Esta estrada não é para carros (velhos ou novos)

Buracos, buracos e mais buracos. Descrever o troço da EN125, entre Cacela e a Praia Verde, no Sotavento algarvio, é […]

À entrada de Altura

Buracos, buracos e mais buracos. Descrever o troço da EN125, entre Cacela e a Praia Verde, no Sotavento algarvio, é fácil. A população está «indignada» com o estado da estrada e até já foi criado um movimento de cidadãos, que conta com o apoio das Câmaras Municipais de Castro Marim e Vila Real de Santo António. Só que as prometidas obras, essas, ainda não têm data prevista de arranque. 

O Sul Informação fez-se à estrada e percorreu (penosos) quilómetros na EN125 para se inteirar do estado do piso. As zonas mais críticas são junto ao cruzamento para Cacela Velha, na ponte de Cacela, na interseção da Retur, bem como na zona da Praia Verde e em Altura. Em todos os locais, os buracos acumulam-se e é perigoso circular.

Até há quem, para evitar os buracos, se encoste, de forma perigosa, à faixa de rodagem contrária, como o nosso jornal constatou no local.

Mas a verdade é que, em Janeiro de 2017, Pedro Marques, ministro do Planeamento e Infraestruturas, deslocou-se ao Algarve para anunciar que as primeiras obras de requalificação da EN125, no troço entre Olhão e Vila Real de Santo António, arrancariam… no terceiro trimestre daquele ano.

Um dos (muitos) buracos

Já em 2018, Jorge Botelho, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, em entrevista ao Sul Informação, dava conta de que as obras (talvez) começassem em Outubro, Novembro ou Dezembro deste ano.

Hugo Pena apelida este adiamento constante de «inércia». Instrutor de condução, é um dos rostos do Movimento de Cidadania dos Utentes da EN125-Sotavento, criado há dois meses, e que exige medidas urgentes no processo de requalificação daquela estrada no troço entre Olhão e Vila Real de Santo António.

«Os constrangimentos, em termos de segurança rodoviária, são muitos. Para nos desviarmos de um buraco, metemo-nos em dois. Os próprios peões não têm segurança. Dá-se o caso de haver supressão de bermas e os peões serem obrigados a transitar dentro da faixa de rodagem», explicou, em conversa com o Sul Informação. 

Fonte da Infraestruturas de Portugal, contactada pelo nosso jornal, referiu que «enquanto o novo contrato de subconcessão não for negociado», não haverá obras. E quando será então a renegociação? «Ainda não há nenhuma previsão», explicou a mesma fonte.

«Sentimos uma grande indignação e desrespeito por quem tem competência. Em dois meses, temos a certeza de que fizemos mais pela divulgação das necessidades de requalificação da EN125 do que os sucessivos Governos e entidades competentes durante décadas», considerou, por sua vez, Hugo Pena.

A luta deste movimento parece ter ganho mais força no passado sábado, 24 de Março, devido a um encontro com Conceição Cabrita, presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, e Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim.

Na ocasião, foi formalizada uma parceria das duas autarquias com o Movimento, pedindo a requalificação da EN125. Algumas das ações a realizarem-se passam pela marcação de audições com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, com o presidente do Tribunal de Contas e com o Presidente da República.

Conceição Cabrita, presidente da Câmara de VRSA, não poupa palavras nas críticas que faz. «Qualquer morte que se venha a registar neste troço será da exclusiva culpa da Infraestruturas de Portugal e do Governo», disse.

Hugo Pena, junto a um buraco de mais de 30 centímetros, tapado, à pressa, pela Infraestruturas de Portugal

«A situação tornou-se insustentável e a circulação na estrada já é praticamente impossível. Não toleramos ser tratados como algarvios de segunda e exigimos que a EN125 seja requalificada entre Tavira e Vila Real de Santo António, tal como o foi no resto do Algarve», acrescentou.

Francisco Amaral também é duro nas críticas. «O estado em que esta zona da EN125 se encontra deve envergonhar qualquer Governo, já que assistimos a uma preocupante falta de segurança num troço que está em condições deploráveis. Queremos captar um turismo de qualidade, mas parece que estamos no terceiro mundo», notou.

O que tem sido feito nos últimos tempos, em termos de obras, têm sido apenas alguns remendos. Na semana passada, circulou, pelas redes sociais, um vídeo que dava conta dessas pequenas intervenções feitas pela IP. Uma delas foi, por exemplo, num grande buraco na zona de Cacela, com mais de 15 centímetros de profundidade.

«Muitas vezes tiram areia das bermas, colocam nos buracos e tapam com um pouco de alcatrão. É estar a tapar o sol com a peneira», conclui Hugo Pena.

As próximas ações deste Movimento serão a entrega de uma petição pública, com mais de cinco mil assinaturas, na Assembleia da República, uma marcha lenta e a colocação de um conjunto de cartazes a alertar para o mau estado da via.

 

Fotos: Fabiana Saboya | Sul Informação

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