainda o comandante do Departamento, Eng. Poole da Costa, Ribeiro Castanho, os quatro operários condecorados, representantes de todas as Câmaras da região e de vários organismos económicos do Algarve.

Segundo o jornal “O Século”, “à entrada do Chefe de Estado foi executada a «Portuguesa» pela orquestra que durante o banquete realizou um concerto, que foi irradiado pela T.S.F. (…) Na escadaria do edifício foi feita a guarda de honra pelos Bombeiros Voluntários de Faro”.

Os discursos principiaram por Mário Lyster Franco, presidente da autarquia farense, que agradeceu em nome do Algarve a visita, brindando depois “pelas prosperidades pessoais do Chefe de Estado, pela Ditadura, pela Pátria e pela República”.

Seguiu-se o governador civil, o qual salientou que “a inauguração da ponte do ribeiro Roxo trouxe aos algarvios o fim do isolamento ao resto do país, mantido através de muitos anos e mercê da política que tem presidido aos destinos da Nação até o advento da Ditadura”.

Fruto dos tempos, teceu ainda algumas considerações acerca do Estado Novo, “porque ele deve ser a aspiração de todos os portugueses a favor da pacificação da família nacional, mas que só deve ser feito quando se conseguir que a ordem esteja estritamente assegurada”.

O seu discurso foi finalizado com uma “saudação aos membros do governo ausentes, especializando o Sr. Dr. Oliveira Salazar [ministro das Finanças] (grande ovação), de quem fez os maiores elogios, apontando as suas qualidades de estadista. Rematou com um «viva» a Portugal livre e independente”.

Sucedeu-lhe o presidente da comissão distrital da União Nacional, Ramalho Ortigão, que fez um diagnóstico da região, referindo que “o Algarve está doente, o comércio empobrecido, a indústria arruinada, a agricultura vegetando”, acrescentando depois as importantes obras da Ditadura e finalizando a declamar “os últimos versos de um soneto do grande poeta Cândido Guerreiro”.

Por fim discursou o chefe de Estado, tendo o “Diário de Notícias” registado o momento: “O sr. Presidente da República, como sempre, disse com toda a simplicidade o que sentia, apenas exprimindo a sua gratidão à província do Algarve, da qual tem belas recordações e onde esteve comandando a 4ª região militar. (…) sentia-se tanto mais feliz por ter vindo ligar o sul ao norte, inaugurando a ponte de Aljustrel. Teve comoção e satisfação por sentir a felicidade do povo da região”.

Ao longo do discurso afirmou ainda “ser preciso o concurso de todos os portugueses para fazer o Estado Novo, estando convencido que marchamos por caminho seguro para conseguir patrióticos fins”.

Terminando, após vários agradecimentos às diferentes entidades ali presentes, por “brindar às felicidades do Algarve e da cidade de Faro”.

Ecoaram então pela sala “Vivas entusiásticos que abafaram as últimas palavras do Chefe de Estado”.

O banquete terminou com saudações calorosas, tendo a orquestra executado «A Portuguesa».

Os ilustres visitantes dirigiram-se então para o Club Farense, onde se realizou um baile em sua honra, findo o qual “foram a pé para a sua residência tendo sido muito aclamados pelo povo durante esse trajecto”.

Nessa noite foi ainda queimado na doca “um deslumbrante fogo-de-artifício”, preparado por pirotécnicos algarvios e do norte, o qual “foi admirado por enorme multidão, que enchia as ruas da cidade”.

Recorde-se que na Praça D. Francisco Gomes atuavam quatro bandas de música e que a cidade estava festivamente engalanada e iluminada.

Na manhã seguinte e com o objetivo de visitar as obras da barra, o presidente embarcou na canhoneira «Limpopo» no cais de Faro.

No navio encontravam-se todas as autoridades civis e militares, administradores do concelho do distrito, alunos e professores da Escola Industrial Tomás Cabreira, Liceu e muito povo.

Segundo “O Século”, quando o “Chefe de Estado entrou no escaler que o conduziu para bordo daquele vaso de guerra os navios ali ancorados [canhoneira «Raúl Cascais» e rebocador «Lidador»] salvaram [com 21 tiros] e as respectivas tripulações deram os «vivas» regulamentares”.

A flotilha levantou então âncora em direção a Olhão e segundo o DN, “durante a encantadora viagem desfrutou-se um deslumbrante aspecto da costa algarvia, cuja beleza o lindo dia mais realçou”.

Próximo de Olhão, aguardavam os ilustres visitantes “vários cercos de pesca daquela vila embandeirados em arco, vendo-se a bordo muitos homens e mulheres que faziam uma entusiástica manifestação. As sereias apitavam festivamente”.

Em frente da barra foi o presidente e demais ministros informados do estado das obras pelos engenheiros Poole da Costa e Abecassis. O chefe de Estado durante a viagem “declarou-se muito sensibilizado pela recepção e encantado com o lindo aspecto da ria, coalhada de barcos multicolores e engalanados”.

No cais de Olhão, segundo “O Século”, “a multidão era compacta e, quando a flotilha fundeou, as sereias dos vapores apitaram demoradamente, o mesmo tendo feito as fábricas da vila. Os visitantes desembarcaram no meio de todo aquele ruído, agora aumentado pela salva de continência dada pela «Limpopo»”.

No cais era o presidente aguardado pelas autoridades civis, militares, bombeiros, crianças das escolas, coletividades e outras entidades, produzindo-se “no momento do desembarque uma estrondosa manifestação. Os foguetes e os morteiros troavam constantemente e os sinos das igrejas repicavam. O menino Hélder Cavaco Azevedo ofereceu ao Chefe do Estado um ramo de flores, em nome dos seus condiscípulos da escola de Brancanes, os quais lançaram muitas pétalas à passagem do cortejo presidencial”.

Olhão oferecia uma “vista surpreendente com o cais e a vila embandeirados”. “Desde o cais até ao ponto oposto da vila, os automóveis passearam sobre um verdadeiro tapete de flores e por entre alas de povo, que soltava «vivas». Das janelas, pendiam colchas e as senhoras davam palmas e lançavam flores. O cortejo de carros avançava dificilmente e só passados longos minutos logrou alcançar a estrada para Tavira”.

Na Praça João Lúcio, o chefe de Estado, “despedindo-se das autoridades oficiais da República, abraçou o sr.dr. Mário Lyster Franco e outras autoridades”.

A viagem decorria agora em direção a Tavira, tendo na Luz o povo aclamado os visitantes. Pelas 12h30 a comitiva presidencial entrava na Veneza algarvia.

(Continua)

 

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Aurélio Nuno Cabrita

Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de história local e regional

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